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Oncologia médica: Investigação clínica premiada pela Ordem dos Médicos

Sete em cada 10 doentes oncológicos que morrem num hospital público, em Portugal Continental, são expostos a cuidados considerados “agressivos”. A conclusão é de um estudo que tem como primeiro autor o oncologista Diogo Martins Branco, vencedor do 1.º Prémio Prof. Jorge da Silva Horta da Ordem dos Médicos.



O Prémio Prof. Jorge da Silva Horta destina-se a jovens médicos (até 35 anos de idade) e distingue dois trabalhos de investigação clínica, com uma periodicidade bienal. Recorde-se que Jorge Silva Horta foi anatomopatologista, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e Bastonário da OM entre 1956 e 1961.

Diogo Martins Branco, oncologista formado no IPO Lisboa e atualmente medical research fellow no Institut Jules Bordet, em Bruxelas, recebeu o galardão pelo estudo nacional ACOVIDA, que investigou a agressividade dos cuidados oncológicos em final de vida.

Liderado pelo King´s College London, o trabalho envolveu investigadores e clínicos dos institutos portugueses de Oncologia de Lisboa, Porto e Coimbra, da Escola Nacional de Saúde Pública, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto e da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra.

“Apesar da doença oncológica apresentar uma das trajetórias mais previsíveis, a definição prognóstica pode ser difícil em determinadas situações, resultando em cuidados agressivos que comprometem a qualidade de vida no seu final”, indicou o investigador, que também coordena a Comissão de Oncologia do Health Parliament Portugal.


Diogo Martins Branco

A equipa fez uma análise retrospetiva de todos os doentes oncológicos em idade adulta que haviam falecido em hospitais públicos de Portugal Continental, entre janeiro de 2010 e dezembro de 2016.

Ao todo foram mais de 92 mil doentes, tendo-se identificado uma prevalência de 71% de exposição a cuidados considerados agressivos em fim de vida. Os indicadores individuais mais comuns foram o internamento por mais de 14 dias (43%) e o recurso a cirurgia (28%). O maior risco verificou-se, sobretudo, em cancros gastrintestinais e hematológicos.

Atualmente, Diogo Martins Branco está como fellow em Bruxelas, mas mantém a sua ligação ao país, nomeadamente como coordenador do Núcleo de Internos e Jovens Oncologistas da Sociedade Portuguesa de Oncologia (SPO).

Sendo também mestre em Cuidados Paliativos pelo King’s College London, espera que estes resultados contribuam para uma reflexão sobre esta realidade. “Os oncologistas devem procurar uma melhor determinação de estimativas prognósticas, proporcionando oportunidades adequadas para discussão antecipada de preferências e expectativas dos doentes e familiares.”

Como conclusão da investigação, ficam algumas recomendações, como a necessidade de se incluir um indicador composto de agressividade terapêutica em fim de vida no doente oncológico na contratualização com os hospitais, com redução para benchmark internacional; a inclusão de um médico paliativista nas equipas multidisciplinares das unidades de Oncologia; e a avaliação regular da atividade e desempenho das equipas de Cuidados Paliativos.

Em declarações à Just News, o responsável fez questão de enaltecer o trabalho de toda a equipa, tendo destacado, as orientadoras Bárbara Gomes e Sílvia Lopes, e deixando uma nota de agradecimento ao coautor e colega oncologista João Freire do IPO de Lisboa, falecido o ano passado.



A importância da biópsia líquida no cancro da próstata

Sendo que o Prémio Prof. Jorge da Silva Horta premeia sempre dois jovens especialistas, além de Diogo Martins Branco, o oncologista Pedro Barata, da Universidade de Tulane, New Orleans, EUA, também viu reconhecido o seu trabalho além-fronteiras.

Contando com a cooperação de oito institutos norte-americanos, fez uma análise retrospetiva de doentes com cancro da próstata metastático e com o biomarcador instabilidade microssatélite, detetado através de biópsia líquida, e tratados com o inibidor de checkpoint pembrolizumab, entre setembro de 2018 e abril de 2020. “É o primeiro estudo do mundo a demonstrar que a seleção de doentes com este biomarcador em biopsia líquida é possível e permite oferecer o acesso a imunoterapia.”


Diogo Martins Branco e Pedro Barata

Uma das razões para esta distinção foi precisamente a forma como a equipa conseguiu a amostra, através da cooperação interinstitucional, e por comprovar que este tipo de biópsia é eficaz, com resultados semelhantes àqueles baseados em biopsia tumoral.

Ambos os vencedores enalteceram as distinções pelo que consideram ser uma valorização do trabalho dos profissionais e um reforço da investigação clínica em Portugal.

O Prémio teve como Júri Jorge Soares (presidente), Ana Félix, Ana Isabel Lopes, Isabel Pavão, Isabel Palmeirim, José Alberto Consciência e Miguel Xavier. Ao todo foram apresentadas 42 candidaturas, tendo sido selecionadas 32 de “elevada qualidade”, como afirmou Jorge Soares.

 

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