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«O nosso objetivo é manter a diferenciação e a singularidade da Otorrino na Estefânia»

O diretor do Serviço de Otorrinolaringologia da ULS de São José, ele próprio um reconhecido especialista com diferenciação em ORL Pediátrica, garante ser um “grande objetivo” a manutenção do protagonismo que o Hospital de Dona Estefânia tem a nível nacional nesta área específica da Otorrino.

Herédio de Sousa coordenava o polo da Estefânia quando, em janeiro de 2021, iniciou funções como diretor do Serviço de ORL do então CH de Lisboa Central, que tem um segundo polo no Hospital de São José. A contar consigo, são neste momento três os médicos que se dedicam exclusivamente à ORL Pediátrica.


Herédio de Sousa

“O nosso objetivo é manter ou até ampliar este número, mas sempre numa perspetiva de que somos um único Serviço, quer para adultos, quer para crianças, com as particularidades que cada polo exige”, faz questão de frisar, acrescentando que, “obviamente, valorizamos o interesse individual de cada médico em áreas específicas”. No total, a equipa integra 15 especialistas e, neste momento, 5 internos de ORL.

Herédio de Sousa falou com a Just News no âmbito do 3.º Curso Teórico-Prático de Otorrinolaringologia Pediátrica, que nos dias 1 e 2 de março mobilizou perto de uma centena de participantes e palestrantes, estes últimos de várias áreas, justificando o tema escolhido para o evento: “Multidisciplinaridade em ORL”.



Luísa Monteiro: “Tenho muito orgulho na equipa que deixei aqui há 11 anos”

Uma das pessoas convidadas para estar presente na sessão oficial de abertura, considerada por muitos como “a grande impulsionadora da Otorrino Pediátrica do nosso país”, foi Luísa Monteiro, ex-diretora do Serviço de ORL do Hospital de Dona Estefânia (HDE). Aliás, a médica preside à Comissão Científica de ORL Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SPORL-CCP), sendo Herédio de Sousa um dos seus dois vogais.

“Tenho muito orgulho na equipa que deixei aqui há 11 anos e que tem crescido e bem”, afirmou Luísa Monteiro, que coordena o Serviço de ORL do Hospital Lusíadas Lisboa, aproveitando para lamentar o facto de a ORL Pediátrica ainda não ser reconhecida como subespecialidade em Portugal. “Há cada vez mais evidência, sobretudo em determinadas patologias, que são otorrinos específicos que têm que tratar das crianças e este Curso é uma prova disso”, frisou.

Luís Varandas, diretor da Pediatria Médica do HDE, João Falcão Estrada, diretor da Área de Pediatria da ULS de São José, Rui Alves, diretor clínico da ULSSJ e Paula Leiria Pinto, diretora clínica do HDE, também faziam parte da mesa de abertura do Curso.



Enquanto Luís Varandas garantiu que, da sua parte, a colaboração que existe no HDE entre a Pediatria Médica e a ORL é para ser mantida, até porque “já vem de há muito tempo”, João Falcão Estrada valorizou o facto de a ORL ter conseguido manter a identidade pediátrica aquando da criação do Centro Hospitalar, enquanto várias outras áreas a perderam.

Rui Alves, na sua qualidade de diretor do Serviço de Cirurgia Pediátrica, fez questão de agradecer toda a colaboração que tem tido por parte da Otorrino, nomeadamente, “em cirurgia cervical, traqueal e esofágica”, o que “mostra que não estamos separados nesta casa que nos une em casos complexos que temos tido”.

Idêntica mensagem transmitiu Paula Leiria Pinto que, enquanto diretora do Serviço de Imunoalergologia da ULSSJ, deixou bem claro que “tem havido, ao longo dos anos, uma estreita articulação e cooperação com a ORL”. Recordou, inclusive, que “a Imunoalergologia nasceu da ORL”, quando, em 1968, foi criada a Consulta de Alergologia Otorrinolaringológica, “para dar resposta aos crescentes problemas de alergia respiratória na idade pediátrica”.


