Úlceras por pressão: «Prevenir custa 2 euros por dia, tratar são 50 euros por dia»

A Associação Portuguesa de Tratamento de Feridas (APTFeridas) voltou a assinalar este ano o Dia Internacional Contra as Úlceras por Pressão. Além da realização de algumas iniciativas durante o mês de novembro, o tema esteve em destaque no Congresso da APTFeridas.

Para Filomena Mota, enfermeira responsável pelo Grupo de Trabalho de Úlceras de Pressão, não há qualquer dúvida: "Este é um problema de saúde que, além do sofrimento e do risco de morte, aumenta os custos para o erário público."


Gondomar acolheu, no final de novembro, o Congresso da APTFeridas’19

“As úlceras por pressão continuam a ser desvalorizadas"

“Prevenir custa 2 euros por dia, tratar são 50 euros por dia”, sublinha Filomena Mota. Em declarações à Just News, a especialista adverte: "Trata-se de feridas graves que provocam um enorme sofrimento e angústia quer para o doente como para a família." Além de que "fica muito mais oneroso tratar do que prevenir".

Contudo, apesar da sua gravidade, “as úlceras por pressão continuam a ser desvalorizadas, não existindo uma noção concreta do seu impacto por parte das entidades decisoras e das instituições”.  E, na sua opinião, "prova disso é o desconhecimento da Meta 7 do Plano Nacional para a Segurança do Doente de 2015-2020".

“Ficou estabelecido que, até 2020, se teria de reduzir em 50% as úlceras de pressão, seguindo-se determinados critérios e normas. Mas este objetivo audacioso não deverá ser cumprido", refere a enfermeira do Serviço de Ortopedia do Hospital da Prelada e mestre em Ciência de Enfermagem.


Filomena Mota

Um dos obstáculos que impedem o combate a este tipo de feridas está na escassez de recursos matérias e humanos. “O posicionamento do doente não deve ser feito apenas por um enfermeiro, mas nem sempre há o número adequado de profissionais de saúde", explica Filomena Mota.

Apesar das dificuldades, a enfermeira garante que todos os profissionais envolvidos neste projeto estão muito empenhados: “Temos que continuar sempre a sensibilizar a população em geral, principalmente cuidadores formais e informais, assim como profissionais do setor da saúde e os decisores." No fundo, o objetivo é manter em curso a campanha internacional STOP UPP (STOP às úlceras por pressão).

A responsável do Grupo de Trabalho de Úlceras de Pressão da APTFeridas aproveita para dar um exemplo ilustrativo da gravidade deste problema de saúde: "Relembro que o ator Christopher Reeve – o Super-Homem – morreu na sequência de uma úlcera que evoluiu para septicemia, apesar de ter dois enfermeiros a tempo inteiro e um médico a apoiá-lo.”


Elementos da APTFeridas envolvidos na dinamização da campanha "STOP UPP"

No Congresso APTFeridas’19 foram também apresentadas as novas guidelines das úlceras por pressão, que atualizam as de 2014. “São muito mais sucintas e concretas, baseadas em evidência de nível A, e de fácil aplicação", afirma Filomena Mota.

Outro aspeto relevante são as orientações mais específicas para os grupos de risco das crianças, idosos, acamados, pessoas com lesão vertebro-medular e doentes em estado crítico.

O Congresso marcou também o encerramento das comemorações dos 20 anos da APTFeridas.


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