Oncologia: Unidades de mama «aumentam a sobrevida e a qualidade de vida das doentes»

Sensibilizar para a criação de unidades de mama, dando como exemplo a Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, é o principal objetivo da mesa-redonda sobre “Cancro da Mama no século XXI”, que decorre dia 21 de outubro, às 19h30, no Auditório da Fundação Champalimaud.

Fátima Cardoso, diretora daquela Unidade, quer, com esta iniciativa, alertar para as vantagens destes centros, que "aumentam a sobrevida e a qualidade de vida das doentes com cancro da mama".

Em entrevista à Just News, defende que “é preciso reorganizar a forma como são prestados cuidados a quem foi diagnosticado cancro da mama”. E relembrou que “a Comissão Europeia recomendou há 10 anos a criação de unidades de mama, o que ainda não aconteceu na maioria dos países europeus, incluindo Portugal”.


Elementos da equipa da Unidade da Mama da Fundação Champalimaud. (Foto: Joaquim Leal)

Para a especialista, “está provado cientificamente que otimizam os cuidados prestados, logo, é preciso que Portugal invista nesta área”. O atraso deve-se, no seu entender, a desconhecimento.

“Não acredito que seja uma questão de investimento, porque estas unidades trazem poupanças, ao evitarem-se exames duplicados ou tratamentos desnecessários, além de melhorarem a qualidade de vida dos doentes e de diminuírem a mortalidade”, aponta.

Para Fátima Cardoso, é preciso “fazer pressão junto das entidades competentes”. E acrescenta: “Portugal tem necessidade de mudar alguma cultura ainda instalada de trabalho individualizado, na qual os profissionais não falam nem tomam decisões em equipa multidisciplinar.”

No seu entender, este evento será também uma oportunidade de dar a conhecer à população o trabalho que se realiza na FC. “Não fazemos apenas investigação, a nossa oferta vai desde a prevenção até aos cuidados paliativos quando necessários, além de sermos um centro de referência que recebe os mais variados casos – complexos e não só --, como homens com cancro da mama ou mulheres grávidas com esta patologia.”



Fazendo um balanço do cancro da mama em Portugal, Fátima Cardoso está segura de que não estamos longe das estatísticas dos restantes países ocidentais. “Portugal tem uma grande vantagem, que é o Serviço Nacional de Saúde, que disponibiliza os tratamentos básicos para qualquer cancro”, reconhece.

O problema existe, sobretudo, nos rastreios e no acesso a medicamentos baratos. “A Liga Portuguesa Contra o Cancro tem feito um trabalho muito bom na realização de rastreios, mas continuam a existir assimetrias entre Litoral e Interior e há falhas na comunicação entre Norte, Centro e Sul.”

Quanto aos medicamentos, estão a faltar os mais acessíveis em termos de preço. “Todos falam muito dos fármacos inovadores e caros, mas estes, na sua maioria, são importantes para uma pequena percentagem de doentes. O problema maior está na falta de outros a preços baratos”, afirma.

E explica porquê: “Como têm muitos anos de mercado e já são genéricos, não é lucrativo produzi-los, nem distribui-los. Estes medicamentos são a base de tratamento de todos os tipos de cancro. Sem eles não se pode tratar esta doença, é preciso encontrar uma solução para evitar esta situação, que põe em causa o tratamento.”

Fátima Cardoso recorda que esta falha também se faz sentir noutros países, onde já se começa a procurar uma resposta alternativa. “Nos EUA, estabeleceu-se uma parceria com a Índia para ali se produzirem estes medicamentos, fazendo-se regularmente auditorias para controlar a qualidade. Na Europa, já há países que se juntaram para conseguirem negociar melhor a compra destes fármacos.”

A especialista considera que Portugal necessita de se juntar a estes grupos de países europeus. “Estivemos um ano sem um medicamento essencial para tratar metástases cerebrais e, neste momento, encontra-se de novo esgotado. Já há relatos de falta de tamoxifeno, um dos fármacos mais importantes para o cancro de mama e que mais vidas salva anualmente.”



A inscrição é gratuita e pode ser efetuada aqui.

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