«Quanto mais raras as doenças, mais importante é fazermos registos clínicos»
Esta foi uma das reflexões proferidas por João Araújo Correia, presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) à Just News no seguimento da sua participação na 3.ª Cimeira SEMI/SPMI, realizada nos últimos dias.
O modelo de atuação da especialidade defendido pelas duas sociedades, a articulação dos seus grupos de trabalho e a recertificação dos internistas foram alguns dos temas em discussão.
Reconhecendo que já existe alguma “cooperação e interoperabilidade” entre os núcleos de estudo da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) e os grupos de trabalho da Sociedade Espanhola de Medicina Interna (SEMI), nomeadamente a nível da diabetes e dos cuidados paliativos, João Araújo Correia, presidente da SPMI e diretor do Serviço de MI do Centro Hospitalar Universitário do Porto (CHUP), destaca que as duas entendem que “é fundamental ganhar escala”.
O registo clínico ibérico de patologias é uma das formas que identificam para conquistar uma maior abrangência e se o tromboembolismo venoso é uma das patologias cujo registo já foi iniciado, “é preciso evoluir nas doenças autoimunes, como a esclerodermia, o lúpus ou a polimiosite, e nas doenças metabólicas”. No seu entender, “quanto mais raras forem as doenças, mais importante é fazermos registos clínicos para aumentarmos a amostra e podermos fazer Ciência”.
João Araújo Correia identifica a SPMI e a SEMI como “sociedades irmãs por defenderem um modelo em que a MI tem um forte cunho generalista, permitindo-lhe ter a plasticidade necessária para poder enfrentar desde o Serviço de Urgência aos Cuidados Paliativos, passando pelas enfermarias de doentes agudos e crónicos”. O envelhecimento da população e a multimorbilidade são fatores que considera favorecerem este modelo em que “um único médico consegue gerir todo um doente que, cada vez mais, sofre de várias patologias”.
Elucidando tratar-se de uma visão comum ao sul da Europa, nomeadamente de Portugal e Espanha, que é partilhada com alguns colegas da América do Sul, o diretor da SPMI distingue que, pelo contrário, os países do norte da Europa têm seguido um modelo semelhante ao dos Estados Unidos da América, em que “os internistas atuam como subespecialistas”.
João Araújo Correia
O diretor do Serviço de MI do CHUP admite estar a existir “um crescimento e uma afirmação” do modelo que as duas sociedades defendem e que “um dos passos importantes foi a recente eleição de Ricardo Gomez Huelgas, ex presidente da SEMI, para presidente eleito da Federação Europeia de Medicina Interna, com o apoio da SPMI”.
A certificação dos internistas foi outro tópico em debate nesta cimeira, e enquanto João Araújo refere que em Portugal “há um caminho no sentido da certificação de áreas específicas”, até agora nas da Medicina de Urgência, Medicina Obstétrica, Diabetes e Doença VIH, em Espanha “caminham em direção a uma certificação nacional, dado que no final do internato, o interno é apenas graduado como especialista pelo hospital que o formou”.
As duas sociedades, no entanto, concordam que “sendo o conhecimento científico e a velocidade cada vez maiores, os especialistas devem ter uma recertificação por um período de tempo”.
Após um interregno, em 2020, a 3.ª Cimeira SEMI/SPMI aconteceu nos dias 11 e 12 de junho, no Porto, sendo certo que a próxima irá decorrer no próximo ano, em Espanha. “É uma forte certeza das duas sociedades que vamos continuar a fazer estas cimeiras, que são tão importantes”, sublinha.