KRKA

Semana da Mulher: USF Carcavelos incide no rastreio «mais abrangente» do cancro do colo do útero

As equipas de saúde da USF Carcavelos dedicaram a penúltima semana de maio ao género feminino, procedendo ao rastreio do cancro do colo do útero e à otimização da saúde das mulheres. A taxa de adesão superou as expectativas, levando a equipa a pensar já em próximas iniciativas e a desafiar outras USF a colocarem-se neste caminho, avançando para este e outros rastreios.



Esta foi a primeira vez que uma unidade do ACES Cascais dedica uma semana à Saúde da Mulher. A ideia partiu de uma médica e de uma enfermeira mais dedicadas à área, após terem identificado a diminuta taxa de cobertura do rastreio do cancro do colo do útero, a sexta neoplasia mais frequente na mulher, na Europa.

“Mesmo quando cada médico de família convocava individualmente as suas utentes, a taxa de adesão era muito baixa, também devido ao facto de muitas serem seguidas a nível privado”, explica Joana Aguiar, a médica que foi uma das mentoras do projeto.

Correspondendo esse a “um dos parâmetros de maior importância, por abranger mulheres em idade muito jovem e por haver uma maior probabilidade de eficácia do tratamento se detetado precocemente”, o seu incremento era uma prioridade.



“Oferecer um rastreio mais abrangente e um maior benefício às senhoras”

Com a implementação do Programa de Rastreio Oncológico do Cancro do Colo do Útero pela ARSLVT, que deu às unidades de saúde a possibilidade de fazerem um rastreio "mais organizado e completo", em articulação com o IPO do Lisboa, e o alívio do combate à pandemia de covid-19, o projeto, que tinha sido idealizado em 2021, foi ganhando força desde o final de 2022.

“Este rastreio já não se cinge à colpocitologia, mas abrange também a pesquisa do DNA de HPV, o vírus responsável por 90% dos casos de cancro do colo do útero, na Europa. Por outro lado, com este novo protocolo, as amostras são enviadas por nós ao IPO de Lisboa, que procede à sua avaliação e, em caso de alteração das células do colo ou deteção do vírus, convoca automaticamente as utentes para uma consulta. Desta forma, conseguimos oferecer um rastreio mais abrangente e um maior benefício às senhoras”, descreve.

Após o levantamento da lista de utentes elegíveis e o seu estudo individual, a fim de apartar quem reunisse critérios de exclusão, foram convocadas 569 mulheres, entre os 30 e os 65 anos, cujo rastreio estava desatualizado ou não constava no seu processo clínico.


Alexandra Fradeira e Joana Aguiar 

A ação iniciou-se com uma consulta de enfermagem, em que as seis profissionais realizaram a avaliação do estado de saúde da Mulher, identificando a eventual existência de riscos ou doenças. 

“O objetivo da intervenção do enfermeiro na consulta é a promoção da saúde, maximizando o seu bem-estar e autocuidado, de modo a impactar de forma positiva a sua qualidade de vida. Assim, para além de avaliação de parâmetros vitais e da recolha da história clinica, a equipa de enfermagem incidiu na educação para a saúde relativamente a métodos contracetivos, vacinação, vivência da sexualidade de forma segura e programação da vigilância de saúde recomendada”, declara Alexandra Fradeira, a enfermeira que ajudou a impulsionar esta atividade.

No seu caso, o facto de ser especialista em Saúde Materna e Obstetrícia permitiu-lhe fazer também a citologia do colo do útero. “Esta especialidade capacita-me para a realização deste e de outros procedimentos, como a colocação de dispositivos intrauterinos e de implantes, pelo que, neste caso, pude acompanhar as senhoras em todo o processo. No entanto, caso identifique a necessidade de acompanhamento, a continuidade da vigilância é programada logo junto da sua equipa de família”, refere.



Os sete médicos dinamizaram, posteriormente, a consulta médica, em que, além de realizarem o rastreio, procuraram “abordar outras questões trazidas pelas utentes e fazer a sua orientação global, sendo que, quando tal não era possível pela falta de tempo, era agendada uma consulta para o seu médico de família”, explica Joana Aguiar.

