«As pessoas que integram o GRESP são realmente apaixonadas pelas doenças respiratórias»
Cláudia Vicente, que é médica de família na USF Araceti, ULS do Baixo Mondego, está prestes a terminar as suas funções como coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP).
Em maio de 2026 inicia um novo desafio, a presidência do IPCRG – International Primary Care e Respiratory Group. Neste 20.º aniversário da criação do GRESP, só encontra uma explicação para o dinamismo que caracteriza este Grupo da APMGF, “o facto de as pessoas que o integram serem realmente apaixonadas pelas doenças respiratórias”.
Cláudia Vicente: “Os CSP em Portugal estão no bom caminho na abordagem ao doente respiratório”
"Temos conseguido concretizar inúmeros projetos"
Em entrevista à Just News, Cláudia Vicente salienta que o grande dinamismo associado ao GRESP "é, sem dúvida, um dos principais adjetivos do Grupo", esclarecendo que "está relacionado com as pessoas que o integram serem realmente apaixonadas pelas doenças respiratórias, fazendo uso do tempo pessoal, da sua boa vontade, e partilhando conhecimento".
E acrescenta: "Existe uma boa interação entre os diferentes membros e também outra coisa fundamental, a colaboração e a partilha de perspetiva entre gerações e colegas de diferentes partes do país, ou seja, experienciando diversas realidades, sempre com uma postura muito positiva, aberta e construtiva. Temos conseguido concretizar inúmeros projetos e acho que, de alguma forma, isso também nos incentiva a continuar."
Uma dinâmica que se verifica também pela crescente presença do Grupo pelo país. Se, na base da sua criação, esteve um grupo de médicos maioritariamente do norte, Cláudia Vicente lembra que, atualmente, o projeto existe pelo país fora, chegando inclusivamente às Ilhas, e não só:
"E mais! Desenvolvemos uma boa relação, por exemplo, com os nossos colegas do Brasil, que se têm inspirado em iniciativas nossas e adaptado materiais que fomos realizando." 
A coordenadora do GRESP com Rui Costa, seu antecessor no cargo, e Jaime Correia de Sousa, o grande impulsionador deste Grupo
A necessidade de uma "abordagem multidisciplinar e em equipa"
O GRESP tem defendido uma intervenção estruturada na gestão do evento respiratório, nomeadamente com o envolvimento muito significativo da enfermagem. Para Cláudia Vicente, é uma perspetiva que faz todo o sentido, conforme explica:
"Em Portugal, os Cuidados de Saúde Primários assentam uma boa parte da sua atuação em unidades de saúde familiar pertencentes ao SNS ou em sistemas que são USF-like. Nesse âmbito, existe um trabalho de equipa com o enfermeiro de família que até é mais evidente em consultas dedicadas como é o caso da Diabetes ou da Saúde Infantil e Juvenil. Portanto, faz todo o sentido que essa abordagem multidisciplinar e em equipa também se faça relativamente à doença respiratória."
E lembra que, "inclusivamente, uma das áreas de especialização da enfermagem é a reabilitação respiratória". Nesse sentido, destaca que "o GRESP tem trabalhado muito nesta área, apresentando em todas as suas Jornadas cursos dinamizados pelo meu colega Dr. Eurico Silva dedicados à formação dos enfermeiros e à estrutura destas consultas respiratórias em equipa".
Dos 0 aos 120
Também se tem observado haver um investimento na elaboração de documentos de apoio à prática clínica. De acordo com a médica de família, "um dos nossos focos prende-se com a formação e a partilha de conhecimento, procurando estruturar o médico de família que trata, diria eu, toda a patologia dos nossos utentes, dos 0 aos 120 anos de idade!".
É muito importante disponibilizar este tipo de documentos de boas práticas clínicas na área respiratória para permitir aos colegas que não estão tão dedicados a ela uma boa atuação com base na evidência científica mais recente. Tal como, certamente, nós precisamos desse género de ferramentas noutros campos a que não estamos tão dedicados.
"Vale a pena continuar"
Como resultado de todo o dinamismo ao redor do GRESP, é natural que também as Jornadas do Grupo não parem de crescer ao longo do tempo, "com o nosso trabalho e o apoio da APMGF", refere Cláudia Vicente.
E, se inicialmente aconteciam a cada dois anos, "depois passámos a ter uma periodicidade anual, refletindo o tal dinamismo do Grupo".
Faz ainda questão de sublinhar que, "o ano passado, tivemos as nossas 10.as Jornadas, tendo ultrapassado a barreira dos 500 participantes. Tivemos as salas sempre cheias e os workshops foram muito discutidos. O sucesso do evento também se deve aos colegas que aparecem e nos fazem perceber que vale a pena continuar."
E como surgiu a ideia para o tema das Jornadas deste ano, “Inspirar o presente, construir o futuro”?
"O GRESP conta já com 20 anos de existência. Este é o nosso presente, é a nossa história! Temos de olhar em frente e perceber quais são os nossos novos desafios na área respiratória, respondendo à evolução da medicina, ao novo perfil de doentes, à evolução dos CSP e do sistema de saúde, aos novos modelos de gestão, à inteligência artificial..."
"Estamos no bom caminho"
Maio de 2026 vai ser uma data importante para Cláudia Vicente, pois, assumirá a presidência do IPCRG, pela segunda vez entregue a Portugal e de novo a alguém que coordenou o GRESP.
Qual o seu significado? "Eu penso que isso espelha o trabalho que nós vimos desenvolvendo e que temos partilhado a nível internacional. Há uma conclusão que podemos tirar: os CSP em Portugal estão no bom caminho na abordagem ao doente respiratório!", afirma a responsável do GRESP..jpg)
A entrevista completa pode ser lida na edição de outubro do Jornal Médico, no âmbito do Especial 20 anos GRESP.


