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Opinião

«A Hospitalização Domiciliária é uma resposta segura a muitas patologias médicas agudas»


Francisca Delerue

Diretora da Unidade Hospitalização Domiciliária e do Serviço de Medicina Interna do H. Garcia de Orta. Coordenadora do NEHospDom da SPMI



A Hospitalização Domiciliária define-se como a prestação de cuidados de saúde no domicílio a doentes com patologia aguda ou crónica agudizada que exijam cuidados hospitalares e cumpram critérios clínicos, sociais e geográficos que permitam o internamento no domicílio.

Surgiu na década de 40 nos Estados Unidos da América. Tem crescido a adesão dos hospitais americanos e europeus a esta abordagem, que se provou segura, eficaz e com capacidade de resposta a um grande número de patologias médicas agudas, evitando todos os problemas inerentes ao internamento convencional.

A hospitalização domiciliária em Portugal tem início no Hospital Garcia de Orta, em novembro de 2015. Só em 2018 surgem outras unidades e em outubro desse ano 25 hospitais assinaram contratualização com o SNS para a abertura de unidades.

Encontram-se em funcionamento 39 unidades do SNS e 1 privada (CUF), sendo poucos os hospitais do SNS que ainda não implementaram este projeto. A HD conta já com 25.280 doentes tratados até ao final de 2022.

Em 2022 foram tratados cerca de 9000 doentes, mais 20,4% do que em 2021, com uma demora média de 10 dias e uma taxa de mortalidade de 2%, de óbitos expectáveis.


Francisca Delerue

Atualmente, cerca de 340 doentes estão diariamente internados em casa, o que corresponde a um hospital de média dimensão. Podemos assim dizer que temos um hospital sem paredes.

Foram ultrapassadas as metas estabelecidas pela tutela, com o alcance em 2022 dos objetivos determinados até 2024.

Existem dois modelos possíveis que podem ser adotados em separado. Um que substitui completamente a admissão de doentes, referenciando-os diretamente do Serviço de Urgência e/ou comunidade, e outro que facilita a redução da estadia hospitalar e recruta os doentes nas enfermarias, após um período de estabilização clínica inicial.

No entanto, é frequente a adoção de um modelo misto, isto é, uma combinação em grau variado dos dois modelos referidos, dependendo das necessidades do hospital.

A HD assenta em cinco princípios fundamentais:

- voluntariedade na aceitação do modelo, por parte do doente e/ou cuidador;
- igualdade de direitos e deveres do doente, face ao internamento convencional;
- equivalência de qualidade na prestação dos cuidados, sem prejuízo do prognóstico do doente;
- rigor na admissão de doentes e no seu seguimento clínico, com base nas melhores práticas clínicas e na melhor evidência científica;
- humanização de serviços e valorização do papel da família, investindo na promoção e educação para a saúde.

As admissões diretas no domicílio estão a crescer, quer a partir de referenciações dos cuidados de saúde primários, ou como transferências de outros hospitais, tendo havido um aumento de cerca de 68,32% em 2022.


É importante mantermos o trabalho conjunto que vem sendo realizado, com o apoio do Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária (NEHospDom) da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), para uniformização das diferentes unidades.



O artigo pode ser lido na edição de outubro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários, no âmbito de um Especial dedicado à Hospitalização Domiciliária, concebido em parceria com o Núcleo de Estudos de Hospitalização Domiciliária da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna.

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