Inês Soares da Cunha, Herédio Sousa, Luísa Monteiro, Inês Alpoim Moreira

"A necessidade de uma especificidade e de um conhecimento mais aprofundado”

Inês Soares da Cunha é a atual coordenadora do polo da Estefânia do Serviço de ORL da ULSSJ. Concluído o internato de formação específica no Hospital de São José, em 2020, concorreu à única vaga de Otorrino que abrira em Lisboa, entrando assim no Dona Estefânia. 24 anos depois, diz sentir-se realizada por ter escolhido uma especialidade “com uma polivalência muito grande” aliada ao que tem de bom “a relação com as crianças e as suas famílias”.

É favorável à criação da subespecialidade de ORL Pediátrica porque, como diz, “se a patologia mais comum de Otorrino Pediátrica, a do anel de Waldeyer, que inclui as amígdalas e os adenoides, é tratável por qualquer otorrino, o mesmo não acontecerá quando entramos no domínio das patologias malformativas, da doença congénita da via aérea, ou das surdezes mais complexas”. No seu entender, “para lidar com estas situações, começa a haver a necessidade de uma especificidade e de um conhecimento mais aprofundado”.

Inês Soares da Cunha considera que “um otorrino que se dedica à Pediatria e trabalha aqui na Estefânia ganha uma experiência em ORL Pediátrica que será difícil de conseguir em hospitais que não possuem esta especificidade e onde se observam crianças e adultos em simultâneo”.

Para além de que, acrescenta, “pela sua população alvo e por ser um hospital terciário, a Estefânia recebe doentes com um maior nível de complexidade e gravidade do que a maior parte dos serviços de ORL generalistas”. E refere também a situação das crianças com menos de 2 anos, “que nos hospitais distritais não podem ser tratadas por não haver possibilidade de as anestesiar”. Não deixa, finalmente, de sublinhar a interdisciplinaridade que caracteriza a atividade desenvolvida no Hospital de Dona Estefânia.



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“O doente complexo não pode ser acompanhado por apenas uma especialidade”

À semelhança de Herédio de Sousa e de Inês Soares da Cunha, também Inês Alpoim Moreira se dedica por inteiro à ORL Pediátrica na ULS de São José. Especialista desde 2007, nunca deixou a Estefânia, desde que ali entrou para fazer o internato de ORL, porque era mesmo essa a sua vontade, incentivada por Luísa Monteiro.

Relativamente ao Curso Teórico-Prático de Otorrinolaringologia Pediátrica, a médica recorda a 1.ª edição, realizada em fevereiro de 2020, e a que se seguiu, em 2022, ficando então decidido que o evento formativo passaria a acontecer sempre de 2 em 2 anos.

O desenho da reunião tem-se mantido, com a realização de sessões teóricas na sala de conferências do hospital e a transmissão ao vivo de cirurgias no 1.º dia e os cursos dedicados ao “Treino de simulação na via aérea” e “Audiologia Pediátrica” ocupando o 2.º dia. “São estas as duas grandes áreas do nosso hospital em termos de diferenciação relativamente ao resto do país”, refere Inês Alpoim Moreira.



A edição de 2024 do Curso foi a primeira a ter um título: “Multidisciplinaridade em ORL”. “No fundo, é o que se está a fazer cada vez mais em diferentes áreas médicas, no sentido de personalizar o tratamento prestado ao doente, nomeadamente ao doente complexo, que não pode ser acompanhado por apenas uma especialidade”, justifica.

“Quando uma criança tem que de ser operada aos ouvidos mas também necessita da intervenção da Estomatologia e precisa igualmente de uma cirurgia plástica reconstrutiva, as três especialidades atuam de forma coordenada, definindo timings para o seu tratamento, nomeadamente, otimizando as cirurgias, para que essa criança não vá dez vezes ao bloco no espaço de um ano”, especifica Inês Alpoim Moreira.

A interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade que se praticam no Hospital de Dona Estefânia estiveram bem patentes no programa do Curso de ORL Pediátrica, sublinha a médica, com o envolvimento da Imunoalergologia, da Pneumologia, da Infeciologia, da Cirurgia Maxilofacial ou da Cirurgia Pediátrica, por exemplo.

Inês Alpoim Moreira não deixa de destacar a “parceria fundamental” que existe com o IPO de Lisboa ao nível da patologia complexa da laringe, “em que à experiência extraordinária dos colegas em termos cirúrgicos se junta não só o nosso khow how ao nível da avaliação e terapêutica prévia mas também a nossa prática em termos de cuidados intensivos pediátricos e em lidar com as crianças traqueostomizadas”.

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