Médicos de família querem «renovar o encantamento» pela sua especialidade
Madalena Leite Rio afirma identificar-se com a necessidade de os seus colegas “voltarem a apaixonar-se” pela Medicina Geral e Familiar. É em torno desse desejo que surge o lema do 42.º Encontro Nacional da APMGF: “Regressar ao deslumbramento”.
“Se nos sentirmos novamente entusiasmados e apaixonados pela nossa especialidade será com certeza mais fácil encarar as dificuldades com as quais nos temos vindo a deparar nos últimos tempos”, considera a médica de família Madalena Leite Rio, que falou com a Just News na qualidade de membro da Comissão Organizadora e Científica do evento anual mais importante da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
O próximo Encontro Nacional da APMGF, que já vai na sua 42.ª edição, decorrerá em Troia, entre 26 e 29 março, devendo contar com a participação de largas centenas de participantes. A ideia do lema para esta reunião terá surgido logo após o encerramento do Encontro do ano passado, realizado em Albufeira.
“No fundo, o que se pretende é proceder a uma renovação do sentimento de encanto e deslumbramento relativamente à nossa especialidade. Isto porque, realmente, vivemos um momento no nosso país em que a Medicina em geral, mas sobretudo a MGF, passa por um período de grandes mudanças, que têm vindo a originar muitas fragilidades e dificuldades”, explica Madalena Leite Rio, acrescentando:
“Queremos tentar ‘trazer à superfície’ aquela que é a essência do médico de família e da própria MGF, que é a proximidade constante com o utente, oferecendo cuidados médicos de forma integrada e contínua, respeitando as necessidades individuais e as condições de vida de cada um, sem nos esquecermos de cuidar de nós mesmos. Se nos sentirmos de novo apaixonados pela especialidade será com certeza mais fácil encarar as adversidades com que nos temos vindo a deparar.”
E sublinha: “É também por isso que trazemos para este Encontro não apenas temas clínicos mas também socioprofissionais, o associativismo e a cultura. Defendemos que ‘o médico que só de medicina sabe nem de medicina sabe’.”
Madalena Leite Rio
Divulgar e debater modelos organizativos alternativos em CSP
O que levou a nossa entrevistada a optar por esta especialidade será, no seu entender, aquilo que poderá motivar muitos jovens médicos acabados de concluir o seu curso a entusiasmarem-se com a MGF:
“Nós não observamos apenas a pessoa, também contactamos com todo o seu sistema familiar, o que nos permite chegar mais longe naquele que é o nosso papel como médicos. Por outro lado, a possibilidade de podermos acompanhar o ser humano em qualquer momento da sua vida, mesmo antes do nascimento, é algo verdadeiramente único, que os colegas de outras especialidades não têm possibilidade de experienciar.”
A Comissão Organizadora e Científica do 42.º Encontro Nacional da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, que integra todos os 16 elementos da Direção da APMGF, incluindo Madalena Leite Rio, é formada por internos de MGF, recém-especialistas e médicos de família já com uma experiência de prática clínica mais prolongada no tempo.
“O facto de as várias etapas da nossa especialidade estarem, assim, representadas permitiu ter uma visão muito mais abrangente do que poderiam ser os temas mais interessantes para todos os médicos de família a abordar no Encontro, independentemente da fase da sua carreira”, salienta Madalena Leite Rio.
A médica destaca, nomeadamente, a sessão em que se pretende divulgar e debater modelos organizativos alternativos em CSP. Alexandra Fernandes, coordenadora da USF Inovar, vai referir, por exemplo, a decisão tomada na sua unidade de substituir as tradicionais microequipas por uma equipa multiprofissional que serve a totalidade dos utentes.
O neurologista Joaquim Ferreira, por seu turno, apresentará o projeto Medicina ULisboa – Campus de Torres Vedras para os CSP, que consiste em estabelecer um centro inovador que integre a assistência clínica à comunidade, a formação de profissionais de saúde e a investigação clínica.
Finalmente, Paulo Santos, da Trofa Saúde, vai expor um modelo de gestão que obedece a regras e critérios da economia privada, com respeito pela efetividade, a criação de valor e a centralidade no doente.