Reduzir a obesidade: «Temos de agir para que os fármacos estejam acessíveis a todos»

Com o lema "A obesidade é um peso a reduzir", realiza-se, entre os dias 23 e 25 de novembro, o 22.º Congresso Português da Obesidade. Em entrevista à Just News, a presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade (SPEO), Paula Freitas, alerta para o impacto do problema da obesidade na pessoa com a doença e na sociedade em geral.


De acordo com a médica, que termina o mandato de três anos como presidente da Sociedade Portuguesa para o Estudo da Obesidade por ocasião do Congresso, o problema tem-se acentuado nos últimos anos, estimando-se hoje uma prevalência de 60% de obesidade e pré-obesidade em Portugal.


Segundo a assistente graduada de Endocrinologia do Serviço de Endocrinologia do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), a obesidade tem hoje uma prevalência maior nas mulheres (24,3%) do que nos homens (20,1%).


Na sua opinião, no momento o grande desafio é inverter a tendência de aumento da obesidade. “O tratamento é muito importante, mas o foco deve estar na prevenção, em educar para a saúde”, diz, completando: “Ao reduzir a obesidade, diminuímos as comorbilidades e aumentamos a esperança de vida”, salienta.

"Obesidade é um fator de risco para muitas outras doenças"

Paula Freitas lembra que existem diversas complicações ligadas ao problema, sobretudo por causa das comorbilidades associadas, o que faz da obesidade “uma doença e um fator de risco para muitas outras”, pelo que "o tratamento deve passar, sempre, por uma equipa multidisciplinar, que deverá incluir um médico, um nutricionista, um psicólogo e um fisiologista".


Paula Freitas é a coordenadora de Endocrinologia do Centro de Elevada Diferenciação do Tratamento Cirúrgico da Obesidade no CHUSJ, o único do país

As complicações podem atingir os vários órgãos e sistemas, embora as mais conhecidas sejam as metabólicas – hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemia –, mas existem muitas outras que a especialista refere:

"A nível respiratório, existe um risco mais elevado de asma e apneia do sono. Por sua vez, do ponto de vista dermatológico, há maior probabilidade de psoríase. Há depois comorbilidades do foro gastrenterológico, como o refluxo gastresofágico, a esteatose hepática ou fígado gordo, a cirrose e mesmo o cancro hepático."

Já a nível ginecológico e obstétrico, Paula Freitas menciona "os problemas da menstruação irregular, a síndrome do ovário poliquístico, a infertilidade, a gravidez de risco e também os riscos para o recém-nascido".

E acrescenta: "A obesidade aumenta o risco de enfarte do miocárdio e de AVC. Há igualmente problemas musculoesqueléticos, como a artrite e as artroses. Alguns tipos de cancro, quer sejam ou não hormonodependentes, são mais comuns nos obesos. Por sua vez, nos homens, há maior risco de hipogonadismo, disfunção erétil e diminuição da líbido.”

Intervenção do médico de família no diagnóstico da obesidade

Paula Freitas faz questão de chamar a atenção para a importância do papel do médico de Medicina Geral e Familiar na abordagem da obesidade:

"Perante uma pessoa com pré-obesidade e obesidade, o médico de família deve fazer o diagnóstico e elaborar um plano de tratamento que passa sempre pela mudança de estilos de vida – alimentação e exercício –, mas também por prescrever fármacos quando é necessário. Deve estar atento, especialmente a quem já apresenta comorbilidades que têm como causa primeira a pré-obesidade e a obesidade."

Conforme indica, o médico de família deve referenciar os doentes para o hospital a partir de um índice de massa corporal (IMC) igual ou superior a 35 Kg/m2, com comorbilidades associadas não controladas, ou a partir de IMC igual ou superior a 40 Kg/m2. Nos outros casos, refere, “há que rastrear se há patologia endócrina ou genética, situações em que habitualmente têm um tratamento de acordo com a etiologia”.




Segundo a médica, nos últimos tempos, tem-se apostado, sobretudo, na colaboração estreita entre os cuidados de saúde hospitalares e os CSP, para que a maioria dos casos de obesidade seja tratada pelo médico de família.

No que respeita ao tratamento farmacológico, a especialista lamenta o facto de, "apesar de a obesidade ser considerada doença e de ser mais frequente nas classes sociais mais desfavorecidas, não existe comparticipação dos fármacos para o seu tratamento".

“Muitas pessoas não têm poder económico para adquirir estes medicamentos, que são muito caros, o que não faz sentido face às várias comorbilidades associadas e aos custos diretos e indiretos”, diz.

"Declarar guerra à obesidade"

Durante o Congresso Português de Obesidade, terá lugar um simpósio conjunto com a Sociedade Espanhola para o Estudo da Obesidade, no qual será apresentado um protocolo ibérico para o tratamento farmacológico da doença no adulto. “Declaramos guerra à obesidade. Temos de agir para que os fármacos estejam acessíveis a todos”, afirma Paula Freitas.

A médica realça o trabalho desenvolvido por esta Direção da SPEO – que inclui médicos, nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, fisiologistas do exercício físico – e que vai levar à apresentação de três protocolos no Congresso para ajudar os clínicos:

Protocolo para o Diagnóstico e Tratamento das Hipoglicemias após Cirurgia Bariátrica; Protocolo de Tratamento Médico da Obesidade com Médicos, Nutricionistas, Psicólogos e Fisiologistas do Exercício; e Protocolo de Orientação Terapêutica da Diabetes Mellitus após Cirurgia Bariátrica.

Entre vários temas, haverá espaço, ainda, para uma homenagem a José Pedro Lima Reis, que foi o terceiro presidente da SPEO.




Artigo publicado no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de outubro.

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