«Para se ser geriatra não basta ver doentes idosos»

A coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (NEGERMI) foi muito clara ao intervir na cerimónia de abertura da 7.ª Reunião do Núcleo de Estudos de Geriatria, que decorreu em Tomar, dias 28 e 29 de novembro. “Para ser geriatra não basta ter um título!”, sublinhou Sofia Duque.

“O geriatra diagnostica e intervém sobre um conjunto de problemas que na abordagem médica são subvalorizados”, afirmou a responsável, esclarecendo que o faz “ouvindo o doente e a sua rede de suporte também”. E ainda “conciliando a visão de diferentes especialistas para oferecer um plano de cuidados integrado, continuado e coerente, respeitando o melhor interesse do doente”.

Sofia Duque

A coordenadora do Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna foi a primeira a usar da palavra numa sessão conduzida por Pedro Madeira Marques, da ULS do Estuário do Tejo, que juntamente com Gonçalo Sarmento, da ULS de Entre Douro e Vouga – ambos do Secretariado do NEGERMI --, tiveram um papel muito relevante na organização da Reunião de Tomar.

Para além da psiquiatra Lia Fernandes, na qualidade de presidente do Colégio da Especialidade de Geriatria da Ordem dos Médicos, e da internista Diana Fernandes, da ULS da Região de Leiria, que representou a Direção da SPMI, na abertura do evento também esteve presente Manuel Teixeira Veríssimo, presidente da Secção Regional do Centro da OM, em representação do bastonário.



“Multidisciplinaridade e diversidade são imprescindíveis”

Sofia Duque fez questão de saudar os anteriores coordenadores do NEGERMI, João Gorjão Clara e Manuel Teixeira Veríssimo, que considerou serem “duas das figuras mais relevantes e impulsionadoras da Geriatria em Portugal”. E lembrou que o Núcleo celebrou 15 anos em 2024 e que a sua 1.ª Reunião, em 2015, aconteceu precisamente no mesmo local desta 7.ª edição.


João Gorjão Clara

Salientando a diversidade dos participantes no evento, “incluindo médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, psicólogos e neuropsicólogos, entre muitos outros que se interessam pelos mais velhos”, afirmou:

“A multidisciplinaridade e a diversidade que aqui encontramos é algo para nós imprescindível porque a visão global do doente idoso exige olhar para todas as dimensões da pessoa. Todo o detalhe conta na avaliação geriátrica global, a ferramenta nobre e essencial sem a qual a Geriatria não sobrevive.”


Gonçalo Sarmento, Sofia Duque e Pedro Madeira Marques

Considerando que a Geriatria “continua a não estar implementada de forma estrutural nos serviços de saúde, tanto nos hospitais como nos CSP”, Sofia Duque saudou a abertura, no último ano, de duas unidades de internamento de Geriatria no país. E deixou o seu desejo de que “esse modelo se replique e se torne uma necessidade transversal a todos os hospitais”.

Sublinhou ainda que estas unidades não irão seguramente servir todos os doentes idosos, “mas acolherão os mais frágeis, os mais complexos, com mais dependência funcional, com maior risco de complicações”.

“Podemos dizer que, em 2024, a Geriatria avançou, graças à formação pré-graduada, que se tem robustecido e disseminado pelas escolas médicas, e à formação pós-graduada que algumas universidades portuguesas oferecem. Isto na sequência do reconhecimento da competência de Geriatria, que promove o rigor da formação, privilegiando o treino clínico específico e diferenciado”, reconheceu Sofia Duque, frisando que, em todo o caso, “para se ser geriatra não basta ver doentes idosos, não basta ter um título”.


Diana Fernandes, Lia Fernandes, Sofia Duque e Manuel Teixeira Veríssimo

“Médicos que tratam idosos têm que saber de Geriatria”

Manuel Teixeira Veríssimo, que já presidiu à SPMI e que foi o primeiro presidente da Competência de Geriatria da OM, comentou que, independentemente de a Geriatria ser ou não reconhecida como especialidade, há uma coisa que considera fundamental: “Os médicos que tratam idosos têm que saber tratá-los e, para isso, têm que saber de Geriatria.”

“É por isso que eu defendo o ensino da Geriatria de uma forma muito mais aprofundada do que acontece agora no próprio curso de Medicina e depois na formação especializada”, disse, defendendo que ela devia mesmo ser obrigatória em especialidades como a Medicina Geral e Familiar e a Medicina Interna.


Manuel Teixeira

Para além disso, no seu entender, pelo menos nos hospitais de maior dimensão, “deverá haver unidades de Geriatria que sirvam para receber os casos mais complicados sob o ponto de vista geriátrico, mas com viabilidade. E, mais importante do que isso, para formar profissionais, sejam médicos, enfermeiros ou assistentes sociais, no fundo, todos quantos lidam com idosos”.

“Queremos que todos os médicos que tratam idosos conheçam as particularidades destes doentes e que depois existam alguns com um conhecimento mais aprofundado, que possam ter um papel de consultores e também de formadores”, afirmou.


A coordenadora com elementos do Secretariado do NEGERMI: Heidi Gruner, Rafaela Veríssimo, Gonçalo Sarmento, Sofia Duque, Paulo Almeida, Lia Marques e Pedro Madeira Marques (ausentes na foto: Gracinda Brasil, Márcia Kirzner e Ana Sofia Pessoa)

Bolsa NEGERMI

A 7.ª Reunião do Núcleo de Estudos de Geriatria ficou também assinalada pela entrega da 3.ª edição da Bolsa NEGERMI, que tem o patrocínio da Fresenius Kabi. A internista Lia Marques, membro do Secretariado do Núcleo, referiu, na ocasião, que “a formação prática em serviços de Geriatria montados como tal é fundamental, mas nem sempre é muito acessível, continuando a forçar os colegas que pretendem adquirir estas competências a fazer estágios fora do país”.

Com um valor individual de 3000 euros, a Bolsa NEGERMI para estágios clínicos de Geriatria foi atribuída a dois internos de MI: Guilherme Jesus, da ULS da Cova da Beira, e Helena Hipólito Reis, da ULS de São João.



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