GEstIC, da ULS Santo António, é exemplo de intervenção em doentes com insuficiência cardíaca

Coordenado por Irene Marques, do Serviço de Medicina Interna da ULS de Santo António, há mais de uma década que este Grupo de Estudos de Insuficiência Cardíaca (GEstIC) atua de forma articulada.

Na verdade, trata-se de uma verdadeira clínica multidisciplinar de insuficiência cardíaca, mas o nome com que o projeto foi batizado, em 2010, pegou de tal forma que todos o conhecem por GEstIC, “diminutivo” de Grupo de Estudos de Insuficiência Cardíaca, mas que é visto como uma autêntica marca.

Contudo, só em janeiro de 2013 ficaram reunidas as condições para que o programa de acompanhamento dos doentes com IC implementado pelo GEstIC arrancasse oficialmente, com a disponibilização de uma Consulta em que a enfermagem surgiu assumindo um papel preponderante. Papel esse, aliás, que ainda se tornou mais significativo com a implementação do Hospital de Dia, em 2022, que haveria de conhecer um novo espaço agora no início de 2025.



“No Serviço já havia diferenciação em doenças autoimunes"


Não há maneira mais fácil de contar a história do GEstIC do que começar pelo princípio. E ela inicia-se verdadeiramente em 2009, quando Irene Marques e dois colegas seus, um dos quais Paulo Paiva, atual diretor do Serviço de Medicina Interna da ULS de Santo António, começaram a pensar que seria importante haver algum tipo de estrutura que se dedicasse especificamente aos doentes com insuficiência cardíaca (IC).

“No Serviço já havia diferenciação em doenças autoimunes, tínhamos pessoas dedicadas à área respiratória, mas não havia ninguém particularmente interessado na IC, que era a 1.ª ou 2.ª causa de internamento”, recorda a coordenadora do GEstIC, acrescentando que, com o apoio de um grupo de internos, até se fez uma revisão da literatura para perceber o que se poderia fazer para melhorar os cuidados a prestar aos doentes com IC. No final de 2009, foi criada uma equipa liderada por dois dos especialistas (Irene Marques e Pedro Leuschner) e 5 internos do Serviço de Medicina Interna.



Saltando para fevereiro de 2010, a equipa apresentou numa das reuniões semanais do Departamento de Medicina a proposta de formação de um grupo multidisciplinar para gestão dos doentes com IC segundo um programa estruturado de seguimento, convidando à participação de vários serviços.

A recetividade foi tão boa que nos meses seguintes a ideia ganhou corpo, envolvendo especialistas dos serviços de Cardiologia, Nefrologia, Medicina Física e de Reabilitação, Psiquiatria, Nutrição e Serviço Social.

Paralelamente, havia que batizar o projeto, e é assim que surge o “nome” GEstIC, não só por significar Grupo de Estudos de Insuficiência Cardíaca, mas também por ser uma palavra em inglês que significa gesto!

“No fundo, era um pouco isso que nós queríamos, ou seja, fazer algo que fosse um gesto para mudar o percurso destes doentes”, esclarece a coordenadora.

“O nosso plano era começar com uma consulta externa, duas tardes por semana, à segunda e à quinta-feira. Mas queríamos ter, para além do médico, dois enfermeiros, um para fazer os ensinos e os testes de avaliação, nos períodos da consulta, e outro para contactar telefonicamente os doentes após a alta, para confirmar se estava tudo bem”, explica Irene Marques.

Só no final de 2012 foi possível, finalmente, conseguir resolver a questão da falta de horas de enfermagem disponíveis, recorrendo-se a uma solução inédita, pelo menos no Hospital de Santo António, com enfermeiros das várias unidades do Internamento de Medicina Interna a assegurarem o horário de que o GEstIC necessitava.

“Tê-los connosco foi sempre considerado importantíssimo, nunca poderíamos começar a Consulta sem os enfermeiros”, frisa a médica, confirmando que janeiro de 2013 marca o início oficial de atividade do GEstIC.



A vulnerabilidade da fase de transição da alta para casa


A decisão tomada na altura foi que os doentes com acesso à Consulta seriam sempre referenciados a partir do Internamento de MI ou de Cardiologia. É muito fácil perceber porquê: os doentes eram demasiados para os poucos recursos que o GEstIC tinha! “Médicos éramos apenas eu e uma colega que estava a acabar o internato. Quando começámos, não havia mais nenhum especialista.

Tínhamos duas tardes de consulta, sendo que eram internados todos os anos no Serviço de MI centenas de doentes com IC”, justifica Irene Marques, prosseguindo:

“Nós sabemos que a transição da alta para casa é uma fase vulnerável, porque os doentes saem bem do Internamento, mas vão para a sua vida normal e bebem mais líquidos, não cumprem as restrições alimentares, muitas vezes enganam-se a tomar a medicação e é frequente voltarem a ser internados passado pouco tempo.”

O procedimento continua a ser, hoje em dia, o mesmo que em 2013, ou seja, os enfermeiros do Internamento têm a informação necessária para começarem logo nessa altura os ensinos sobre a IC a cada doente e aos seus familiares/cuidadores na hora da visita. Posteriormente, no dia da alta, o médico assistente informa o GEstIC, marcando-se então a 1.ª consulta, habitualmente, num prazo de duas a quatro semanas.

Ao mesmo tempo, é agendado o chamado “telefonema das 48 horas”, que pode acontecer até 96 horas após a alta, com um enfermeiro do GEstIC a contactar o doente, para deteção de eventuais sinais ou sintomas de descompensação, esclarecimento de dúvidas, revisão da medicação e confirmação da data da referida 1.ª consulta.


A equipa GEstIC em 2016

Em 2019, com o reforço de internistas envolvidos no GEstIC, foi possível crescer e começar a receber doentes de outras proveniências que não exclusivamente o Internamento.

Atualmente, são seis os especialistas de MI, assegurando três tardes por semana de consulta, também com mais tempo de enfermagem (há hoje uma dúzia destes profissionais alocados ao GEstIC).

“Passámos a aceitar referenciações de outras consultas aqui do hospital e diretamente da Urgência, e posteriormente em 2021 dos próprios cuidados de saúde primários, que normalmente recorrem a nós quando têm casos de descompensação”, informa Irene Marques.



Em 2022, após 5 anos de luta por um espaço físico, o GEstIC instalou o primeiro Hospital de Dia do Serviço de MI numa sala de observações, numa Unidade de Internamento: 2 cadeirões, 1 médico e 1 enfermeiro, 2 manhãs por semana apenas. Com a reinstalação do Hospital de Dia num espaço próprio em fevereiro de 2025, que passou a servir todo o Serviço de MI, o GEstIC dispõe agora de quatro cadeirões durante 2 manhãs e um dia completo com médico e enfermeiro dedicado.

A coordenadora faz questão de referir ainda o que tem sido feito pelo GEstIC em termos de investigação clínica, “com participação, desde 2016, em ensaios clínicos com novos medicamentos para a IC e em estudos de iniciativa do investigador”.

Recordando as reuniões anuais de sensibilização e educação para doentes e cuidadores, que decorreram entre 2014 e 2018, Irene Marques salienta os cursos de formação em IC para médicos e enfermeiros dos cuidados de saúde primários realizados em 2017, 2018 e 2019.


A notícia completa pode ser lida na edição de setembro do Jornal Médico.

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