«Temos bons exemplos de inovação e sustentabilidade na hotelaria hospitalar em Portugal»

Para Pedro Pacheco, presidente da Direção da Associação Portuguesa de Hotelaria Hospitalar (APHH), não há dúvida de que as equipas neste campo, em especial nas áreas da alimentação, limpeza, resíduos, segurança e rouparia, "têm avançado muito" nos últimos anos e, por esse motivo, "queremos divulgar cada vez mais e entusiasmar mais colegas".

Na sua opinião, os profissionais de saúde, "conhecedores de sistemas mais inovadores existentes em outras unidades de saúde, são, eles próprios, indutores de mudanças na hotelaria hospitalar".

As últimas Jornadas organizadas pela APHH, que se realizaram em peniche, no mês de novembro, foram, aliás, uma mostra de vários projetos e de boas práticas que têm vindo a ser implementadas pelo país.

Em entrevista à Just News, Pedro Pacheco, que é administrador hospitalar no Hospital do Espírito Santo de Évora, menciona alguns desses "bons exemplos", mas salienta, contudo, que "muito caminho existe ainda para percorrer, no sentido da inovação, rastreabilidade, digitalização, automatização e personalização de serviços e produtos".

A crescente dinâmica da APHH leva a que, já no próximo mês, se realize o II Encontro, dedicado à Nutrição, e que decorrerá no Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca.



"A APHH é casa comum para partilha de boas práticas"


Just News (JN) - A APHH tem sócios de instituições de todo o país? 


Pedro Pacheco (PP) -
A Associação Portuguesa de Hotelaria Hospitalar conta com sócios de todo o país, da área pública e privada. Estamos também a tentar aprofundar as relações com o Sector Social, uma vez que a área da hotelaria em saúde não é alheia às Santas Casas da Misericórdia. 

Temos sentido um interesse crescente nos temas da hotelaria em unidades de saúde e na atividade da APHH. Congratulamo-nos, por exemplo, com o facto de duas Unidades Locais de Saúde terem manifestado ativamente interesse em serem anfitriãs das Jornadas de 2025.


Pedro Pacheco

JN - Faz então sentido dizer que existe uma grande margem de crescimento para a APHH?

PP - Sim, efetivamente existem vários profissionais cujo dia a dia é centrado nas áreas chave da Hotelaria Hospitalar (alimentação, vigilância, higienização e limpeza, tratamento de roupa e resíduos) que não são sócios da APHH e para os quais pode fazer sentido serem sócios.

Profissionais como são os Nutricionistas, Médicos Veterinários, Encarregados Operacionais da área hoteleira, Engenheiros de ambiente, profissionais da área da Segurança e Saúde no Trabalho, entre outros, podem encontrar na Associação um espaço de partilha e resolução de dúvidas. A APHH é casa comum para partilha de boas práticas, soluções inovadoras e que sendo aplicadas numa Unidade de Saúde, podem ser replicadas.

JN - Até porque a área da Hotelaria Hospitalar abrange temas muito relevantes e que se cruzam com questões como as IACS, por exemplo?

PP -
Exactamente. A limpeza e desinfeção são, de facto, tarefas essenciais dentro de uma Unidade de Saúde. A melhoria da qualidade da limpeza tem impacto nos números de infeção nosocomial. A definição de um protocolo de limpeza bem estruturado passa por vários saberes e órgãos como são as Unidades Locais do Programa de Prevenção e Controlo de Infeções e Resistência aos Antimicrobianos (UL PPCIRA), a Gestão Hoteleira, pelas empresas prestadoras de serviços de limpeza e também pelos Assistentes Operacionais e Técnicos Auxiliares de Saúde.

A propósito da importância do trabalho multidisciplinar tivemos oportunidade de ouvir nas Jornadas a interessantíssima apresentação conjunta da Dra. Ana Pires, gestora hoteleira e da Senhora Enf.ª Zélia Pisoeiro, da UL PPCIRA, ambas da Unidade Local de Saúde do Oeste, subordinada ao tema dos Serviços Hoteleiros e Controlo de Infeção. Historicamente temos contado com a apresentação de comunicações por parte de vários profissionais da área da Prevenção de Infeção nas Jornadas da APHH.


Direção da APHH: Pedro Miguel da Silva Pacheco, Maria João Lino da Silva (vice presidente), Maria Alexandra Santos (secretária geral) e Sandra Luísa Pita de Olim (suplente da Direção)

JN - O tema da Segurança será um bom exemplo de como a Hotelaria Hospitalar vai ter cada vez mais protagonismo, dado – por ex - o maior número de doentes mais idosos e com perturbações cognitivas ou mentais que estão internados e que podem sair inadvertidamente do hospital?

