Cepheid Talks

Psiquiatria: Direitos das pessoas com patologias mais graves «devem ser respeitados»

Realiza-se, nos dias 10 e 12 de novembro, em Vilamoura, o XII Congresso Nacional de Psiquiatria, com o tema “Ideologia e Ciência em Psiquiatria”. Em entrevista à Just News, Maria Luísa Figueira, que será a presidente do evento, falou sobre os temas que estarão em discussão e deu a sua opinião sobre os problemas que enfrenta a Psiquiatria atual.

Para a professora catedrática jubilada de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) e ex-diretora do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Santa Maria, CHLN, uma das maiores preocupações prende-se com o tratamento e reabilitação das patologias psiquiátricas mais graves, como as psicoses, que atingem as funções cognitivas.

“As patologias psiquiátricas mais graves podem tornar as pessoas muito vulneráveis e reduzir a sua autonomia e a sua capacidade de decisão”, adverte Maria Luísa Figueira.

Na sua opinião, estas pessoas “têm a consciência do mundo e de si próprias muito alterada e ficam dependentes de decisões clínicas e de tratamento, não tendo capacidade para dar o seu consentimento informado, o que pode conduzir a que fiquem profundamente afetadas na sua dignidade humana se a sociedade não estiver organizada para as proteger".



De acordo com a psiquiatra, estes doentes não devem ser objeto de investigação científica (por exemplo, sujeitos a tratamentos experimentais) sem um consentimento informado do seu representante legal. Os seus direitos “devem ser respeitados e o tratamento deve ser planeado de acordo com as boas práticas clínicas e requisitos éticos.”

Outro dos problemas atuais é que, apesar do avanço terapêutico, segundo Maria Luísa Figueira, ainda não existem dados científicos para uma explicação causal das doenças psiquiátricas, sendo que os tratamentos medicamentosos visam uma redução dos sintomas e um controlo dos mesmos. No entanto, sublinha, “não estamos a atuar nos mecanismos causais das doenças a nível biológico”.

A médica acrescenta que um desafio decorrente deste é a necessidade de tratamentos multidisciplinares: médicos, psicológicos e psicossociais. A especialista esclarece que, "apesar dos avanços dos conhecimentos nestas diferentes áreas, ainda não há dados científicos que permitam fazer as pontes entre eles e desenhar tratamentos baseados na evidência e centrados ao mesmo tempo na subjetividade do sofrimento individual".

E acrescenta: "Isto aplica-se à grande maioria das perturbações psiquiátricas. Confiamos nos avanços científicos, mas o caminho a percorrer ainda é muito longo”.



Cursos com o foco “na atualidade dos temas"

No dia anterior ao Congresso (9 de novembro), haverá seis cursos de formação com inscrições limitadas. Nos dias seguintes (10 e 11 e manhã de 12 de novembro), terão lugar blocos de sete simpósios em simultâneo, dois workshops, nove sessões plenárias e dois debates.

Esta é a primeira vez que se realizam cursos pré-congresso. O objetivo é, segundo Maria Luísa Figueira, “existir um tempo de aprendizagem de duas horas e meia, em que um grupo pequeno de participantes pode beneficiar do ensino de um tema atual para a Psiquiatria clínica”.

A escolha dos temas do Congresso assentou, sobretudo, “na atualidade dos temas e na lacuna que poderá existir em termos formativos”. A abordagem dos assuntos será feita por palestrantes que vêm de áreas muito diversas: epistemiologia e história da Psiquiatria, Filosofia do Conhecimento, Biologia, Psicopatologia e Psiquiatria Clínica.

Esclarece ainda que pretende-se promover "uma visão crítica e interdisciplinar das relações entre as várias disciplinas, o levantar de dúvidas e interrogações sobre a relação entre o conhecimento científico e outras formas de conhecimento.”

Simpósios

Relativamente aos simpósios, houve, num primeiro grupo, o propósito de os organizar com base em palestrantes (“alguns muito jovens”), mas que tenham publicado na área das Neurociências, que contribuem para a Psiquiatria.

Um segundo grupo de simpósios vai debruçar-se sobre aspetos importantes da clínica: ligados à sexualidade humana e a problemas de disforia de género, perturbação de défice de atenção e hiperatividade no adulto, aspetos clínicos do delirium, suicídio e comportamentos autolesivos, perturbações alimentares e obesidade, demências, fenomenologia das experiências de ativação, entre outros.

Terá lugar ainda um terceiro grupo de simpósios, que vai incidir sobre a Psiquiatria e a cultura, desde o cinema, práticas ideológicas e políticas, até um tema que Maria Luísa Figueira classifica como “muito atual” – a influência da web no ser humano, desde os aspetos sociológicos até aos patológicos.


Para mais informações sobre o Congresso: http://www.cnpsiquiatria2016.com





seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda