Apostar na formação dos médicos face à «mudança de paradigma da infeção por VIH»
Para o coordenador do Núcleo de Estudos da Doença VIH da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, “é importante apostar na formação face à mudança de paradigma da infeção por VIH, que voltou a afetar mais homens que fazem sexo com homens, assim como idosos”. Telo Faria falou à Just News no âmbito do 2.º Curso de Abordagem do Doente VIH na Urgência, organizado em parceria com o Núcleo de Internos de Medicina Interna da SPMI.
Telo Faria considera que o facto de, atualmente, estes serem dois grupos mais afetados pelo vírus da SIDA se deve muito às novas práticas sexuais. “As diferentes formas de relacionamento sexual -- caso do sexo em grupo --, o aumento do consumo de fármacos para a disfunção sexual e a procura de trabalhadores do sexo por parte dos mais idosos contribuem para um aumento da incidência nestes grupos.”
No caso dos homens que têm sexo com homens, o internista salienta que, “apesar da informação disponível, também existe uma ideia de facilitismo associada aos tratamentos, por estes permitirem viver mais anos e com qualidade”.
Embora estas populações sejam uma preocupação, Telo Faria mostra-se satisfeito com os avanços verificados nos últimos anos, nomeadamente no diagnóstico mais precoce das pessoas com idade superior a 55 anos. “Os clínicos estão mais alerta e mais sensibilizados e tem diminuído a incidência da infeção por VIH junto dos consumidores de drogas injetáveis”, refere.
90-90-90
O responsável destaca ainda as orientações da ONUSIDA para 2020, cujo objetivo é que 90% das pessoas que vivem com VIH sejam diagnosticadas, 90% das diagnosticadas estejam sob tratamento antirretroviral e 90% das que se encontram sob tratamento antirretroviral atinjam carga viral indetetável.
Alguns dos membros da Comissão Organizadora com formadores do Curso: Luísa Azevedo, Ricardo Fernandes, Margarida Mota, Fátima Leal Seabra, Telo Faria, Teresa Fevereiro, Ana Paula Brito, Inês Vaz Pinto, Sara Almeida Pinto e Domitilia Faria.
Estigma ainda é "um grave problema"
Além destas metas, Telo Faria alerta para a questão do estigma. “Continua a ser um grave problema, que se agudiza quando existem questões sociais graves de marginalização e pobreza”, aponta.
“Nem sempre é fácil fazer uma avaliação clínica"
Ricardo Fernandes, coordenador do Núcleo de Internos de Medicina Interna da SPMI, disse à Just News estar muito satisfeito com o sucesso do curso. “A primeira edição realizou-se em 2015 e, face aos bons resultados, optou-se por esta segunda, mas com algumas alterações”, explica. Além da “componente clínica intensiva”, foram também abordadas matérias relacionadas, por exemplo, com os cuidados paliativos ou com a comunicação de más notícias.
Quanto aos desafios futuros da infeção por VIH, estes passam, sobretudo, pelo acompanhamento do doente, segundo Ricardo Fernandes. “Nem sempre é fácil fazer uma avaliação clínica, perceber-se se os sintomas advêm da infeção, dos tratamentos ou de outra doença que qualquer pessoa pode ter, principalmente na urgência.” Por isso mesmo, sublinha o papel do internista, “o especialista que tem uma visão holística do doente”.
Participantes do 2.º Curso de Abordagem do Doente VIH na Urgência.