Alexandra Fradeira nota que a integração da médica na USF, em 2020, veio contribuir para uma maior sensibilização da equipa para esta área, “levando a que as ideias passassem a ser algo mais concretizável e um real objetivo da USF”.

Face à diminuição do número de consultas, motivada pela pandemia de covid-19, levando ao “agravamento da vigilância e da prevenção do cancro do colo do útero, a ideia de dinamizar uma atividade de rastreio, que já estava em maturação há algum tempo, acabou por tomar maiores contornos”. As duas participaram mais ativamente na organização da iniciativa, ao nível dos processos de elegibilidade e de convocatória das utentes e da mobilização e distribuição da equipa.



“Uma oportunidade de nos mostrar como uma grande alternativa”

Catarina Catroga, coordenadora da USF Carcavelos desde outubro de 2021, realça que “todas as intervenções são discutidas em equipa e há uma procura por acolher novas iniciativas”.

Além de ter incentivado toda a equipa a participar no projeto, enquanto médica de família coube-lhe também participar no levantamento das utentes elegíveis e na colheita das citologias.

Tal como previsto, após o envio das convocatórias, uma parte das utentes enviou os resultados dos exames feitos no sistema privado, no entanto, a meio da semana, o balanço da iniciativa já era já positivo e, no final da semana, havia superado as expectativas: “Com base noutras experiências e em estudos relativos a este tipo de convocatórias, estimámos que o nível de adesão se situaria entre os 20 e os 30%, a meio da semana já tínhamos ultrapassado os 20% (130), e conseguimos mesmo atingir uma taxa de 38% (219), o que é muito bom.”

Além do facto de “o rastreio do cancro do colo do útero poder salvar vidas, por se tratar de um cancro praticamente prevenível se detetadas precocemente alterações no exame”, Catarina Catroga sublinha ainda o benefício que esta iniciativa representa em termos globais:

“Conseguimos que utentes que ainda não conheciam ou não tinham contacto com a sua equipa de saúde há algum tempo se (re)aproximassem da Unidade e conhecessem as atividades que temos vindo a desenvolver.” Como realça, “esta foi uma oportunidade de nos mostrar como uma grande alternativa ao sistema privado, até porque a forma como o procedimento é feito, atualmente, no SNS, incorporando a pesquisa do HPV, representa o método por excelência para a realização deste rastreio”.

Também Joana Aguiar corrobora esta ideia, acrescentando que “apesar de o mais importante ser a conquista de ganhos em saúde, seja o procedimento feito no sistema público ou no privado, a verdade é que muitas utentes desconheciam que este rastreio podia ser feito ao nível dos CSP, tendo esta ação permitido a divulgação das áreas de atuação da Unidade e até o início de uma relação com a equipa de saúde”.

Falando numa superação das expectativas, Alexandra Fradeira desafia “todas as unidades a colocarem-se neste caminho e a alargarem o leque de rastreios realizados”.


Nuno Basílio, Catarina Catroga, Joana Aguiar e Alexandra Fradeira


O ACES como agente estimulador a que “as equipas tenham não só autonomia, mas também iniciativa”

Nuno Basílio, presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Cascais, onde se integra esta USF, realça que tem havido “um estímulo a que tanto a nível assistencial, como formativo, as equipas tenham não só autonomia, mas também iniciativa para desenvolverem atividades”.

Por se tratar de um rastreio, a intervenção do ACES centrou-se no apoio organizacional e logístico, de forma a garantir a existência de material suficiente, e na articulação entre a Unidade de Apoio à Gestão e a Equipa Regional dos Programas de Rastreio.

O presidente do CCS adianta que, apesar de já virem a existir iniciativas ao nível do rastreio do cancro do colo do útero, esta foi “a primeira USF a dedicar uma semana de trabalho intensiva à temática”.


Entregue nas unidades de saúde familiar (USF) de todo o país, o Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários promove uma ampla partilha entre profissionais de boas práticas desenvolvidas no âmbito do SNS. Porque os bons projetos e as boas ideias merecem o devido reconhecimento!

seg.
ter.
qua.
qui.
sex.
sáb.
dom.

Digite o termo que deseja pesquisar no campo abaixo:

Eventos do dia 24/12/2017:

Imprimir


Próximos eventos

Ver Agenda