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Gorjão Clara diz que precisamos de unidades de Geriatria multidisciplinares e com internamento

Portugal é dos poucos países europeus desenvolvidos que não tem qualquer unidade de Geriatria. O coordenador da Consulta de Geriatria do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), João Gorjão Clara, está “preocupado” com a falta de especialização de cuidados para idosos e com a escassez de recursos, o que tem atrasado a implementação da primeira unidade em Portugal, que seria precisamente no CHLN.


Já existe um espaço físico, profissionais de saúde interessados e o Conselho de Administração do CHLN também já demonstrou a sua disponibilidade. O problema está na contratualização das pessoas necessárias. “São precisos três médicos, 12 enfermeiros e dez assistentes operacionais para a primeira unidade de Geriatria”, explica João Gorjão Clara, que também é o coordenador do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

O médico está preocupado porque “o tempo vai passando, o país está a envelhecer cada vez mais e continuamos atrasados, sem se ter uma única unidade que permita um acompanhamento multidisciplinar, com camas de internamento”. A Unidade de Geriatria do CHLN seria, assim, “o modelo a replicar urgentemente por todos os grandes hospitais do país, à semelhança do que se faz na Europa”.

Atualmente, estima-se que 15% de doentes idosos internados nos serviços hospitalares de Medicina sejam do foro geriátrico, isto é, que preencham os critérios que os definem como tal. “Estamos muito atrasados. O Hospital San Carlos, em Madrid, tem uma unidade de Geriatria há 30 anos. Quando, em 2011, apresentámos a Consulta de Geriatria do CHLN, no Congresso Anual da European Union Geriatric Medicine Society, em Málaga, ficaram todos surpreendidos ao saberem que este era a primeira Consulta de Geriatria de Portugal e que representava o primeiro passo para se criar a primeira unidade a nível nacional.”

Consulta de Geriatria do CHLN é um pequeno passo

A aposta em serviços de Geriatria de qualidade, com base num modelo internacional multidisciplinar, é dos principais focos de atenção da Organização Mundial de Saúde. O objetivo é levar os países a ter unidades em que os idosos referenciados são avaliados de um ponto de vista global e onde, quando necessário, possam ser internados.

Não existindo ainda uma unidade, João Gorjão Clara vai apostando na Consulta de Geriatria do CHLN, que fundou em março de 2011. “Sou o único médico a integrar a equipa multidisciplinar que avalia o idoso em termos clínicos, mas também sociais, emocionais, intelectuais e físicos.” Nesta consulta há ainda a possibilidade de se marcar uma visita domiciliária, quando a avaliação do doente o sugere.

A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa já tem, desde 2010, uma cadeira obrigatória de Geriatria, mas ao ensino teórico falta a componente prática. “Antes de 2010 existia apenas uma cadeira facultativa, que limitava muito o número de alunos que terminavam o curso com conhecimentos de Geriatria.” E acrescenta: “A existência da Unidade de Geriatria seria a oportunidade para estes jovens poderem aprender a prática do que lhes é ensinado nas aulas.”

João Gorjão Clara espera que a situação mude a curto prazo e vê com bons olhos o facto de já estar a ser reconhecido o que tem sido feito pela Geriatria no nosso país. “Um dos indicadores mais significativos desta realidade é a realização, em Lisboa, em 2016, do 12.º Congresso da European Union Geriatric Medicine Society, que fui convidado a presidir”. O evento mobiliza, habitualmente, mais de 2500 congressistas de todo o mundo.

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