Nos cuidados de saúde primários «temos de encontrar resposta fora de horas»

“Há muito trabalho a fazer para otimizar a integração dos diferentes níveis de cuidados, contudo temos vindo a melhorar bastante”, disse Luís Pisco, presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) Lisboa e Vale do Tejo. O responsável foi um dos oradores do I Encontro ACES Lisboa Central/ACES Loures-Odivelas/CHLC, sob a temática “Integrar+Proximidade+Saúde”, que participou na mesa sobre “Cuidados primários e hospitalares – uma relação simbiótica”, e que decorreu na Nova Medical School.

Luís Pisco referiu que a integração de cuidados – quer seja com os hospitais ou com os cuidados continuados, entre outros – é fundamental para uma melhor saúde. “Temos de continuar a trabalhar em conjunto, a solução é essa, não é existir uma administração conjunta do hospital e do centro de saúde”, enfatizou.

E acrescentou: “O papel dos profissionais de saúde é orientar o utente num sistema de saúde complexo, para que este saiba onde pode receber cuidados, segundo o seu estado de saúde.”



O responsável relembrou que há mais de 20 anos que se fala em trabalho conjunto, apesar de nem sempre se ter alcançado os objetivos pretendidos. Contudo, salientou, nota-se mudanças importantes. “Um dos melhores indicadores de como já nos articulamos em equipa é a diminuição dos internamentos evitáveis, em doenças como doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), asma, diabetes mellitus ou hipertensão.”

Luís Pisco deixou ainda um alerta: "Os Cuidados de Saúde Primários não podem ser responsáveis pelos cidadãos apenas 5 dias por semana, entre as 8h e as 20h". Na sua opinião, "é preciso encontrar respostas articuladas fora de horas e ao fim de semana".



Reuniões quinzenais com os ACES

Na mesma mesa redonda participou Ana Escoval, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Lisboa Central (CHLC) e que deu o exemplo da aposta do CHLC na integração. “Organizamos reuniões quinzenais com os responsáveis dos ACES para se encontrar a melhor forma de se prestarem cuidados de qualidade”, indicou.



E relembrou que, nos últimos anos, se verifica um maior empenho na articulação e na integração de cuidados. “Têm-se feito muitos projetos, ao longo dos últimos anos, no caso do CHLC procuramos olhar o doente num fluxo de continuidade, mantendo a ligação aos ACES, nomeadamente com informações sobre as pessoas que são internadas e que depois precisam de outros cuidados.”


Ana Escoval, Luís Pisco e Constantino Sakellarides

"Uma relação simbiótica"

Constantino Sakellarides, consultor do Ministério da Saúde, foi outro dos oradores que falou sobre a "relação simbiótica entre cuidados primários e hospitalares". No seu entender, o segredo da integração começa pela identificação das pessoas certas.

“A mudança só pode acontecer identificando os profissionais no terreno que obtêm boas soluções para os problemas de todos os dias, apoiando-as, dando-lhes rodas para se articularem e para provocarem a mudança”, referiu.

O caminho deve passar assim por “rastrear e identificar a pessoas que precisam de ajuda, internalizar, fazer transferências mais céleres e inteligentes no serviço público, substituir consultas presenciais por à distância, referenciar e planear e acompanhar a saída dos hospitais para os CSP”.

No fim da sua intervenção deixou um desejo: “Gostaria que 2018 fosse o ano do Plano Individual de Cuidados (PIC), uma peça fundamental na integração de cuidados.



Projetos que promovem a integração de cuidados

O Encontro contou com a presença de dezenas de profissionais de diferentes áreas da saúde, que assistiram à apresentação de diversos projetos de integração entre o CHLC, o ACES Loures-Odivelas e o ACES Lisboa Central. 

As diretoras-executivas destes dois ACES, respetivamente, Vera Almeida e Ileine Lopes, deram as boas vindas aos participantes na sessão de abertura, juntamente com Luís Nunes, diretor clínico do CHLC.


Guilherme Ferreira (presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACES Lisboa Central), Ileine Lopes, Ana Escoval, Vera Almeida e Luís Nunes