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Controlo da asma: «Sem a técnica inalatória correta, as moléculas não terão a eficácia esperada»

"A asma é uma doença crónica, portanto, o que a vai controlar realmente são os corticoides inalados", começa por referir Cláudia Vicente, coordenadora do Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP).

Em declarações à Just News, a médica explica que o período da pandemia e o consequente menor contacto presencial com os profissionais de saúde, levou a equipa do GRESP a redobrar esforços na sensibilização e capacitação dos doentes:

"Uma das mensagens que fomos procurando passar foi precisamente que era necessário fazer a terapêutica habitual. O doente asmático já é, por natureza, pouco aderente, o que obrigou a reforçar esta mensagem de adesão à terapêutica crónica”.

Evitar o abandono do tratamento "por não sentir melhorias"

Contudo, uma boa adesão pressupõe um uso correto dos inaladores, o que tem motivado o GRESP a investir no ensino da sua utilização. Para Cláudia Vicente, é algo fundamental:

“Nós até podemos receitar o fármaco certo, o doente pode ter boa vontade e ser aderente ao tratamento, mas se não fizer a técnica inalatória correta as moléculas não chegam ao local onde devem atuar e, consequentemente, não terão a eficácia esperada, com um controlo insuficiente/mau controlo da doença, o que pode contribuir para um abandono do tratamento."

E acrescenta: "Pode daí resultar um não alívio dos sintomas no controlo da doença, sendo que a pessoa fica mais vulnerável e vai abandonar o tratamento por não sentir melhorias.”


Cláudia Vicente 

Curiosamente, na véspera desta entrevista, e acedendo a um pedido dos 6 internos da USF Araceti, um elemento do GRESP deslocou-se a Arazede para assegurar uma ação de formação com vista a que a técnica inalatória seja aplicada da forma mais correta possível e o doente não falhe em cada um dos passos da mesma.

Listas mais pequenas "para termos mais tempo para cada utente"

Trinta e sete foi o total de utentes que Cláudia Vicente atendeu durante o dia em que recebeu a equipa da Just News. Ela ou qualquer um dos seus quatro colegas especialistas de MGF da USF Araceti. E esta Unidade serve uma população de quantos habitantes? Ora bem, feitas as contas, “cada um de nós tem um ficheiro com cerca de 1900 utentes”, esclarece, acrescentando:

“Todos nós gostaríamos que as nossas listas fossem mais pequenas, para termos mais tempo para cada utente, para haver disponibilidade no horário para fazer outras coisas que nos permitissem atender melhor os nossos utentes, como, por exemplo, assegurar uma maior planificação e antecipação de cuidados e ainda para conseguirmos dedicar algum do nosso tempo à investigação e à formação. Não é invulgar que tudo isto seja feito fora do nosso horário de trabalho.”

Cláudia Vicente admite que se sentiu atraída pela área respiratória logo durante a faculdade, em Coimbra. Gostava da cadeira e achava interessante o facto de perceber que havia muita coisa para descobrir.

Quando começou o internato em MGF, percebeu que havia já uma série de programas dedicados à área cardiovascular, à diabetes ou à hipertensão, mas não se passava o mesmo relativamente à patologia respiratória.

“Entretanto, decidi fazer a minha tese de mestrado na área da apneia obstrutiva do sono e gostei tanto que quis continuar a realizar algum trabalho neste campo. Mas não estava interessada em envolver-me num projeto sozinha, ambicionava fazer algo em equipa, envolvendo até colegas de outras unidades, porque penso que saímos todos mais enriquecidos, aprendemos muito mais e também sentimos outra motivação”, reconhece a médica.

É então que, em determinada altura, Cláudia Vicente se cruza, num Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, com o GRESP, entretanto criado. Em 2010, haveria de integrar a primeira grande ação de formação de formadores, realizada no Porto, ao longo de vários sábados, durante quase um ano. “Uma boa fatia das pessoas que estão no GRESP entrou nessa altura”, recorda.

O entusiasmo de Cláudia Vicente foi grande nesta fase inicial de grande atividade do Grupo: “Eu achava que havia muitos doentes na área respiratória, muita coisa para fazer. Nós estamos num oceano a navegar com os nossos doente e é importante que haja outras pessoas na mesma situação que nós, colegas que nos ajudem a estudar certas áreas, porque a verdade é que eu posso aprender com eles e eles podem aprender comigo, o que só fortalece este trabalho em equipa.”



Um Grupo com 160 membros

O Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar tem neste momento cerca de 160 membros. A única premissa que existe para alguém se inscrever no GRESP-APMGF é que seja um médico membro da APMGF e tenha interesse na área respiratória, expressando-o através do preenchimento do formulário de inscrição online ).

No entanto, como diz Cláudia Vicente, “nós achamos tão importante o trabalho em equipa que gostaríamos de ter outros grupos profissionais mais ligados a nós, como os enfermeiros, os farmacêuticos ou os técnicos de Cardiopneumologia”.

“A APMGF está a apoiar-nos no sentido de se encontrar uma solução, até porque há pessoas que trabalham com o GRESP há vários anos de forma dedicada. Estão envolvidas em vários projetos connosco, trabalham imenso e era bom poder tê-los ligados formalmente”, sublinha a médica.

Coordenação do GRESP:

• Cláudia Vicente (coordenadora)
• Sara Barbosa (secretária)
• Eurico Silva
• Luís Alves
• Pedro Fonte
• Nuno Pina
• Ana Margarida Cruz



"Estimular a investigação nos Cuidados de Saúde Primários"

As próximas Jornadas do GRESP, que conhecerão este ano a sua 8.ª edição, vão decorrer no Porto, nos dias 20 e 21 de outubro. Embora se coloque a hipótese de haver uma transmissão online das sessões, Cláudia Vicente sublinha que “o forte será o presencial, até porque a nossa reunião é caracterizada por incluir sempre várias oficinas, com muita formação prática, e os workshops terão que ser presenciais”.

A coordenadora do GRESP acrescenta que, “este ano, vamos dar algum enfoque à investigação, mostrar o que está a ser feito para tentar estimular a investigação nos Cuidados de Saúde Primários”.



A presença de palestrantes estrangeiros também está confirmada, “nomeadamente de colegas espanhóis, com quem trabalhamos muito bem, sendo interessante trocar impressões sobre como eles e nós desenvolvemos a nossa atividade. Por exemplo, eles têm um acesso mais imediato às provas de função respiratória, têm laboratórios dentro das suas unidades, e é muito positivo
ver como as coisas se desenrolam”.

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