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Reabilitação Pediátrica: «Há crianças que esperam 2 anos pelo produto de apoio»

Agilizar a atribuição de produtos de apoio, reforçar a formação e promover a interligação com os cuidados paliativos pediátricos (CPP) são os três principais objetivos da nova coordenadora da Secção de Reabilitação Pediátrica da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação, Cristina Duarte.

A fisiatra do Hospital Garcia de Orta, Almada, foi eleita no decorrer da reunião que esta Secção promoveu em maio, no Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão.

A sua primeira preocupação tem que ver precisamente a atribuição de produtos de apoio, como explica em entrevista à Just News: “É o principal problema a resolver nos próximos tempos, porque deparamo-nos com várias dificuldades na entrega destes produtos, verificando-se alguma desorganização, sobretudo nos hospitais.”

E acrescenta que na Segurança Social “a situação também não é a ideal, mas nas unidades hospitalares é pior. Há crianças que têm de esperar um ou 2 anos para poderem ter o produto de apoio de que necessitam, o que, obviamente, acaba por ter repercussões na sua reabilitação”.

Cristina Duarte alerta para as consequências negativas destas ajudas, que são “como um medicamento”: “As crianças estão a crescer e este tempo de espera pode comprometer a sua recuperação. Aguardando tanto tempo, podem ficar com sequelas que seriam evitáveis.”

As principais patologias que exigem produtos de apoio nestes doentes mais novos são as referentes a doenças neurodegenerativas, logo de “extrema necessidade”. E a verdade é que, “para além de serem dispendiosas para a maioria dos pais, não nos podemos esquecer que, por lei, são gratuitas. É um direito”.


Cristina Duarte

Para a coordenadora da Secção de Reabilitação Pediátrica da SPMFR, o problema está na organização do próprio sistema de atribuição: “Os hospitais recebem um financiamento para este tipo de produtos, contudo, o tempo de espera deve-se ao facto de não haver dinheiro. Existem casos em que os apoios já estão aprovados e disponíveis, mas não são entregues aos pais, porque o hospital não faz o pagamento.”

Constrangimentos que afetam mais uns hospitais do que outros, mas que não deixam de ser gerais. Para a responsável, a solução poderá passar pela realização de concursos: “Primeiramente, dever-se-á segmentar os produtos de apoio, já que existem dificuldades quer para uma simples tala como para uma cadeira de rodas mais complexa. De seguida, seria importante fazer concursos por cada grupo.”

Neste caso, acrescenta, “como estes produtos são da Fisiatria, as crianças deveriam ter outro tipo de prioridade, que nem sempre se vê, hoje em dia, nos serviços”.

Outra forma de se resolver o problema é adotar um modelo idêntico ao da comparticipação dos medicamentos. “Em suma, devemos chegar todos a um consenso o quanto antes para minimizar o impacto desta demora e, para isso, também é essencial conhecer a realidade de cada hospital”, defende.

Formação: um pilar importante

A formação é, para Cristina Duarte, outro pilar importante: “Apesar de haver mais fisiatras a dedicarem-se à Reabilitação Pediátrica, continuamos sem uma diferenciação específica nesta área e nem sempre existe sensibilidade nos serviços para alocar estes profissionais a esta atividade específica.”

Face ao exposto, a fisiatra defende a criação de uma competência em Reabilitação Pediátrica: “É este o caminho para se conseguir motivar mais fisiatras a dedicarem-se a esta área, de modo que, após formação, sejam reconhecidos pela sua diferenciação.” Como salienta, “a Reabilitação Pediátrica deve ser mais forte a nível nacional”.

Com base ainda na formação, é preciso alargar o papel do fisiatra nos cuidados paliativos pediátricos: “Deve-se investir mais na partilha de conhecimento e na interligação com os CPP, para se evitar a duplicidade de cuidados. O fisiatra, com diferenciação em Reabilitação Pediátrica, deve integrar a equipa dos CPP como consultor.”

Secção foi criada em novembro de 1997

Coordenado atualmente por Cristina Duarte, do Hospital Garcia de Orta (Almada), o Secretariado da Secção de Reabilitação Pediátrica da SPMFR inclui os fisiatras Renato Nunes, do Hospital da Prelada (Porto), e Ana Cadete, do Hospital Fernando Fonseca (Amadora), que foi a sua coordenadora anterior. A Secção foi criada em novembro de 1977.



A entrevista pode ser lida na próxima LIVE Medicina Física e de Reabilitação.

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