PP - Apesar de se reconhecer que um hospital é um ambiente aberto, onde os doentes são livres de fazerem escolhas informadas para deixar as instalações, a questão da segurança dos doentes, sobretudo os doentes mais vulneráveis (com perturbações cognitivas e mentais), é uma questão que se tem posto, e continuará a colocar-se com muita acuidade.

Os doentes internados, ou no Serviço de Urgência, com doença de Alzheimer ou outros tipos de demência, correm o risco de deambular e de se perderem. Uma vez perdidos, correm o risco de se ferirem e até de morrerem devido a quedas, acidentes e exposição. Como, aliás, infelizmente sucedeu há poucos meses. As Unidades Hospitalares devem garantir a implementação de sistemas robustos, como são os sistemas de pulseiras com recurso a tecnologia RFID, que previnam a fuga de doentes especialmente vulneráveis no perímetro das instalações de saúde.

Existem empresas que avançaram neste âmbito, e dão resposta robusta a esta questão, tal como sucedeu, aliás, em 2008, em que os acontecimentos da altura levaram o legislador a tornar obrigatória a colocação de pulseira eletrónicas nos recém-nascidos, bem como instalação de alarme e sistema de encerramento automático de acesso. Julgo que caminhamos nesse sentido.



JN - Durante as X Jornadas da APHH, tiveram uma sessão dedicada em exclusivo à contratação pública enquanto processo de “valorização da inovação”. Qual a importância deste tema?

PP -
A questão da contratação pública é muito pertinente. Os Unidades Locais de Saúde públicas têm de realizar as suas aquisições de serviços e bens de hotelaria hospitalar através das regras do Código dos Contratos Públicos. Muitas vezes, para aquisição deste tipo de serviços, são lançados procedimentos pré contratuais com critério único de adjudicação: o mais baixo preço. A adjudicação de serviços intensivos em recursos humanos a preços muito baixos encerra dúvidas, quer jurídicas quer perspetivado a execução do contrato.

No campo da execução do contrato, e conforme referido na sessão apresentada nas Jornadas pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde, é importante reportar para o Instituto dos Mercados Públicos, do Imobiliário e da Construção (IMPIC) a execução deficiente de contratos de hotelaria, sobretudo caso exista aplicação de sanções contratuais, para afastar essas empresas que jogam com batota, de futuros Concursos Públicos.

E é também, fundamental aprofundarmos o lançamento de procedimentos pré-contratuais em que sejam ponderadas e avaliadas soluções inovadoras ou sustentáveis.



JN - Uma realidade que é bem diferente no privado, certo? Estas realidades muito diversificadas acabam por ser um desafio, mas também enriquecer a própria APHH?


PP -
As realidades são diferentes. Embora o desafio de monitorizar a execução do contrato seja comum. E, nesse ponto, julgo que devemos aprender com as lições do setor privado.
Sobre isso, tivemos oportunidade de assistir nas Jornadas a uma apresentação da Dra. Alexandra Sousa, da Cuf, verdadeiramente impressiva sobre o nível de conhecimento do contraente, neste caso privado, da execução do contrato de vigilância.

Sabemos que as unidades hospitalares privadas dão grande ênfase, e bem, às condições de conforto, de segurança e privacidade. Penso que a cultura nas unidades públicas está a caminhar nesse sentido. As preocupações com o acolhimento, atendimento aos doentes, com a experiência hoteleira devem ser comuns. E, embora com especificidades muito próprias ao setor da saúde, podemos aprender, público e privado, com a hotelaria tradicional.


A APHH vai já realizar, dia 4 de abril, o seu II Encontro, subordinado ao lema "Perspetivas sobre Nutrição nos cuidados de saúde".

JN - Apesar de certas limitações, o facto é que cada vez mais profissionais vão desenvolvendo projetos inovadores e boas práticas no âmbito da Hotelaria Hospitalar? Foram partilhados alguns exemplos na reunião?


Sim, de facto as equipas muito têm avançado, mas muito caminho existe ainda para percorrer, no sentido da inovação, rastreabilidade, digitalização, automatização e personalização de serviços e produtos. Os doentes deixaram de ser considerados receptores passivos a quem se administram tratamentos médicos e técnicas cirúrgicas, e são vistos, cada vez mais, como indivíduos com necessidades próprias. Também os profissionais de saúde, conhecedores de sistemas mais inovadores existentes em outras unidades de saúde, são, eles próprios, indutores de mudanças na hotelaria hospitalar.

Veja-se, por exemplo, o caso da dispensa automatizada de fardamento. Há relativamente poucos anos era uma solução inatingível para as Unidades de Saúde, e atualmente será, cada vez mais, o novo normal.

Também ao nível da higienização de espaços, pudemos assistir nas Jornada a uma apresentação do Dr. José Carlos Santos, do IPO do Porto, com a demonstração ao vivo de um robot de limpeza. O mercado já disponibiliza estas soluções (que geram poupanças e criam valor) e que seriam impensáveis há uns anos.

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