Criar um plano integrado de cuidados para «otimizar o apoio aos sobreviventes de cancro»

Está a decorrer, ao longo dos dias 20 e 21 de novembro, o Simpósio Nacional SPO 2015. O evento, que se realiza em Monte Real, é promovido pela Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO) e visa criar “uma nova dinâmica” entre especialistas, sendo dedicado aos oncologistas mais jovens. Para Gabriela Sousa, presidente da SPO, era necessário criar um ponto de comunicação anual, dado que, tradicionalmente, o congresso da Sociedade se realiza de três em três anos, conforme os estatutos.



Apoiar o doente oncológico em todo o seu percurso

Em declarações à Just News, Gabriela Sousa, presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia, afirma que a Medicina Geral e Familiar afigura-se como aliada privilegiada para apoiar o doente oncológico em todo o seu percurso, numa perspetiva de tratamento de proximidade.

A especialista refere que tem havido a preocupação "de nos associarmos a comunidades médicas e a outras sociedades para desenvolver um trabalho que resulte desta união de esforços entre os vários níveis da prestação de cuidados. Achamos que só assim é que as coisas resultam bem, na medida em que todos, com o seu saber, contribuem para um resultado mais proveitoso para cada doente."

No caso específico da MGF, Gabriela Sousa adianta que foram iniciados este ano os primeiros contactos "para dar atenção a uma área muito especial que é a dos sobreviventes." Sublinha que a incidência de cancro tem vindo a aumentar em todo o mundo, "e Portugal não é exceção! Estima-se um aumento de novos casos em 12 a 13% até 2030."



Por outro lado, "também é conhecido que a mortalidade por cancro tem vindo a diminuir, fruto de variadíssimas intervenções, quer ao nível do diagnóstico precoce, quer do tratamento, pelo que temos aqui uma população crescente que é a dos sobreviventes, com problemas psicossociais muito próprios e que carecem de uma abordagem específica."

Questionada sobre se podiam ser cuidados e acompanhados pelo médico de família, a oncologista do IPO de Coimbra afirma: "Exato. Basta que seja criado um plano de cuidados. Para o doente, também é melhor que seja acompanhado perto de casa e da família. Terá menos carga psicológica. Neste plano de cuidados para a sobrevivência, é importante o papel da Psico-Oncologia."

E acrescenta: "Queremos que estes três grupos – nós, enquanto peritos em Oncologia, os médicos de família, enquanto cuidadores dos seus doentes, e a Psico-Oncologia – possam diminuir o stress das pessoas e ajudá-las a voltar à vida familiar e social, ao trabalho e ao seu núcleo de amigos."





No primeiro dia do Simpósio realizaram-se dois cursos pré-congresso. "Comunicação com o doente oncológico" foi o tema de uma das formações. Gabriela Sousa explica que "é importante gerir as expectativas do doente e as da sua família, muitas vezes, em situações onde a Medicina tem o seu limite. Nós temos muito pouca formação em estratégias de comunicação. É preciso saber dar as boas notícias, mas, sobretudo, é preciso saber dar as más notícias, sem que isso gere dificuldade e sofrimento para os profissionais e doentes".

Os tumores hereditários foram o tema do segundo curso, “uma área do saber que está espartilhada entre várias especialidades e com diferentes organizações de cuidados”, mas onde se têm dado passos importantes, com a realização de consultas de risco e aconselhamento genético, em especial para as síndromes hereditárias mama/ovário e colorretais.



Um médico "tem que gostar dos outros"

Gabriela Sousa especializou-se em Oncologia em 2002. Exercendo funções no IPO de Coimbra, afirma que escolheu Medicina porque gosta de ajudar o próximo e cita, a propósito, uma frase proferida por outro médico que é, para si, uma grande referência. Gentil Martins costuma dizer que “um médico para ser médico tem que gostar dos outros”.

A presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia concorda em absoluto. “Acho que esta frase me define muito bem. Eu sempre tentei dar muita atenção ao próximo. Sou católica e muito envolvida em grupos que se dedicam ao voluntariado. Na Oncologia também damos muito enquanto pessoas e médicos”, explica. A gestão das emoções nem sempre é fácil.

“Nós, muitas vezes, identificamo-nos com o doente, ou porque tem a nossa idade, ou porque tem uma família semelhante à nossa. É muito importante manter a nossa saúde, manter a nossa rede de apoio a funcionar bem, ter outros interesses. A Oncologia fica fechada na Oncologia quando saio do IPO”, refere.







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