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Luta contra a diabetes: «É preciso encontrar novas soluções organizacionais»

O diretor clínico da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) é assertivo: “É preciso encontrar novas soluções organizacionais na luta contra a diabetes, uma doença crónica, com elevado impacto na vida pessoal e também na sociedade em geral.”

Em entrevista à Just News, João Filipe Raposo diz, assim, que “faz todo o sentido definir-se o circuito da pessoa com diabetes, para que haja uma maior interligação entre as diferentes especialidades, mas também entre cuidados de saúde primários, hospitalares e comunidade”.

Como esclarece, “para se obterem melhores resultados, isto é, bom controlo da doença e capacitação da pessoa, é necessário saber-se ao certo quais são os profissionais-chave nesta patologia, qual a sequência dos tratamentos, como se pode ser mais eficiente…” Vários aspetos que, apesar dos projetos no terreno, ainda não estão de todo clarificados. “Esta discussão ainda não terminou e não é fácil chegar a um consenso, porque existem particularidades em todas as regiões”, aponta.



Contudo, como salienta o médico endocrinologista , “a interligação entre cuidados é fundamental, mas é preciso repensar o modelo de prestação de cuidados, porque o atual não está a ter o impacto que se esperava”. E explica porquê: ”A prevalência da diabetes tipo 2 – que é prevenível com alimentação saudável e prática regular de exercício físico – está a aumentar e não se espera um retrocesso tão cedo, segundo os vários estudos realizados.”

João Filipe Raposo considera que “a prevenção é a chave deste problema, mas continua a ser desvalorizada e está como que em stand-by, apesar das várias formações que têm decorrido. Só a APDP proporcionou ações formativas, nos últimos tempos, a mais de 700 profissionais de saúde e de outras instituições”.

O diretor clínico realça que, relativamente à doença, foram dados passos importantes, como “na compensação metabólica da diabetes mellitus e na diminuição da HbA1c para valores iguais ou inferiores a 8”.

Mas ainda há lacunas graves, como na área do pé diabético. “Já vemos mais projetos nas várias regiões do país, mas ainda falta muito trabalho para que, de facto, todas as pessoas com diabetes tenham acesso ao rastreio e tratamento desta comorbilidade que pode levar a amputações minor e major, com todas as consequências negativas daí decorrentes, incluindo para a própria sociedade”, enfatiza.

A situação é ainda mais preocupante na área da Oftalmologia. “Não são muitas as pessoas com diabetes que têm acesso ao rastreio anual da retinopatia diabética – que pode levar a cegueira –, como é recomendado, além de que existem graves dificuldades no acesso a consultas desta especialidade.”



João Filipe Raposo salientou ainda a dificuldade que existe na Saúde Oral, na Nefrologia e na Saúde Mental.

Estes são os principais problemas que, no entender do médico, ainda não têm solução, por não se estarem a fazer as mudanças necessárias. “É preciso encontrar novas soluções organizacionais, não basta encaixar o problema na estrutura, é necessária, sim, uma nova estrutura”, defende.

Centralizar num clínico toda a informação referente ao utente

No seguimento deste pensamento, João Filipe Raposo sublinha a relevância da constituição de equipas de saúde. “As doenças crónicas são predominantes, logo exige-se uma interação entre profissionais de saúde, doentes e cuidadores.”

Mas não só: “O médico de Medicina Geral e Familiar também tem um papel essencial, porque o nosso sistema de saúde está muito fragmentado, daí que seja necessário existir um clínico que centralize toda a informação referente ao seu utente.” Na sua opinião, esta solução vai evitar muitos constrangimentos, começando pela duplicação de recursos, como exames de diagnóstico.

O modo como se exerce Medicina também deve sofrer alterações: “Se nos focarmos mais na visão holística de um doente e menos na sua patologia, conseguiremos definir melhor o percurso do utente, especificando o papel de cada profissional de saúde.”

Ainda no âmbito organizacional, João Filipe Raposo advoga que deve existir maior investimento na telemedicina, assim como em hospitais de dia. “Evitam-se internamentos e reinternamentos e os seus custos associados, além de que se consegue otimizar a adesão à terapêutica e diminuir os custos diretos e indiretos relacionados com a diabetes”, observa.

Nesta estrutura de cuidados, o responsável considera ainda outro pilar: “A educação para a saúde ainda não é, infelizmente, reconhecida nas tabelas de financiamento, mas faz toda a diferença.”

E acrescenta: “A educação terapêutica tem sido também subvalorizada, mas deve ser uma ferramenta a utilizar sempre, não bastando dar um livrinho com indicações, mas ajudando na mudança de comportamentos, para que a pessoa com diabetes consiga ser autónoma e corresponsável pela sua doença.”

Neste âmbito, realça a importância de se criarem equipas com esta competência. “Ainda não estão suficientemente treinadas para apostar nesta ação mais educativa”, afirma, acrescentando: “Não é fácil mudar estilos de vida, mas temos de deixar de nos focar apenas na informação e investir também na identificação das barreiras que impedem a pessoa de alterar hábitos que a estão a prejudicar.”




A entrevista completa com José Manuel Boavida pode ser lida no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de novembro, no âmbito de um Dossier elaborado com o apoio da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal e onde participam mais de uma dúzia de especialistas. 

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