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USF Laranjeiro criou uma «bolsa de consultas» para utentes sem médico de família

Disponibilizar uma espécie de “bolsa de consultas” para quem não tem médico de família atribuído foi algo considerado essencial pela equipa para arrancar com o projeto desta novíssima unidade de saúde familiar (USF), que abriu portas nos primeiros dias de janeiro deste ano. Importa acrescentar que a Unidade serve uma população que inclui muitos imigrantes com algum grau de vulnerabilidade.



“Todas as pessoas têm direito a cuidados de saúde continuados, mesmo as que não possuem médico de família”, afirma Joana Rita Marinho, coordenadora da USF Saúde Laranjeiro, que abriu portas, no concelho de Almada, no início do ano, mais precisamente dia 4 de janeiro.

As palavras da responsável espelham a missão a que se propõe esta nova equipa de saúde familiar, que não quer deixar sem resposta todos aqueles elementos da população que continuam sem ter um médico assistente. Daí o ter-se considerado fundamental a criação de uma “bolsa de consultas” a pensar nesses utentes.


Joana Rita Marinho

Os utentes da “bolsa de consultas” irão ficar na unidade

Arrancar com uma USF nestes moldes não foi, sob o ponto de vista logístico, uma tarefa fácil. No entanto, após várias reuniões com a Unidade de Apoio à Gestão do ACES Almada-Seixal, "conseguiu-se encontrar uma solução". Esta passaria por dar apoio à população inscrita no Serviço de Atendimento a Utentes Sem Médico (SAUSM) Cova da Piedade.

Futuramente, quando a USF Saúde Laranjeiro tiver um número suficiente de equipas de família, a “bolsa de consultas” deixará de existir e os utentes em causa ficam na Unidade.


A escassez de especialistas em Medicina Geral e Familiar na região de Lisboa e Vale do Tejo é por demais conhecida e o Laranjeiro é uma das localidades mais afetadas por esse problema.

O facto é que a maioria da população da zona é imigrante, sendo que algumas pessoas permanecem em situação irregular no nosso país, observando-se igualmente que muita gente “vai e vem”, ao longo do ano, consoante as ofertas de emprego vão surgindo.



"A saúde é um direito humano”

A multiculturalidade é também um desafio, havendo quem não fale português, nem sequer inglês, sendo necessário recorrer a intérpretes ou a aplicações de tradução.

“Já fiz uma consulta em árabe, com a ajuda de uma app”, conta Joana Rita Marinho.

Quanto aos portugueses, muitos são idosos ou vivem em condições precárias, em bairros sociais, onde a pobreza e a exclusão são comuns. Embora esta seja uma realidade capaz de assustar alguns, a verdade é que não é esse o sentimento dos profissionais da USF Saúde Laranjeiro, antes pelo contrário, como faz questão de demonstrar a coordenadora:

“Aprendemos tanto com as diferentes culturas! É desafiante e exigente, mas vale a pena. E, claro, a saúde é um direito humano.”



Via Verde Laranjeiro na génese do projeto 

Em boa verdade, a ideia de dar, desta forma, resposta a quem não tem médico assistente não surgiu apenas com a criação da USF. Já dois anos antes, em fevereiro de 2020, a maioria dos membros da equipa se envolvera na criação da denominada Via Verde Laranjeiro (VVL).

O espaço físico onde se encontravam era o mesmo, mas integravam na altura a UCSP Santo António do Laranjeiro.

Quem não possuía médico de família podia marcar uma consulta no próprio dia e os doentes crónicos tinham um acompanhamento regular, inclusive por parte da enfermagem. O sucesso foi notório, tendo conquistado até, em 2021, por esse motivo, o Prémio Fratelli Tutti.

Contudo, com o passar do tempo, começou a haver dificuldade em apoiar um número crescente de pessoas, daí ter surgido a vontade de avançar com uma USF "sem se deixar ninguém de fora".

 

Assim, além da “bolsa de consultas”, que continua no mesmo registo da VVL, os utentes que não puderam ficar no Laranjeiro foram encaminhados para mais duas vias verdes que abriram, já em 2022, em Almada e no Seixal. “Todos precisam de apoio”, reforça a coordenadora.

Diferentes culturas e patologias menos frequentes Tendo-se tornado especialista apenas em 2021, Joana Rita Marinho tem já a seu cargo, como se vê, a gestão de uma USF.


“É uma aprendizagem diária, mas conto com o apoio de todos e inspiro-me nos meus formadores do internato de formação específica, que decorreu numa USF modelo B”, afirma. O facto é que o “espírito de missão” de médicos, enfermeiros e secretários clínicos também ajuda nos momentos mais difíceis.

“Preocupa-nos esta tremenda desigualdade na prestação de cuidados de saúde a populações que até são vizinhas”, desabafa, especificando:

“Não se trata apenas desta circunstância poder originar situações de descompensação em casos de doença crónica, nomeadamente do foro mental. Há também a questão das patologias pouco comuns em Portugal, como a febre tifoide, e que exigem a maior atenção da nossa parte.”



“Não podemos ficar indiferentes"

Laranjeiro encontra-se num processo de adaptação e de (re)organização, para que se possa trabalhar em microequipas, mas já se vai pensando em algumas iniciativas a médio e longo prazo, como a criação de panfletos em diferentes idiomas e ações de educação para a saúde na comunidade.

“É fundamental! Temos pessoas com culturas e hábitos muito diferentes, aos quais nos devemos adaptar, para melhor transmitir mensagens de saúde”, aponta Joana Rita Marinho, alertando que, “sempre que necessário, é preciso prevenir um dos principais problemas, as dependências, quer sejam de estupefacientes, de álcool ou de medicamentos (benzodiazepinas)”.

Uma articulação cada vez mais estreita com o Serviço Social será também outra das vertentes a reforçar no futuro, face às carências socioeconómicas existentes. “Não podemos ficar indiferentes a tudo isto, daí a importância que damos a quem não tem médico assistente”, conclui a coordenadora da USF Saúde Laranjeiro.



A reportagem completa, com entrevistas a outros profissionais da USF Laranjeiro, pode ser lida na edição de maio do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários.


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