«Serei a primeira mulher presidente (da Sociedade Portuguesa de Cardiologia) em 75 anos»
"Cada vez mais eu penso que aquilo em que devemos apostar, mesmo em termos de Cardiologia e de futuro, será na prevenção", afirma Cristina Gavina, presidente eleita da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC).
A médica afirma que, "mais do que estarmos focados apenas na diferenciação e no tratamento da doença aguda, poderemos fazer a diferença com ações preventivas. Por isso é que gosto muito de falar com a Medicina Geral e Familiar e com a Medicina Interna – por entender que são especialidades muito abrangentes, que podem chegar a um grande número de pessoas, o que a Cardiologia muitas vezes não consegue."
E salienta precisamente que "essa oportunidade de poder multiplicar a nossa capacidade de intervir, não com um doente especificamente, mas através de outras pessoas, e atingir assim muitos mais doentes, é, na realidade, aquilo que me move".
Cristina Gavina
“Serei a primeira mulher presidente em 75 anos”
Cristina Gavina será já em abril a primeira mulher a presidir à SPC em 75 anos de história daquela Sociedade, uma realidade que encara de uma forma muito natural:
"Nós somos uma sociedade científica aberta e eu acho que há cada vez mais oportunidades para as mulheres na área da Cardiologia. Aliás, nós já somos a maioria em termos de representatividade. Penso que houve muitas mulheres extremamente bem preparadas que podiam ter sido fantásticas presidentes, mas nunca tiveram essa vontade."
E acrescenta: Este cargo implica dedicarmos dois anos da nossa vida, basicamente, a um trabalho extremamente intensivo, que vai ter, seguramente, impacto e custos na nossa vida pessoal. É uma daquelas decisões que não se toma sozinha."
E lembra o que fez antes de se propor a esta responsabilidade. "Tive de me sentar junto da minha família e perguntar como encaravam esta ideia, que ia implicar, provavelmente, ainda mais viagens e deslocações. A resposta foi ´Por favor, vai em frente!` Sempre me deram imenso apoio, no sentido de eu progredir na minha carreira", afirma.
"Há duas figuras responsáveis pela minha ligação à SPC"
"Felizmente, já estou há muito tempo ligada à Sociedade Portuguesa de Cardiologia", afirma Cristina Gavina, salientando a oportunidade que tem tido de "participar quer nos grupos de estudo, quer em duas direções, onde efetivamente ganhei imensa experiência".
E faz questão de referir que "há duas figuras responsáveis pela minha ligação à SPC. O Prof. João Morais foi o primeiro a convidar-me para uma Direção da SPC (2017-2019), enquanto vogal, e para palestrar na área dos antitrombóticos, quando eu estava muito ligada aos cuidados intensivos e ao tratamento da doença coronária."
O seu papel terá sido bastante importante, conforme refere: "Desde então, envolveu-me em bastantes projetos que desenvolveu. Deu-me oportunidades imensas dentro da Cardiologia e é, de facto, uma pessoa que respeito e admiro e que continua a ser muito importante para mim e a dar-me muito bons conselhos."
E quanto ao segundo responsável pela ligação à SPC? "Foi o Prof. Victor Gil, que me convidou para ser vice-presidente (norte) da sua direção. Essa foi também uma experiência muito gira e desafiante porque coincidiu com a pandemia, pelo que nos obrigou a ações diferentes, como organizar um congresso online."
E acrescenta: "Todas as semanas o Prof. Victor Gil desafiava-nos a fazer mais um webinar às 21 horas, para falarmos da organização da Cardiologia na resposta à covid-19. Eu pensava ´Meu Deus, estou tão cansada! Como vou conseguir arranjar forma de fazer isso?`. Mas a verdade é que dávamos resposta aos seus desafios e também isso me ajudou muito a crescer."
"O momento ideal para embarcar numa nova aventura"
Cristina Gavina adianta ainda à Just News qual foi um dos projetos que mais a convenceram de que "esta seria a altura certa para me candidatar":
"Foi o Estudo Porthos, que permitiu determinar a prevalência da insuficiência cardíaca em Portugal. O Prof. Victor Gil alertou-nos que os últimos dados da IC remontavam a 1998, altura em que se desenvolveu o Estudo Epica, pelo que seria muito importante caracterizar a população atual. A criação de um projeto de representação nacional deu-me muita experiência e sabedoria."
E destaca que conseguiram então reunir "uma grande equipa, a trabalhar com a colaboração da NOVA Medical School, que tinha experiência em estudos epidemiológicos, nomeadamente no EpiReuma. Lembro-me perfeitamente de estarmos a pensar na forma de conseguirmos fazer as análises clínicas e o ecocardiograma em simultâneo."
Lembra que, na altura, havia "um camião a realizar rastreios à covid-19 pelo país e eu achei que era mesmo aquilo que precisávamos. Na realidade, aquele veículo, com os seus vários gabinetes, reunia ótimas condições porque tinha um circuito único e seguro. O camião Porthos passou por 22 localidades diferentes do país entre setembro de 2022 e setembro de 2023 e trouxe dados bastante relevantes para conheceremos melhor a doença e planearmos o futuro."
E quando o estudo Porthos terminou? "Pareceu-me o momento ideal para embarcar numa nova aventura e dar seguimento ao que tinha aprendido", afirma.
A entrevista completa pode ser lida na Coração e Vasos 19.