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Há uma «necessidade real» de rever conceitos de lipidologia clínica

O internista Pedro Marques da Silva considera que existe uma “necessidade real” na prática médica atual de efetuar uma revisão sobre os conceitos básicos da lipidologia clínica.

Para o especialista, que coordenou o Curso Avançado em Lipidologia, que se realizou no âmbito do XXII Congresso Português de Aterosclerose, esta carência deriva, sobretudo, da necessidade de compreensão do metabolismo lipídico como processo central ao desenvolvimento da doença aterosclerótica e da efetividade terapêutica da utilização de antidislipidémicos (particularmente das estatinas) na diminuição do risco cardiovascular, com redução de eventos e prolongamento e melhoria da qualidade de vida.

“Existe uma grande divergência entre o que sabemos e o que é feito”, mencionou o especialista de Hipertensão Clínica do Hospital de Santa Marta, em Lisboa, justificando que a percentagem de doentes controlados continua a ser muito baixa e os valores médios de LDL na população portuguesa nos últimos anos têm-se mantido “persistentemente elevados”, o que faz pressupor que “muita coisa tem de ser feita”.

A verdade é que, apesar do tratamento efetivo com as estatinas, ainda há uma margem de eventos cardiovasculares que podem ser evitados. É neste contexto que “tem nascido a necessidade de refletir sobre quais os elementos dentro do metabolismo lipídico que podem contribuir ou não para o risco persistente, apesar do tratamento, e sobre as melhores estratégias com as quais nos confrontarmos”.

“Algumas destas estratégias já estão disponíveis hoje, mas há outras cujo processo de desenvolvimento está aí à porta e a sua melhor utilização só será feita pelos médicos se estiverem conhecedores do que representa o metabolismo lipídico e lipoproteico na saúde e na doença cardiovascular no Homem”, mencionou Pedro Marques da Silva

Em debate neste curso estiveram temas como as dislipidemias primárias, as alterações dos lípidos no metabolismo do colesterol, dos triglicéridos e das HDL, que resultam de alterações genéticas e hereditárias ou secundárias, que derivam, por exemplo, da obesidade, da diabetes, da doença renal crónica e da utilização de certos fármacos.

“Algumas situações ficaram por ser discutidas, como o que acontece com os doentes com as doenças inflamatórias crónicas, em concreto a psoríase, a artrite reumatoide ou o lúpus”, disse.

Pedro Marques da Silva adiantou, ainda, ter sido abordada a estratégia de redução do risco cardiovascular, de acordo com as recomendações mais comuns – as europeias e as normas de orientação clínica da DGS --, assim como a farmacologia dos grupos farmacológicos disponíveis: estatinas, fibratos e inibidores da absorção intestinal do colesterol.

Teve lugar, ainda, uma sessão sobre as razões da custo-efetividade das opções terapêuticas, tanto em relação ao número de eventos como à esperança de vida, ou aos custos diretos e indiretos inerentes à hipercolesterolemia.

Finalmente, debateu-se o futuro no âmbito dos dislipidémicos, tendo sido apresentadas as linhas de investigação em desenvolvimento com os novos fármacos, alguns deles já disponíveis, como é o caso dos fármacos órfãos (para situações muito particulares de hipercolesterolemia familiar homozigótica), e outros em estudos fase III de eventos cardiovasculares, como os anticorpos monoclonais inibidores da PCSK9.

Com coordenação de Pedro Marques da Silva, Alberto Mello e Silva e João Sequeira Duarte, o Curso foi organizado pela Sociedade Portuguesa de Aterosclerose (SPA). Contando com a aprovação da Ordem dos Médicos, a ação terminou com uma avaliação, para além do habitual certificado de participação. Teve mais de 40 participantes, sobretudo, jovens especialistas e internos com interesse na área da dislipidemia.

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