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Percentagem de diagnósticos tardios de VIH é superior a 60%

No âmbito do Dia Mundial da Sida, assinalado dia 1 de dezembro, o Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI) alerta para o facto de mais de 60 por cento dos diagnósticos serem realizados tardiamente, o que compromete a eficácia dos tratamentos, o bem-estar dos doentes, a sua qualidade de vida e a própria incidência da infeção.

Portugal é o terceiro país da União Europeia com maior taxa de casos de Sida, quer em termos de prevalência, quer em termos de incidência e, nesta efeméride, a SPMI pretende alertar para as elevadas taxas de diagnósticos tardios que se verificam em Portugal, incentivando medidas de prevenção e diagnóstico precoce.

Telo Faria, internista e coordenador do Núcleo de Estudos da Infeção ao VIH (NEVIH) refere que “a epidemia em Portugal afeta as populações com comportamentos particularmente vulneráveis. Neste contexto, a percentagem de infetados ultrapassa os 5 por cento. Por outro lado a percentagem de diagnósticos tardios chegam a ser superiores a 60 por cento, o dobro da média europeia.”

O especialista justifica estes números através dos fatores de organização dos Serviços de Saúde, à ausência de campanhas dirigidas a grupos de populações com vulnerabilidades particulares, e a fatores de ordem socioculturais complexos. Contudo, refere, tem havido um esforço nos últimos anos, para inverter esta situação.

Apesar da atual crise político-económica, Telo Faria acredita que é possível investir na prevenção do VIH e deixa conselhos para uma melhor atuação nesta área, entre os quais o “reforço de ações de educação, informação e prevenção em meio escolar e respetiva articulação com a saúde Escolar; realização de programas direcionados para grupos vulneráveis com articulação com as ONGs; e a implementação e reorganização de uma rede de deteção precoce da infeção, com testes rápidos nas unidades de saúde.”

A infeção por VIH afeta diversos grupos sociais, mas, nos últimos anos regista-se um número em crescente de idosos infetados. O internista afirma que tal se deve ao facto da “infeção ser uma doença com características de cronicidade, que permite aos doentes viverem bem, e durante mais anos.” Telo Faria justifica a elevada incidência do vírus neste grupo social, também, pela existência e aquisição de fármacos para tratamento da disfunção eréctil, o que permite que os doentes “retomem a vida sexual, sendo assim potenciais infetados e agentes infetáveis, se tiverem comportamentos sexuais de risco.”

O coordenador do NEVIH refere que as preocupações da Medicina Interna relativamente à situação do VIH/Sida em Portugal são de dois níveis: por um lado, as comuns a todas as especialidades que seguem doentes infetados, como infeciologistas, internistas e pneumologistas, ou seja, as preocupações relativas à área da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento. Relativamente a este último ponto, Telo Faria reforça “a importância da Consulta Multidisciplinar, a implementação do Sistema de Informação SIVIDA a nível nacional, e a formação permanente dos profissionais de saúde que seguem estes doentes."

Refere ainda que a Medicina Interna é uma especialidade "privilegiada" neste seguimento, tendo em conta "a nossa perspetiva multiorgânica e holística de ver o doente infetado. Esta postura do Internista vai ao encontro da visão atual da Doença VIH, como doença crónica. Assim, irão naturalmente surgir mais cedo ou mais tarde, as comorbilidades inerentes ao avanço da idade, além das repercussões em todos os sistemas orgânicos, da própria infeção, e ainda, os efeitos secundários da própria medicação antirretroviral”.    

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