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Um terço dos casos de neuropatia "poderá evoluir para uma situação debilitante"

Diabetes mellitus (DM), alcoolismo, idade avançada ou deficiência em vitamina B12 são os principais fatores de risco associados à neuropatia. A prevenção e o diagnóstico precoce são dois pontos fundamentais para se evitar a sua evolução para um quadro debilitante, pondo em causa a qualidade de vida e o bem-estar, além de se evitarem os custos indiretos associados.

“A neuropatia é o sofrimento dos nervos, que pode ter origem em diferentes causas, sejam estas do foro traumático, infecioso, inflamatório, autoimune, metabólico ou neurodegenerativo”, explica José Pereira Monteiro, neurologista e investigador do i3S - Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto. 

Em entrevista à Just News, o especialista sublinha a importância da atual campanha “Escute o seu corpo”, que alerta precisamente para a necessidade de a doença ser diagnosticada numa fase precoce, para se evitarem os quadros mais complicados: “Com determinada terapêutica, é possível travar a progressão para estádios mais graves, que são muito incapacitantes e irreversíveis.”

Para o também professor catedrático jubilado de Neurologia da Universidade do Porto, a Medicina Geral e Familiar tem um papel essencial a este nível: “Os doentes tendem a recorrer, em primeira instância, ao seu médico de família e é este profissional de saúde que deve estar atento aos primeiros sintomas, como formigueiros, picadelas e ardor.”



A intervenção do médico de família é igualmente crucial nos mais graves, como a perda de sensibilidade. “Esta surge numa fase mais avançada e é preciso agir em conformidade para se evitarem os piores cenários”, indica.

Para que o médico de família possa fazer esse diagnóstico atempado, "torna-se crucial questionar e estar atento aos chamados grupos de risco", que são sobretudo pessoas com diabetes, com dependência do álcool, de idade avançada e com deficiência de vitamina B12. Mas também quem sofra de problemas do foro vascular, como aterosclerose ou doença venosa.

José Pereira Monteiro afirma que “a melhor forma de se saber se a pessoa está em risco ou se já apresenta alguma alteração neurológica é perguntar se tem alguns sinais e sintomas, como formigueiro, ardor ou sensação de queimadura, dormência, sensação de picadas e fraqueza muscular”.

O “peso” da diabetes mellitus

Das várias patologias que podem conduzir a um quadro de neuropatia a mais frequente é a diabetes mellitus.

“Começa-se com alterações ligeiras nos membros inferiores – podendo também afetar os superiores –, tais como formigueiro e ardor nas extremidades, caminhando-se para outros como adormecimento das extremidades, secura da pele ou sudação excessiva dos pés, queda de pelos, que vão aumentando de intensidade e que, caminhando no sentido proximal, levam à perda de funções dos neurónios”, aponta.

E é precisamente a partir daí que surge, sobretudo, o pé diabético, uma das principais comorbilidades da diabetes, “com o aparecimento das úlceras e de um processo necrotizante que leva à amputação numa fase mais tardia e muito mais grave, com todo o impacto que isso tem na vida de qualquer um”. De qualquer modo, e como o médico faz questão de referir, “essas são as situações limite, a neuropatia pode e deve ser detetada muito antes, porque na fase precoce é reversível”.

No caso específico do alcoolismo, o problema é mais de natureza tóxica: “É preciso estar-se atento aos sintomas, porque o excesso de álcool provoca danos a nível do sistema nervoso periférico.”

Nas idades mais avançadas, as causas são as mais variadas, destacando-se as patologias metabólicas e as vasculares, como é caso da aterosclerose. Face a esta doença que começa de forma silenciosa "e cujos sintomas nem sempre são fáceis de associar no imediato a esta patologia", José Pereira Monteiro reforça as competências próprias do médico de família: “Conhece a história clínica, podendo fazer uma avaliação mais detalhada e, face à sua proximidade consegue mais facilmente questionar os doentes para detetar alterações.”

Quando já existe o diagnóstico de neuropatia, e nos casos mais complexos, "deve-se referenciar para Neurologia, embora o sucesso da luta contra esta doença esteja, essencialmente, nos cuidados de saúde primários, que têm um papel mais vincado na área da prevenção e do diagnóstico precoce".



Sensibilizar a população com o apoio da APMGF

Mas não é apenas o médico de família que deve estar atento, a população também, de modo que ao apresentar determinados sintomas possa pedir, de imediato, ajuda e confirmar o diagnóstico.  Nesse sentido, foi lançada, em agosto, a campanha “Escute o seu corpo”.

O objetivo desta iniciativa da Merck, que conta com o apoio da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), é, essencialmente, dar a conhecer os sintomas da neuropatia, para se ir contra a atual tendência de subdiagnóstico de uma patologia que é comum na população.


Nesta campanha, os portugueses são alertados para as principais manifestações desta patologia: a perda de sensibilidade, o formigueiro e o ardor, sintomas que afetam, sobretudo, o sistema nervoso periférico, ou seja, braços e pernas.

De acordo com os promotores da campanha, “a neuropatia atinge cerca de 8% da população em geral, mas a frequência pode ultrapassar os 50% nos idosos, diabéticos e alcoólicos”.
Alerta-se ainda para o facto de que “1 em cada 3 pessoas poderá evoluir para um quadro debilitante”, daí a necessidade de a população estar atenta aos sintomas para pedir ajuda médica. Para mais informações, é possível consultar o site www.escuteoseucorpo.pt.


Campanha a nível mundial

Associados a esta causa estão figuras públicas, sociedades médicas e científicas e grupos de doentes. O objetivo de cada um é o mesmo: alertar para uma doença que, apesar de ser muito comum, está subdiagnosticada. Em Portugal, e além da APMGF, a campanha tem o apoio da atriz Rita Blanco.

As mensagens são simples e diretas e incidem sobretudo nos sintomas, grupos de risco e prevenção. A campanha teve início em agosto, na televisão, mas também envolveu a colocação de cartazes em unidades de saúde familiar e em unidades de cuidados de saúde personalizados, bem como a componente online.


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