Pessoas com doenças crónicas «vão exigir fazer o tratamento nas suas casas»
João Araújo Correia está convencido de que “não tardará muito que as pessoas deixem de ver no hospital o melhor local para serem tratadas as doenças crónicas de forma segura e competente”.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) arrisca mesmo dizer que “vão exigir poder fazer o tratamento nas suas casas”, uma evolução semelhante à que ocorreu no norte da Europa, lembra.
No entanto, no seu entender, “é fundamental ir ao encontro do doente e também do médico de Medicina Geral e Familiar (MGF), conseguindo finalmente uma comunicação eficaz entre as duas especialidades, que são a base do SNS”.
João Araújo Correia
João Araújo Correia dirigia-se particularmente aos internos e especialistas de Medicina Interna (MI) que assistiam à sessão de abertura do VI Encontro de MI de Gaia e Espinho. Subordinada ao tema “Medicina Interna fora de portas: ao encontro do doente”, a reunião realizou-se recentemente em Espinho, presidida por Vítor Paixão Dias, diretor do Serviço de MI do Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho (CHVNG/E).
O presidente da SPMI frisou mesmo que “não haverá tratamento integrado do doente crónico” sem essa “comunicação eficaz” entre o hospital e os cuidados de saúde primários, manifestando-se “convencido de que a hospitalização domiciliária (HD) vai facilitar que tal aconteça”.
O médico fez, aliás, questão de sublinhar que as unidades de HD “estão agora vocacionadas para o tratamento da doença aguda ligeira porque só para este caso foi definido o financiamento”.
Serviço de MI do CHVNG/E: “uma referência a nível nacional”
Os elogios ao Serviço de MI do CHVNG/E também não faltaram, com uma referência especial à sua Unidade de Hospitalização Domiciliária, coordenada pela internista Olga Gonçalves.
João Araújo Correia considerou-a “uma referência a nível nacional pelo trabalho já demonstrado e pela abertura que tem tido para que haja uma disseminação do ‘hospital em casa’ por todo o país”.
O médico faria mesmo questão de referir o caso do Centro Hospitalar Universitário do Porto, cujo Serviço de MI dirige desde maio de 2010 e que tem contado com todo o apoio e experiência do CHVNG/E na implementação do projeto de hospitalização domiciliária.
Sublinhando que, para a SPMI, “a notoriedade dos serviços é a melhor forma de a Medicina Interna se afirmar e ser ouvida pelos decisores políticos”, João Araújo Correia dirigiu-se a Vítor Paixão Dias e afirmou:
“O Serviço de MI do CHVNG/E teve um enorme acréscimo de meios humanos e materiais nos últimos anos, que se refletiu na criação de novas formas de organização, muitas delas já com êxito assinalável”.
Alguns dos elementos envolvidos na organização do Encontro: Marta Monteiro, Inês Rueff Rato (secretária-geral), Vítor Paixão Dias e Catarina Gonçalves Pereira (tesoureira)
“Levar o hospital à comunidade”
Em representação do Conselho de Administração do CHVNG/E, a sua diretora clínica, Diana Mota, acabaria por subscrever o que havia sido dito pelo presidente da SPMI momentos antes ao afirmar:
“Cada vez mais vamos ter que entender uma MI aberta à comunidade, aberta ao doente no domicílio, prestando cuidados diferenciados, mas cada vez mais integrados naquele que me parece ser o desígnio natural, que é não tirar o doente da comunidade, mas levar o hospital à comunidade.”
Mesa de abertura: Diana Mota, Manuel Monteiro, Vítor Paixão Dias, Lurdes Gancho, João Araújo Correia e Celeste Meireles Pinto
Vítor Paixão Dias justificaria a escolha do tema para a edição de 2019 do Encontro de Medicina Interna de Gaia e Espinho com a vontade de “abordar aquilo que sentimos que é uma necessidade, um desafio, e que é já uma realidade que existe e que pode ser melhorada, isto é, a MI fora de portas”.
“Quer para doentes em fase aguda ou urgente, quer na vertente do internamento em casa, quer na consulta, quer na necessidade da melhoria do acesso e da articulação que é fundamental nos cuidados de saúde primários”, especificou Vítor Paixão Dias.
A mesa da sessão de abertura do VI Encontro -- evento que teve como secretária-geral Inês Rueff Rato e como tesoureira Catarina Pereira -- incluiu representantes das câmaras municipais de Espinho e de Gaia, respetivamente, os vereadores Lurdes Ganicho e Manuel Monteiro, e ainda Celeste Meireles Pinto, do ACES Espinho/Gaia e a representar também o ACES Gaia. “Trabalhamos sempre em conjunto com o CHVNG/E”, garantiu.
Vítor Paixão Dias e Miguel Castelo-Branco
Miguel Castelo-Branco, especialista de Medicina Interna e diretor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade da Beira Interior, proferiu a conferência inaugural, intitulada “Ao encontro do doente: importância da relação médico-doente sem barreiras informáticas – novas tecnologias”.