Tratar a hipertensão com a medicação certa otimiza a adesão do doente
Uma das conclusões a retirar do que foi transmitido numa sessão do 19.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global é que a escolha do medicamento mais adequado para tratar logo de início um doente com hipertensão é fundamental, desde logo, para que aquele cumpra o tratamento prescrito.
Rosa de Pinho, Fernando Pinto e Jorge Polónia
Numa sessão moderada pela médica de família Rosa de Pinho, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), o internista Jorge Polónia e o cardiologista Fernando Pinto não deixaram de lembrar, numa apresentação conjunta, no último Congresso da SPH, em fevereiro, que as guidelines recomendam a opção por uma associação fixa de dois fármacos de longa ação no tratamento da hipertensão (HTA).
As recentes guidelines produzidas primeiro pela Sociedade Europeia de Hipertensão (2023) e logo depois pela Sociedade Europeia de Cardiologia (2024) coincidem em diversos aspetos, um dos quais se prende com a absoluta necessidade de a medição da pressão arterial (PA) ser feita de forma adequada e utilizando aparelhos devidamente validados. Algo que, aliás, a OMS já preconizara há muito tempo, como salientou Jorge Polónia, especialista de Medicina Interna da ULS de Matosinhos e professor catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Também a necessidade de, nalguns casos, o doente fazer a medição da PA em casa ou de recorrer à MAPA (monitorização ambulatória da PA) de 24 horas surge como recomendação por parte das duas sociedades.
“Sobretudo quando é preciso caracterizar duas situações, a HTA de bata branca e a HTA mascarada, mas também para procurar avaliar eventuais efeitos inconvenientes de determinado tipo de fármacos ou, por exemplo, identificar uma HTA resistente”, referiu o especialista, registando haver consenso quanto à definição de hipertensão arterial: quando a PA se situa acima de 140/90 mmHg.
Para Fernando Pinto, cardiologista da ULS de Entre Douro e Vouga, “é importante fazermos uma avaliação global do risco cardiovascular do nosso doente antes de tomarmos uma decisão quanto ao tipo e à intensidade da terapêutica a administrar, porque não nos podemos esquecer que o objetivo primeiro é tratar a pessoa, para lá de atuar sobre o valor da PA”.
Avaliar aspetos como o metabolismo da glicose e o perfil lipídico, bem como verificar se já existem lesões associadas à HTA ou a uma diabetes, como a alteração da função renal, ou, nomeadamente, um histórico de doença coronária estabelecida, “tudo isso terá que ser tido em conta”, frisou o médico.
Quanto aos alvos tensionais a atingir, até pelo que atrás se disse, parece não haver dúvidas de que terão que ser personalizados. “As guidelines de ambas as sociedades colocam reservas à generalização do objetivo por elas próprias indicado como sendo o ideal”, referiu Jorge Polónia, acrescentando:
“A Sociedade Europeia de Hipertensão tem até uma postura mais conservadora no objetivo a atingir em indivíduos com mais de 65 anos, caso eles sejam mais idosos, apresentem fragilidade ou corram o risco de HTA ortostática.”
“Dois fármacos de provas dadas”
Quanto ao denominado tratamento não farmacológico da hipertensão, não há que hesitar, sublinhou Fernando Pinto: “É para iniciar sempre e logo, independentemente do valor da PA, e assenta numa alteração profunda do estilo de vida do doente.” Mas o cardiologista vai mais longe: “A adoção de uma vida saudável deve ser recomendada mesmo a quem não tem a PA elevada, procurando-se prevenir assim o aparecimento da doença.”
Abordando o tratamento farmacológico, Jorge Polónia afirmou que ambas as guidelines “são coincidentes quanto a iniciar a terapêutica, na grande maioria dos doentes, com uma associação de duas substâncias com mecanismos de ação complementares”. No caso da Sociedade Europeia de Hipertensão, as orientações emanadas vão até no sentido de “intensificar as dosagens de ambos os componentes, por forma a otimizar o controlo tensional, quando o indivíduo não responde a dosagens iniciais médias”.
“A escolha da medicação é fundamental também para otimizar a adesão à terapêutica. Até porque, se não tivermos cuidado na seleção do primeiro fármaco que vamos usar, podemos ‘matar’ toda a terapêutica daí para a frente, nomeadamente pelo receio do doente relativamente aos seus efeitos laterais, sejam eles reais ou não”, destaca Fernando Pinto.
Na parte final da sessão, intitulada “Além do 14/9: perspetivas e desafios para 2025”, Jorge Polónia focou-se nas vantagens da associação azilsartan + clorotalidona, disponibilizada em duas dosagens diferentes e em comprimido único, incluindo o facto, que não é de desprezar, de este último aspeto ser naturalmente facilitador da adesão terapêutica.
“São dois fármacos de provas dadas, sendo importante não esquecer que as novas guidelines são sugestivas de que, sempre que possível, podemos tentar alcançar valores de controlo da PA mais exigentes, da ordem dos 120/70 mmHg, desde que os doentes sejam capazes de os tolerar”, afirmou Jorge Polónia, concluindo:
“Estamos a falar, portanto, de moléculas potentes, quer o azilsartan, quer a clorotalidona, e nós sabemos hoje que essa é uma condição absolutamente necessária para se conseguir o controlo tensional e oferecer proteção cardiovascular.”