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Oncologia do HESE com «resultados de sobrevivência muito acima da média»

O Serviço de Oncologia Médica do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE) foi criado em março de 2002, embora já funcionasse como unidade desde 1998. A partir de agosto de 2015 passou a ser de âmbito regional, o que veio contribuir para a equidade no atendimento aos utentes oncológicos do Alentejo.

Os médicos deslocam-se às diferentes unidades (hospitais de Portalegre, Elvas, Beja e Litoral Alentejano) para atender os utentes nas suas zonas de residência, evitando que saiam do seu contexto familiar e social.

Rui Dinis, que assumiu a direção do Serviço em junho de 2015, admite que o maior desafio que se colocou desde o início foi precisamente o de dar resposta aos vários hospitais, "sobretudo pela distância que os separa do HESE e pelas dificuldades que existiam em termos de recursos humanos".


Rui Dinis

Um serviço que "garante toda a assistência oncológica da região"

O médico de 44 anos, natural de Lisboa, afirma que a experiência tem sido única. “Só em Évora temos 1200 novos doentes por ano, a que acrescem outros 1500 nos restantes
hospitais”, conta, lembrando que a população do Alentejo é de cerca de 500 mil habitantes.

Enquanto coordenador do Programa Regional de Oncologia do Alentejo, função que assume desde 2016, o médico frisa que "a região tem a população mais envelhecida do país". Além disso, tem outros fatores de risco para o cancro, como a obesidade, o sedentarismo e o tabagismo, "nos quais é preciso atuar".

É, portanto, fundamental aumentar a capacidade regional de diagnóstico precoce e, para tal, "tornou-se necessário reforçar a ligação entre os cuidados hospitalares e os cuidados primários".

Rui Dinis salienta que "o HESE foi pioneiro no país no envolvimento numa estrutura deste género". Conforme refere o responsável, não há qualquer outra ARS que tenha um único serviço a garantir toda a assistência oncológica da região. “Os doentes são atendidos em tempo útil, bem abaixo dos prazos legalmente definidos, sem lista de espera para doença ativa”, destaca.

“Nos hospitais fora de Évora asseguramos semanalmente consultas de Oncologia e de Decisão Terapêutica, além da disponibilidade diária e permanente, por contacto telefónico, para atender aos colegas e enfermeiros desses hospitais”, diz.



De acordo com Rui Dinis, “o Serviço orgulha-se de contribuir ativamente para o aumento da esperança de vida e da qualidade de vida no Alentejo, ao apresentar resultados de sobrevivência e de remissão de doença muito acima da média no mundo ocidental, estando de portas abertas à comunidade todos os dias úteis da semana, para consultas programadas e de urgência”.

Consulta de Decisão Terapêutica multidisciplinar

“Muitas vezes, o doente oncológico, tornando-se crónico, toma-nos como o seu médico assistente para todas as suas patologias e confia muito em nós, o que nos confere uma responsabilidade acrescida e o dever de articulação com o seu médico de família assistente”, refere, acrescentando:

“Não nos limitamos a tratar bem os doentes no momento da consulta. É um trabalho contínuo e em equipa. Afinal, nós somos o provedor do doente oncológico”, assegura o especialista.

Na sua opinião, não há qualquer dúvida quanto ao papel do oncologista. "Tem o dever de estar o mais atualizado possível em relação aos algoritmos de diagnóstico (crescentemente mais complexo porque biológico, molecular e genético) e  de tratamento (cada vez mais preciso, como um ‘fato à medida’). Isso implica, necessariamente, uma excelente articulação com várias especialidades médicas hospitalares, os cuidadzs primários e os cuidados paliativos."



O momento alto dessa integração é a Consulta de Decisão Terapêutica (CDT), multidisciplinar, que ocorre semanalmente à quinta-feira à tarde, precedida de uma CDT regional por videoconferência, específica para o cancro da mama, o cancro colorretal e o melanoma.

O responsável salienta o “apoio contínuo, o carinho e a disponibilidade” de todo o Conselho de Administração do HESE, sem o qual não teria sido possível reconstruir e manter o Serviço com tão elevado desempenho, assim como o reconhecimento pela ARS Alentejo da vantagem da uniformização da Oncologia em toda a região.

“O doente oncológico nunca se viu restringido de qualquer medicação por razões financeiras. Temos as nossas reuniões semanais de Decisão Terapêutica, onde agimos de acordo com o estado da arte, no melhor interesse do doente. É tudo transparente!”, garante.

Rui Dinis destaca igualmente a "excelente articulação com outros serviços" – nomeadamente, Cirurgia Geral, Radioterapia, Urologia, Otorrinolaringologia, Anatomia Patológica, Imagiologia e Farmácia Hospitalar – "e o entrosamento das equipas de Enfermagem no trabalho diário".


Elementos da equipa

Sem lista de espera

O Serviço tem seis gabinetes de consulta, que funcionam todos os dias da semana, e uma sala de reuniões, onde decorre a Consulta de Decisão Terapêutica multidisciplinar. O Hospital de Dia de Quimioterapia conta com 10 cadeirões e 4 camas.

