Transfusões de sangue: PBM permite «expressiva redução da morbilidade e da mortalidade»
“O sangue é de facto um bem muito precioso. Tão precioso, que rentabilizar o nosso próprio sangue deve ser a nossa primeira prioridade antes de partir para outra opção”, refere João Mairos, presidente do Anemia Working Group Portugal (AWGP).
A propósito do Dia Nacional da Anemia, assinalado no passado domingo, o médico sublinha que a solução “passa por estabelecer estratégias para que não venha a ser necessário transfundir. Essas estratégias constituem um conceito denominado Patient Blood Management ou, mais simplesmente, PBM".
Um Programa que engloba vários atores, "desde os especialistas em Medicina Geral e Familiar até aos cirurgiões, passando pelos imunohemoterapeutas, patologistas clínicos, anestesiologistas...", indica. Ou seja, "todos devem estar cientes da preocupação em valorizar o sangue do próprio doente como primeira prioridade e planear a sua intervenção clínica em função também disso”.
João Mairos
E falar em transfusão de sangue quando se fala em anemia faz todo o sentido, como João Mairos faz questão de lembrar:
"A anemia é um problema comum entre as pessoas submetidas a cirurgia e com muitas das doenças que mais vidas roubam, como cancro, doença renal crónica, doenças cardiovasculares, gastrointestinais ou diabetes, para quem as transfusões de sangue continuam a ser uma forma de gerir a doença."
"O que é preciso, é fazer"
Contudo, esta dependência de sangue tem custos, pelo que o especialista reforça a necessidade de "implementar estratégias que permitam a utilização adequada das transfusões sanguíneas".
Lamenta, por isso, que em Portugal "não exista um programa nacional, apesar de existir uma base formal para a implementação de PBM".
E acrescenta: "A Assembleia Mundial da Saúde, na sua Resolução WHA63.12, em 2010, insta os Estados-Membros da OMS a promover o PBM; a nossa Assembleia da República, na Resolução nº 269/2021, dá suporte legislativo para que a implementação de PBM seja uma realidade em Portugal. Agora, o que é preciso, é fazer.”
João Mairos destaca ainda que, em 2021, "foi publicado em Portugal, em Diário da República, o Despacho nº1231/2021 que determinou a implementação do Programa de PBM nas instituições hospitalares do Serviço Nacional de Saúde".
Vantagens do PBM
“As grandes mais-valias para os doentes estão bem documentadas e são uma expressiva redução da morbilidade e da mortalidade, com uma redução da necessidade de transfusões de sangue que se estima em 50%”, reforça o especialista.
Faz ainda questão de indicar que "constitui uma melhoria global da prática clínica, baseia-se em evidência científica e constitui mesmo uma obrigação ética. Por outro lado, para o sistema de saúde não custa dinheiro, não aumenta o volume de trabalho e gera um benefício económico que se estima em 68 milhões de euros por ano.”
No Dia Nacional da Anemia, o AWGP lançou o projeto "Anemia Podcast" e que teve como primeiro tema o PBM em Ginecologia. "De duas em duas semanas sairá um novo podcast e os temas serão os mais variados, abordando assuntos desde a doença renal à cardiologia, passando pelos cuidados paliativos, o idoso, a oncologia e muitas outras áreas que têm na anemia (e também no PBM) uma área comum", adianta João Mairos.
Para mais informações consulte o site da AWGP.