«Não faz sentido os serviços de Cardiologia não terem equipamentos de TAC e RM»

"Não faz sentido algum continuarmos completamente dependentes da Imagiologia no que se refere à TAC e à Ressonância Magnética", considera Hélder Pereira, presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Em entrevista à Just News, o cardiologista de intervenção refere que, "em muitos países europeus já encontramos hospitais com equipamentos de imagiologia de TAC e RM instalados dentro de serviços de Cardiologia e que funcionam a tempo inteiro.”

E, na sua opinião, tal é uma grande mais valia e exemplifica: “Se não pudermos pedir uma TAC para excluir uma doença coronária, mas houver a suspeita de que ela existe, muitas vezes acabamos a fazer um cateterismo e a ocupar uma cama no hospital, sem necessidade e com os custos associados a essa intervenção.”

Por outro lado, “em Espanha, França, Alemanha… os equipamentos são renovados, enquanto em Portugal funcionam quase até à exaustão. Tem que haver mais investimento e é preciso estarmos conscientes de que, provavelmente, gastaríamos menos e seríamos mais eficientes”.


Hélder Pereira

“Conseguir uma maior visibilidade para as doenças cardiovasculares”

De acordo com Hélder Pereira, um dos “eixos estratégicos” da Sociedade Portuguesa de Cardiologia passa por "conseguir que seja dada uma maior visibilidade às doenças cardiovasculares” e, consequentemente, que o Ministério da Saúde perceba a sua "verdadeira importância".

Na verdade, o presidente da SPC reconhece ser este um “problema” em Portugal, na Europa, nos EUA…

“A principal causa de mortalidade na Europa são as doenças cardiovasculares, vitimando 36% dos europeus, o que representa cerca de 4 milhões de mortes por ano. 60 milhões de indivíduos sofrem de uma patologia desta natureza, praticamente a população da França”, sublinha.

Ora, o que acontece é que “este peso todo das DCV não se reflete, por exemplo, nas notícias dadas pelos meios de comunicação social nem na perceção da população”. E o médico observa que publicações de relevo internacional como o New York Times ou o The Guardian dedicam um espaço muito reduzido a estas patologias, comparativamente com o destaque que é reservado às doenças oncológicas ou a outras causas de morte.

“Toda a gente tem medo do cancro, mas a insuficiência cardíaca, por exemplo, mata mais do que muitos cancros. Penso que a própria tutela se deixa influenciar pela opinião pública”, conclui Hélder Pereira, reconhecendo que, em todo o caso, se trata de um problema transversal aos vários países europeus. 



Diretor do Serviço de Cardiologia do HGO desde 2010

Hélder Pereira é cardiologista desde 1992 e que não demorou a obter a especialização em Cardiologia de Intervenção, com formação feita em Barcelona.

Está no Hospital Garcia de Orta desde 1994, assumindo a direção do Serviço de Cardiologia em 2010, o mesmo ano em que foi criada a APIC – Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular, tendo sido o seu primeiro secretário-geral.

Logo a seguir fez dois mandatos como presidente. Defendeu a tese de doutoramento em novembro de 2017 e cumpre, neste momento, um mandato de 2 anos como presidente da SPC, compromisso que terminará em abril de 2025.

Por último, mas não menos importante, deve-se recordar que implementou em Portugal o projeto Stent For Life, que visa melhorar a prestação de cuidados médicos ao doente com enfarte do miocárdio.




A entrevista completa pode ser lida na última edição do Hospital Público.


Distribuída nos hospitais públicos e outras entidades de saúde, esta publicação da Just News tem como missão valorizar o SNS e dar a conhecer a profissionais de saúde e decisores da área um conjunto de boas práticas e de projetos de excelência que existem no país.

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