Novos casos de infeções VIH: Portugal com número mais elevado da UE

Apesar de o número de novos casos de infeção por VIH ter vindo a diminuir ao longo dos últimos anos, Portugal apresenta ainda uma taxa de incidência de 10,5 por 100.000 habitantes, que é quase o dobro da média da União Europeia, lembrou à Just News Joaquim Oliveira, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo Clínico da SIDA (APECS), baseado nos dados oficiais, recentemente publicados e referentes ao final de 2013.

“Além disso, algumas tendências são preocupantes, como o número muito elevado de casos de homens que têm sexo com homens, que se infetam em idades cada vez mais jovens e, também, o diagnóstico tardio das infeções”, afirmou Joaquim Oliveira no final do Congresso Nacional VIH, Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, acrescentando que 58% dos diagnósticos são consideradas tardios.

Esta situação coloca, segundo indica, problemas graves. Há “uma maior dificuldade em recuperar estes doentes”, sendo que alguns podem até mesmo morrer logo na primeira manifestação e, além disso, os custos com o seu tratamento podem, eventualmente, ser mais elevados.

Outro aspeto grave que deriva destas situações de diagnóstico tardio são as “oportunidades perdidas de prevenção”, uma vez que, não sabendo que são portadores de VIH, ou ao terem conhecimento deste problema tardiamente, os doentes tiveram, potencialmente, mais oportunidades de transmitir a sua infeção.

Uma realidade que Joaquim Oliveira refere como preocupante, mesmo não tendo sido especificamente focado neste congresso, é “a rigidez atualmente existente em muitos hospitais em relação à cedência da medicação” e o impacto que essa situação causa na vida dos pacientes.

“Cedem medicação apenas para um mês, o que implica que os doentes são obrigados a ir todos os meses ao hospital para renovar a medicação e, em alguns casos, até mais vezes. Este é um problema que tem impacto direto na qualidade de vida destes indivíduos, além de ser um bloqueio à adesão que tanto queremos promover, constituindo mesmo, em casos extremos, um motivo de interrupção da terapêutica. Urge encontrar soluções”, mencionou.

E continuou: “Quanto à hepatite C, a situação é ainda mais complicada. Temos uma enorme quantidade de novos fármacos a entrar no mercado e aos quais não conseguimos ter acesso. Isto é frustrante, porque queremos dar o melhor aos nossos doentes e, por várias razões e bloqueios a diversos níveis, não conseguimos ter acesso a esses medicamentos.”

No que respeita ainda à realização do congresso e das temáticas nele abordadas, o presidente da APECS refere que o programa foi “bastante abrangente”. Foram focados temas que vão desde a infecciologia clássica e as velhas doenças que continuam a ser uma preocupação – tuberculose e malária, entre outras –, passando pelas que estão agora na ordem do dia (legionela e Ébola) e ainda outros problemas com que nos deparamos diariamente, como, por exemplo, as infeções associadas aos cuidados de saúde e à utilização dos chamados medicamentos biológicos.

“Neste momento, o surto de doença por legionela já está ultrapassado. Aprendemos algumas lições e é importante que as tenhamos retido. O Ébola é uma ameaça relativamente pouco importante para o nosso país, contudo, não deve ser desvalorizada. Temos de estar preparados, porém, não é necessário criar alarme junto da população”, frisou, acrescentando considerar que as medidas que estão a ser tomadas são as adequadas se, eventualmente, for necessário lidar com algum caso que possa ser importado.

Para terminar, Joaquim Oliveira sublinhou que o balanço do X Congresso Nacional de VIH/SIDA e XII Congresso Nacional de Doenças Infecciosas e Microbiologia Clínica, eventos que decorreram em simultâneo, foi “francamente positivo”.

“As sessões foram de alto nível e a afluência foi sempre muito elevada. Creio que saímos todos mais enriquecidos, tanto do ponto de vista científico como humano. Este congresso forneceu-nos um conhecimento mais aprofundado da realidade portuguesa e facilitou o contacto e troca de experiências com colegas de outros centros, de onde pode resultar uma melhoria dos cuidados prestados aos nossos doentes”, concluiu.

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