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Unidades académicas de ensaios clínicos «já estão a atrair investigação para Portugal»

Está a ganhar terreno em Portugal uma nova forma de fazer investigação. Por ser membro da ECRIN (European Clinical Research Infrastructure Network), Portugal desenvolveu e implementou o conceito de Clinical Trial Units (CTU) académicas. Neste momento, o AIBILI, ligado à Universidade de Coimbra, e a NOVA Clinical Research Unit, com ligação à Universidade Nova de Lisboa, estão já capacitados para exercer funções de apoio a todas as fases da investigação clínica.



Esta foi uma das principais mensagens passadas na reunião da ECRIN, que recentemente decorreu, pela primeira vez, em Portugal. No auditório do Infarmed esteve presente não só o presidente daquela entidade, Jacques Demotes, mas também a coordenadora do PtCRIN (Portuguese Clinical Research Infrastructure Network), Emília Monteiro, que em declarações à Just News sublinhou a importância deste avanço da investigação clínica portuguesa.

Iniciativas académicas com menor investimento

A indústria, nos seus ensaios, usa instituições semelhantes a estas, as Clinical Research Organizations, que são empresas que se dedicam a apoiar o desenho, a submissão, a monitorização, a farmacovigilância e a implementação da investigação clínica. O problema, explica Emília Monteiro, surge quando a investigação não tem origem na indústria farmacêutica:

“Quando a investigação é de iniciativa académica, os orçamentos são muito reduzidos porque os financiamentos são menores. Portanto, até hoje, este tipo de investigação clínica estava muito restrita e isso explica que estejamos, neste campo, muito abaixo do patamar a nível europeu.”


Emília Monteiro e  Jacques Demotes.

Perante este cenário, Emília Monteiro sublinha a importância de as CTU nacionais terem as ferramentas necessárias para gerir dados clínicos em segurança e com qualidade, embora ressalve que essa capacidade está ainda subexplorada. A expectativa é de que a recente certificação traga novos investigadores a breve trecho.

“Esta certificação europeia dá-nos a esperança de que possamos atrair para Portugal a gestão e coordenação de estudos clínicos de iniciativa de outros países. A nível da Oftalmologia, por exemplo, isso já está a acontecer, num estudo financiado pela UE. Precisamos de alargar este modelo a outras áreas e de ganhar terreno”, incita a coordenadora do PtCRIN, que aposta numa mudança de padrão na investigação clínica.



"Selo de qualidade e competência"

“É, sem dúvida, uma mudança de paradigma em que as CTU académicas abrem uma nova janela de oportunidade”, realça Emília Monteiro, que revela que apenas em dois anos já foram atraídas para o nosso país verbas de projetos europeus no valor de 700 mil euros. Ainda se trata de projetos coordenados por estrangeiros, mas a especialista acredita que esta aposta em Portugal e nas CTU nacionais "é um selo de qualidade e competência que as fará desenvolver".

Na sua opinião, a vantagem de produzir estes resultados em Portugal é que, "quanto mais investigação se fizer, mais capazes se tornarão as instituições portuguesas, pois, ganhamos experiência e conseguimos atrair para Portugal investidores. Isso significa desenvolver a economia e criar emprego.”




“Voto de confiança nas nossas competências”


A ECRIN escolheu Portugal para fazer a sua reunião anual, antecedendo o encontro da PtCRIN, que teria lugar no mesmo dia, estando Emília Monteiro convicta de que esse facto é revelador do crescimento do país no âmbito dos ensaios clínicos e trouxe aos profissionais que estiveram presentes a oportunidade de novas aprendizagens.

“Ter sido feito esta reunião em Portugal significa que houve um voto de confiança nas nossas competências. A PtCRIN já conquistou na ECRIN algum reconhecimento e mérito, o que permitiu que o evento tivesse lugar em Lisboa e com sucesso. É uma recompensa e um aumento da nossa visibilidade, para além de tudo o que aprendemos nesta matéria”, resume Emília Monteiro.



Ensaios de iniciativa dos investigadores

Já sobre a importância dos ensaios clínicos, a professora da Universidade Nova de Lisboa destaca o facto de se promoverem ensaios de iniciativa dos investigadores, que respondam a perguntas diferentes dos promovidos pela indústria.

A especialista considera que esse tipo de pesquisa é fundamental para a sustentabilidade do SNS e para a prática clínica, explicando que nem todos os problemas dos médicos são respondidos pela indústria.



“De forma geral, sem ensaios clínicos não há produção de conhecimento e não melhoramos o tratamento dos doentes e a sua efetividade. Por isso, precisamos de produzir resultados”, conclui.




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