Opinião
Declaração de Consenso: A importância de vacinar as crianças contra a gripe
ANMSP, GRESP, SPAIC e APECSP
Quatro sociedades científicas redigiram um consenso em que apelam à vacinação universal das crianças, reforçando a nova estratégia de vacinação contra a gripe da Direção-Geral da Saúde.
Quatro sociedades científicas redigiram um consenso em que apelam à vacinação universal das crianças, reforçando a nova estratégia de vacinação contra a gripe da Direção-Geral da Saúde.
A gripe sazonal, uma doença respiratória comum causada pelo vírus do género influenza, é amplamente prevenível e tem um impacto significativo na saúde das crianças. Em Portugal, entre as épocas de 2008/09 e de 2017/18, 17% dos internamentos por influenza foram registados em crianças até aos 17 anos(1), sendo que, nas épocas entre 2015 e 2018, 88% destes internamentos ocorreram em crianças sem fatores de risco(1). Estes valores refletem a necessidade de intervenções adicionais às medidas fundamentais de etiqueta respiratória.
Para além das hospitalizações, sabe-se que a gripe e outras infeções respiratórias são responsáveis por um elevado número de consultas não programadas e episódios de urgência hospitalar. No início do pico gripal, cerca de 70% das idas à urgência dizem respeito a crianças, de acordo com o mais recente relatório da Direção-Geral da Saúde(²).
As crianças têm um papel fundamental na transmissão da gripe. Podem contagiar antes de serem sintomáticas, apresentando um período de transmissibilidade mais longo do que os adultos(3). Apresentam elevada probabilidade de contrair gripe fora do agregado familiar e são os principais vetores da transmissão secundária dentro dos agregados familiares(4).
Reforçar os programas nacionais de imunização
O impacto da gripe sazonal pode ser atenuado através da implementação das medidas de etiqueta respiratória e da vacinação contra a gripe, incluindo em idade pediátrica, proporcionando proteção direta contra a doença grave e a redução da transmissão comunitária(5). Em Espanha, durante a época 2023/2024, após a introdução da vacinação no programa de imunização pediátrica para crianças entre os 6 e os 59 meses, observou-se uma redução de 70% na procura de cuidados de saúde primários e de 77% nas hospitalizações por doença respiratória aguda nesta faixa etária(6). A vacinação pediátrica também aumenta a proteção aos grupos de risco(7).
Para garantir uma melhor proteção da faixa etária entre os 6 e os 59 meses, bem como dos grupos mais vulneráveis, recomenda-se a vacinação universal das crianças contra a gripe, em conformidade com as orientações da Organização Mundial de Saúde sobre vacinação contra a gripe em crianças(3).
Adicionalmente, caso haja disponibilidade de vacinas e sem comprometer a vacinação dos restantes grupos prioritários, recomenda-se que a Direção-Geral da Saúde considere o alargamento desta campanha a todas as crianças e adolescentes até aos 17 anos.
Embora a campanha já inclua mulheres grávidas e coabitantes de crianças com menos de 6 meses(8), recomenda-se um reforço da comunicação direcionada a estes grupos, visando a proteção dos bebés que não podem ser vacinados.
A adesão aos programas de vacinação pediátrica contra a gripe pode ser aumentada através de campanhas de comunicação e sensibilização claras e eficazes, do investimento na literacia em saúde e pela implementação da vacinação em ambientes comunitários, facilitando o acesso de forma mais conveniente e familiar.(3,5)
Recomenda-se:
- Vacinação universal das crianças dos 6 aos 59 meses contra a gripe
- Reforço da comunicação a mulheres grávidas e coabitantes de crianças com menos de 6 meses
- Alargamento da campanha de vacinação a todas as crianças e adolescentes até aos 17 anos
Referências bibliográficas:
1. Caldas Afonso, A., Gouveia, C., Januário, G. et al. BMC Infect Dis 24, 100 (2024). https://doi.org/10.1186/s12879-023-08685-z
2. Direção-Geral da Saúde (DGS). Relatório n.º 111. Semana 03/2025. Disponível em: https://covid19.min-saude.pt/wp-content/uploads/2025/01/20250123_Relatorio-111-Inverno-44_Semana-03_25-Resposta_Sazonal_em_Saude_Vigilancia_e_Monitorizacao.pdf
3. World Health Organization. Vaccines against influenza WHO position paper – May 2022. Weekly Epidemiological Record. 2022 May 13; 97(19):185-208. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/who-wer9719-185-208 com atualização em 2025 disponível em: Table 1: Summary of WHO Position Papers – Recommendations for Routine Immunization. January 2025. Geneva: World Health Organization; 2025. Available from: https://cdn.who.int/media/docs/default-source/immunization/immunization_schedules/table_1_january_2025_web_english.pdf
4. Endo A, Uchida M, Kucharski AJ, Funk S (2019) PLoS Comput Biol 15(12): e1007589. https://doi.org/10.1371/journal.pcbi.1007589
5. Comissão de Vacinas da Sociedade Portuguesa de Infeciologia Pediátrica e Sociedade Portuguesa de Pediatria. Recomendações sobre Vacinas Extra Programa Nacional de Vacinação Disponível em https://www.sip-spp.pt/vacinas/comissao-de-vacinas/
6.
Pérez-Gimeno G, SiVIRA group, et al; Euro Surveill. 2024 Oct;29(40):2400618. doi: 10.2807/1560-7917.ES.2024.29.40.2400618.
7.
Hill EM, House TA, Lewer D, Baguelin M, Scholey J, Mossong J. The Lancet Regional Health – Europe. 2024;37:100769. doi:10.1016/j.lanepe.2024.100769.
8.
Norma da DGS: Campanha de Vacinação Sazonal contra a Gripe: Outono-Inverno 2024-2025, emitida a 04/09/2024, disponível em: https://www.sns24.gov.pt/pt/tema/vacinas/vacinacao-gripe-e-covid-19/
Este documento foi redigido na sequência de uma reunião realizada com o apoio da AstraZeneca, em que estiveram presentes peritos de várias àreas, nomeadamente, Pediatria, Saúde Pública, Medicina Geral e Familiar, Imunoalergologia e Enfermagem.


