Mário Morais de Almeida já assumiu presidência da World Allergy Organization

Contribuir para reduzir as disparidades que existem a nível mundial e local relativamente ao acesso das populações a cuidados de saúde em matéria de doenças alérgicas é o grande objetivo de Mário Morais de Almeida nas suas novas funções como presidente da World Allergy Organization (WAO), cargo que assumiu dia 1 de janeiro e que vai exercer nos próximos dois anos.

O médico chega a emocionar-se quando refere o exemplo de África, que diz ser, “de facto, um continente esquecido em várias áreas, incluindo a das doenças alérgicas”, anunciando que a WAO (Organização Mundial de Alergia, em português) irá reforçar o investimento em ações que visem facilitar o acesso a cuidados de saúde onde eles são muito precários.

Refere, a propósito, o projeto que a WAO tem, em parceria com o Colégio Americano de Alergia, Asma e Imunologia, de implementação de programas de educação em zonas carenciadas, estando já prevista a intervenção na Tanzânia, no Quénia e possivelmente também na Somália, não esquecendo os países africanos de língua oficial portuguesa.


Mário Morais de Almeida: “Gostaria que a WAO fosse vista como um farol, uma lighthouse, que dá luz, fornece segurança, mostra caminhos…”

“O que se pretende é, junto de profissionais de saúde desses países, dar alguma formação sobre como tratar uma crise de dificuldade respiratória, ou ajudar a reconhecer as principais patologias nesta área. Não é para ensinar a fazer testes de alergia ou outros procedimentos diferenciados, é apenas para fornecer informação básica, até porque nalguns locais a situação é mesmo muito carenciada, importando reforçar o acesso a medicamentos básicos para a abordagem das patologias alérgicas mais comuns”, explica.

A necessidade de "recomendações pragmáticas"

O novo presidente da WAO já teve oportunidade de partilhar com os seus 19 colegas da Direção da instituição a ideia que teve de implementar o conceito de farol, sem dúvida inspirado na formação que tem na área marítima, a que não é também alheio, com certeza, o facto de o seu pai ter sido comandante da Base Naval do Alfeite.

“Eu gostaria que a WAO fosse vista como um farol, uma lighthouse, que dá luz, fornece segurança, mostra caminhos…adaptados a diferentes realidades económicas, sociais e culturais. E eu penso que com este conceito, que é tão transversal até às várias religiões, poderemos conseguir fazer passar mais facilmente a mensagem de que é preciso mesmo fazer diminuir as desigualdades no mundo”, afirma, acrescentando:

“No meu entender, é necessário posicionar a WAO como uma estrutura que oferece segurança, que ao produzir recomendações a nível global, por exemplo, procura que incluam e considerem as diferenças existentes entre países no acesso a cuidados e até dentro de um mesmo país. Importa ter consciência de que em todas as regiões, com frequência, as pessoas não sabem utilizar corretamente os inaladores, mas que também em alguns locais nem sequer têm à sua disposição corticoides inalados com os quais possam controlar a sua asma.”

É por isso que Mário Morais de Almeida sustenta ser necessário ter que se aplicar o que designa como “recomendações pragmáticas”, adaptáveis à realidade. E logo adianta estar a WAO a preparar o lançamento de uma guideline para o tratamento do angioedema hereditário, patologia que, aliás, “tem métodos de tratamento fantásticos, mas que não são, infelizmente, de amplo acesso”. No entanto, frisa, "mesmo no mundo mais desenvolvido que tem acesso a essas terapêuticas, continuamos a ter atrasos lamentáveis de diagnóstico, e Portugal não será exceção!”



Um percurso na WAO que tem início em 2018

Já se percebeu que o primeiro português a presidir à Organização Mundial de Alergia nos quase 75 anos da sua existência – foi criada em 1951 e agrega 115 sociedades e associações de uma centena de países e, automaticamente, os seus respetivos sócios – está bem por dentro do funcionamento da WAO. Já vai perceber-se porquê.

Sem, na verdade, o saber, o percurso de Mário Morais de Almeida em direção à presidência da WAO começou no dia 1 de janeiro de 2018, quando iniciou um mandato de dois anos como membro da Direção, por ter sido um dos dois nomes eleitos para tal, entre os vários indicados pela Academia Europeia de Alergia e Imunologia Clínica e sociedades/associações nacionais da chamada Região Europa, uma das cinco em que esta organização divide o Globo.

Ao ser eleito, dois anos depois, secretário-geral -- e de acordo com o que está estabelecido na WAO --, ficou automaticamente definido o seu futuro, da forma como se poderá ver, em pormenor, no quadro seguinte, e tendo em atenção que os mandatos são de dois anos civis, neste caso, com exceção do período que coincide com a fase crítica da pandemia de covid-19:

Percurso passado e futuro de Morais de Almeida na WAO:
2018-2019 Membro da Direção
2020-2022 Secretário-geral/tesoureiro*
2023-2024 Presidente eleito*
2025-2026 Presidente*
2027-2028 Presidente cessante*
2029-2030 Conselheiro*

Nota: em cada mandato, os 5 detentores dos cargos assinalados com * constituem o Comité Executivo, que integra a Direção da WAO, que tem um total de 20 membros.

"Mudanças climáticas e doenças alérgicas"

Mário Morais de Almeida assume o cargo anteriormente ocupado pelo norte-americano Bryan Martin e o seu sucessor será Gary Wong, de Hong Kong, com quem já trabalha de forma muito estreita, até por ser um dos coordenadores do programa da WAO em aplicação na China, promovendo ações de formação online para audiências de 3000 ou 5000 pessoas!

Depois de Lisboa, em setembro de 2024, o próximo Congresso Mundial da WAO decorrerá entre 28 de fevereiro e 3 de março de 2025, em San Diego, na Califórnia (EUA). Subordinado ao tema “Mudanças climáticas e doenças alérgicas: impacto global na saúde”, realiza-se em colaboração com a Academia Americana de Alergia, Asma e Imunologia, devendo reunir mais de 5000 participantes.

Embora já seja oficialmente, desde o primeiro minuto de 2025, o 28.º presidente da WAO, o imunoalergologista português receberá do seu antecessor, em cerimónia formal a realizar durante o Congresso de San Diego, o símbolo associado ao cargo.

Entretanto, Mário Morais de Almeida já pensa na organização do Congresso Mundial de 2026, em outubro, que envolverá a Sociedade Japonesa de Alergologia, a maior do mundo desta área em número de sócios, que integra 8000 do total de 40.000 membros da Associação Mundial de Alergia.
  

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