Existe ainda uma Unidade de Farmácia de Preparação, integrada no Serviço de Oncologia Médica, o que constitui, nas palavras de Rui Dinis, “uma conquista”.



“Estando os vários médicos em idade fértil e tendo havido várias licenças recentes de paternidade, é muito importante permitir a conciliação da vida profissional com a vida familiar, num espírito de solidariedade, garantindo o normal funcionamento do Serviço e a ausência de lista de espera”, aponta.

Além de Rui Dinis, a equipa inclui mais três oncologistas (Mariana Inácio, Emílio Bravo e Francisco Trinca), um psicólogo clínico (Paulo Simões), sete enfermeiras (incluindo duas especialistas, para além da responsável), três administrativas e duas assistentes operacionais. Há um elemento do Serviço Social (Carla Frade) que dá apoio, bem como uma nutricionista (Vera Costa).

“Estamos muito focados em conseguir tratar bem todos os doentes, integrados numa rede bem oleada de serviços de Cirurgia dos cinco hospitais do Alentejo e que se articula, quando necessário, com alguns serviços cirúrgicos especializados fora da região. Pretende-se garantir que qualquer pessoa receba prontamente a melhor abordagem e o melhor tratamento, mesmo nas patologias mais raras”, afirma.



“Fazemos tudo para dar ao doente aquilo de que precisa em tempo útil, seja uma avaliação clínica, um exame ou um medicamento”, menciona, acrescentando que, de ano para ano, o número de doentes acompanhados e tratados tem aumentado.

De destacar que, na área da mama, o Serviço é um dos que cumpre todos os requisitos da Sociedade Portuguesa de Senologia. No cancro colorretal também tem desenvolvido um trabalho meritório, até porque o HESE é centro de referência para esta área.

Referindo-se especificamente às CDT, Rui Dinis explica que as mesmas são garantidas todas as semanas, presencialmente, com todos os colegas das diferentes especialidades envolvidas em Oncologia.



Ir além da assistência aos doentes

Mas a atuação do Serviço não se resume à assistência aos doentes. A sua atuação passa também pelo ensino e formação permanente, pela promoção da investigação clínica e epidemiológica e pelo desempenho de funções na Comissão de Coordenação Oncológica e no Registo Oncológico.

No que respeita à vertente da formação, tem idoneidade reconhecida e reforçada recentemente pela Ordem dos Médicos para o internato em Oncologia Médica. Proporciona igualmente estágios aos internos dos internatos gerais e complementares de várias especialidades médicas, assim como estágios académicos e profissionais de Psicologia Clínica, da licenciatura de Psicologia da Universidade de Évora.



O Hospital de Dia de Quimioterapia é frequentado regularmente por alunos da Escola Superior de Enfermagem de Évora, para aprendizagem de preparação e administração de citostáticos.

Entretanto, este ano, o Serviço de Oncologia começou a organizar simpósios, o primeiro dos quais teve lugar em março e incidiu sobre o cancro da mama, numa iniciativa conjunta com o Serviço de Cirurgia e com o patrocínio científico da Sociedade Portuguesa de Oncologia. O próximo decorre em outubro e será centrado no cancro colorretal.



O envolvimento da Cirurgia

Jorge Caravana, 66 anos, assistente hospitalar graduado sénior, dirige o Serviço de Cirurgia desde agosto de 1999, ou seja, há precisamente duas décadas, embora estivesse no hospital desde fevereiro de 1988. Já nessa época havia a intenção de criar uma consulta conjunta da Oncologia com a Cirurgia, envolvendo, de preferência, outras especialidades.

A Cirurgia participa na Consulta de Decisão Terapêutica, que envolve a Oncologia Médica, a Radioncologia, a Imagiologia e a Anatomia Patológica. O objetivo é definir uma estratégia global do tratamento do doente oncológico, permitindo otimizar os recursos existentes.

O hospital é Centro de Referência de Cancro do Reto, único no Alentejo, e tem também o único Serviço de Cirurgia acreditado a sul de Almada, tendo sido, aliás, o primeiro da especialidade a ser acreditado, em janeiro de 2016.


Jorge Caravana

“Há cirurgias que são feitas, por exemplo, em Santiago do Cacém, Portalegre ou Elvas. Às vezes, referenciam-nos doentes por insuficiências de equipamento ou de outras especialidades. Nessas situações, se quiserem, os cirurgiões estão convidados a vir ao HESE operar os seus doentes”, afirma Jorge Caravana.

Realizam-se, regularmente, workshops entre os vários hospitais sobre diversas temáticas, como foi o caso de um sobre cancro do estômago, organizado em conjunto com os hospitais de Santiago do Cacém e de Setúbal.

“A ligação com os hospitais não envolve competição. O que se pretende é proporcionar às pessoas que neles são assistidas a qualidade que nós oferecemos aqui aos nossos doentes”, acrescenta o médico.



A reportagem completa do Serviço de Oncologia Médica do HESE pode ser lida na edição de setembro/outubro do jornal Hospital Público, onde são entrevistados uma dúzia de profissionais das diversas áreas.

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