Os doentes reumáticos «têm sido estigmatizados erradamente como os ´coitadinhos`»

José Vaz Patto preside, atualmente, à Direção do Instituto Português de Reumatologia (IPR). Em entrevista à Just News, publicada no Jornal das XXIII Jornadas Internacionais do IPR, evento que decorre ao longo dos dias 26 e 27 de novembro, o responsável fala das metas estabelecidas para o triénio 2014/2016 e, entre outros aspetos, daqueles que considera serem os desafios na área da Reumatologia.

Questionado sobre se as doenças reumáticas ainda são desvalorizadas pelo país e pelos portugueses, começa por sublinhar que "as doenças reumáticas continuam a ser a causa mais frequente de reforma antecipada por doença e de baixa prolongada".

Na sua opinião, para além do sofrimento dos doentes, "difícil de quantificar, os custos sociais e financeiros para as famílias e o país são enormes, para não dizer colossais! A população em geral olha para as doenças reumáticas como aquelas relativamente às quais não há nada a fazer e os doentes têm que se conformar com a doença e com a dor."

E acrescenta: "Por vezes, há médicos que, por desconhecimento, também pensam que há pouco a fazer! Do ponto de vista da comunicação social e dos nossos políticos e governantes, as doenças reumáticas são um parente pobre, quando comparadas com outras com muito mais visibilidade."



Relativamente ao tratamento, José Vaz Patto destaca na entrevista "três aspetos fundamentais que vieram revolucionar o tratamento dos doentes reumáticos: 1.º A forma de tratar mais agressiva e o mais cedo possível; 2.º Uma mudança de objetivo do tratamento, pois, em grande parte das doenças reumáticas, passou a ser o da remissão da doença; 3.º O surgimento dos novos medicamentos biotecnológicos, em grande número, possibilitou tratar doentes graves com grande sucesso."

Jornadas do IPR com grande adesão da MGF

Quanto às XXIII Jornadas do IPR, que decorrem ao longo dos dias 26 e 27 de novembro, José Vaz Patto não tem dúvidas de que "vão continuar a ser a maior reunião médica em Portugal organizada por um serviço ou instituição. Depois, são dirigidas essencialmente aos médicos de família e reumatologistas, mas também a muitas outras especialidades."

Acrescenta que a "adesão em massa às nossas Jornadas pelos médicos de família justifica-se pela grande diversidade de temas com aplicação na prática clínica. Este ano, são também tratados temas com muito interesse para o reumatologista, como as inovações na área das terapêuticas reumatológicas, caso dos tratamentos com biotecnológicos para além dos anti-TNF, incluindo a interleucina-17ª, com potencialidade de terapêutica futura."



Uma instituição "sem paralelo"

Sobre o facto do IPR ser considerado como instituição de excelência na área da Reumatologia, José Vaz Patto explica que tal se deve ao facto de ser "a única instituição com abordagem verdadeiramente multidisciplinar ao doente reumático, desde a prevenção até aos ensaios de medicamentos inovadores".

Por outro lado, é igualmente relevante "a experiência acumulada ao longo dos 67 anos da sua existência, a aposta na reabilitação especializada das doenças reumáticas, a intervenção multidisciplinar nos campos da Cardiologia Preventiva, da Psicologia e da Nutrição, entre outras, e a superespecialização nalgumas doenças reumáticas raras transformam o IPR numa instituição ímpar, sem paralelo em Portugal e com poucas que se assemelhem no resto do mundo!"



Doentes com "barreiras crescentes" no acesso ao IPR

O responsável refere que, no IPR, "temos de enfrentar uma luta permanente", procurando ultrapassar "de forma continuada e constante três obstáculos:
1.º Necessidades enormes do país relativamente às insuficiências no campo das doenças reumáticas;
2.º Dificuldades estruturais/financeiras da instituição;
3.º Mentalidade retrógrada e regras de austeridade e sem visão das chefias e governos no que respeita às necessidades da população e investimento na saúde e produtividade do país."

E salienta ainda "dois graves problemas" que têm sido impostos pela tutela: "as barreiras crescentes levantadas ao acesso dos doentes ao IPR, nomeadamente, através da proibição de referenciação dos centros de saúde, e a sistemática redução anual do valor dos acordos de cooperação com a ARSLVT, que colocam o Instituto no limite da sobrevivência financeira".

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