Anafilaxia: um perigo prevenível

Integrado nas iniciativas da Semana Mundial da Alergia, promovida pela WAO – World Allergy Organization, realizou-se no passado dia 30 de junho o webinar “Anafilaxia: um perigo prevenível”, promovido pela Allergy and Respiratory Education – ARE.
 
A sessão, que contou com a participação do especialista em MGF Rui Costa e dos imunoalergologistas Filipe Benito Garcia e Mário Morais de Almeida, foi dirigida a profissionais de saúde de diferentes áreas, centrando-se numa das reações alérgicas mais graves e imprevisíveis: a anafilaxia.

Discutiu-se a anafilaxia como uma emergência médica que exige tratamento imediato, sendo a adrenalina intramuscular a terapêutica de primeira linha, não existindo contraindicações absolutas. Alertou-se para o facto de muitos casos continuarem subdiagnosticados – mais de 50% dos doentes que recorrem às urgências com sintomas compatíveis não recebem o diagnóstico correto. Tal realidade reforça a necessidade de formação transversal da equipa de saúde, desde médicos e enfermeiros a farmacêuticos, para melhorar o reconhecimento precoce e uma resposta imediata eficaz.



Foram abordadas de forma clara as atualizações da definição e os novos critérios de diagnóstico da WAO (2025), devendo a anafilaxia ser considerada quando há envolvimento súbito da pele/mucosas associado a sintomas respiratórios ou cardiovasculares; ou quando surgem dois ou mais sistemas afetados após exposição a um alergénio provável; ou ainda quando há envolvimento isolado do sistema respiratório ou cardiovascular após contacto com um alergénio conhecido ou provável para aquele doente, mesmo sem sinais cutâneos. Importa sublinhar que estes podem estar ausentes em até 20% dos casos, o que pode dificultar e atrasar o diagnóstico.

Reforçou-se a ideia-chave: «Em caso de dúvida, tratar como anafilaxia»

O webinar permitiu ainda rever os principais desencadeantes, que afetam todos os grupos etários, desde a infância até à idade adulta. Entre os mais comuns estão alimentos (como leite, ovo, frutos secos, marisco, peixe e frutas frescas), fármacos (antibióticos betalactâmicos, AINE, anestésicos), venenos de himenópteros e, menos frequentemente, o látex, agentes físicos, como o frio ou o exercício. Discutiu-se também o papel dos cofatores de gravidade, como o esforço físico, o jejum, as infeções ou a toma simultânea de certos medicamentos, que podem agravar reações mesmo após exposição a doses mínimas de alergénio.



Foi destacado o valor da determinação da triptase sérica como ferramenta auxiliar, embora o diagnóstico seja eminentemente clínico. Enfatizou-se ainda a importância da prescrição de auto-injetores de adrenalina (Epipen®, Anapen®), com explicação prática do seu uso, e o futuro da adrenalina intranasal (Eurneffy™, já aprovado pela Agência Europeia do Medicameto - EMA), que poderá aumentar o acesso em alguns contextos.

Finalmente, sublinhou-se a necessidade de registo sistemático da alergia no processo clínico eletrónico, de referenciação atempada para a Imunoalergologia, e da elaboração de planos personalizados de prevenção e ação, adaptados a cada doente e partilhados com toda a equipa de saúde.


A mensagem foi clara: a anafilaxia pode ser letal, mas com conhecimento, ação rápida e colaboração interdisciplinar, é possível salvar vidas e evitar repetições.

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