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Hospital de Santa Marta prepara expansão do projeto de reabilitação cardíaca

O Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC) iniciou em 2004, no Hospital de Santa Marta, a fase 2 da reabilitação cardíaca. A fase 1, com doentes internados, teve início em 2008.

Apesar de não estar ainda equitativamente disponível e todo o país, a reabilitação cardíaca é hoje reconhecida como uma terapêutica essencial para a recuperação funcional dos doentes que sofrerem um acidente cardiovascular, melhorando a sua qualidade de vida e reduzindo o risco de recorrência de eventos.



“Estamos a reforçar o nosso grupo"

Pedro Rio é o coordenador médico deste projeto desde julho de 2018, sucedendo à cardiologista Ana Abreu, que o criou e desenvolveu. Em entrevista à Just News, adianta que pretende diversificá-lo e fazê-lo crescer, tornando-o acessível a mais utentes.

“A equipa foi restruturada e estamos, neste momento, a aumentar a nossa oferta em termos de reabilitação cardíaca, num esforço maior e em conjunto com a Medicina Física e de Reabilitação”, afirma Pedro Rio.


Pedro Rio

E acrescenta: “Estamos a reforçar o nosso grupo com mais fisiatras, enfermeiros e fisioterapeutas, na tentativa de formarmos uma Unidade de Reabilitação Cardíaca e podermos expandir o número de doentes.”

O Serviço de Cardiologia, dirigido por Rui Cruz Ferreira, está inserido num projeto-piloto do Ministério da Saúde cujo objetivo consiste em reabilitar, pelo menos, 30% dos doentes com indicação para tal. “Isto requer um esforço de recursos humanos e estrutura física. Estamos a preparar-nos”, refere.

Tal como explica, o programa é holístico, baseado no doente e interdisciplinar, com interação entre médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, cardiopneumologistas, nutricionistas e psicólogos, para benefício dos doentes, apostando na prevenção secundária, a fim de diminuir o risco cardiovascular e melhorar a sua capacidade funcional e qualidade de vida.



Principal ganho: capacidade funcional

Pedro Rio, 36 anos, é cardiologista há três e, segundo conta, está a dedicar-se a esta área por considerar que, apesar dos avanços tecnológicos que se têm vindo a fazer notar em Cardiologia, continua a ser importante dar aos doentes “coisas básicas”, como educação para a saúde, prevenção secundária e controlo dos fatores de risco.

“Infelizmente, não conseguimos fazer este tipo de abordagem nas consultas, por não termos tempo, e os doentes beneficiam muito desta intervenção mais profunda e global”, lamenta.



Do que tem apurado, Pedro Rio refere que o principal ganho é a capacidade funcional, que é objetivamente medida através de provas de esforço cardiorrespiratórias, com o aumento de consumo máximo do oxigénio.

Contudo, veem-se ganhos também noutros parâmetros, com impacto na mortalidade e nos internamentos  por insuficiência cardíaca, bem como na qualidade de vida, promovendo um aumento da adesão terapêutica e um maior controlo da pressão arterial, dos perfis lipídico e glicémico e de vários parâmetros inflamatórios.

“É necessário que seja montada uma estrutura e que todos os hospitais que tratam doentes cardíacos lhes possam oferecer este programa. É muito importante não apenas em termos físicos, como psíquicos”, garante o médico.


Vítor Ferreira e Pedro Rio

Programa é estruturado de acordo com o doente e a patologia

Vítor Ferreira tem 39 anos, tendo iniciado a sua carreira de Enfermagem em 2002. Em 2004 foi trabalhar para o Serviço de Cardiologia do Hospital de Santa Marta e optou pela reabilitação. Em 2009 tirou a especialidade e é, hoje, o enfermeiro coordenador do Programa de Reabilitação Cardíaca. “Na altura, escolhi esta área por ser a menos falada e pelo desafio de poder vir a alterar alguma coisa. Hoje, acho que é uma das que vai ter um crescimento maior”, garante.

Segundo o enfermeiro, o programa tem vindo, ao longo do tempo, a estender-se a mais patologias e doentes, tendo sido, em 2017, modificado no que respeita à sua interdisciplinaridade.

“Em cada sessão de exercício de fase 2 está um enfermeiro de reabilitação com suporte avançado de vida, um técnico cardiopneumologista e um fisioterapeuta. Temos também o apoio de um fisiatra e de um cardiologista”, afirma. O grupo tem uns seis doentes em exercício por sessão, sendo que cada um realiza duas sessões por semana. O número total varia mediante a patologia.

Contudo, este acompanhamento é feito pelo menos durante 12 semanas e até 48 sessões. “Há sempre alguma especificidade em cada doente, tendo em conta a sua idade e patologia. O objetivo é que se torne autónomo”, diz Vítor Ferreira.



De acordo com o nosso interlocutor, “um doente com alguma debilidade” é eletivo para reabilitação aquando do internamento e os enfermeiros vão tentar perceber como poderão começar a reabilitá-lo. “Iniciamos a reabilitação mesmo que o doente esteja, por exemplo, mal ventilado, com o intuito de conseguirmos efetivar o levante o mais rapidamente possível e fazer com que dê os primeiros passos, suba e desça escadas, etc.”

O programa é estruturado com base nas necessidades de cada doente e de acordo com a sua patologia. No momento da alta fica definida a data da próxima consulta, bem como os exames que tem de realizar, e o doente é inserido no programa de reabilitação cardíaca fase 2.

“Na consulta, voltamos a incidir sobre os fatores de risco, fazemos educação para a saúde, reeducação em termos da sua atividade sexual, realizamos ensinos e percebemos a especificidade do doente com quem estamos, para determinar a estratégia e os objetivos a atingir”, diz Vítor Ferreira, acrescentando que, na fase final, aquele volta a ter consulta e é encaminhado para a comunidade.



A evolução destes doentes é difícil e longa. Por vezes, há algumas desistências. Vítor Ferreira aposta no seu trabalho motivacional e insiste em “agarrar” e ajudar o doente a ultrapassar esta fase. “É um dos aspetos que mais gosto me dá enquanto enfermeiro de reabilitação”, reconhece.

E acrescenta: “O que mais me motiva é conseguir que se mantenha no programa. Os resultados são positivos, gosto de perceber que tenho um papel ativo. Muitos dos momentos que tenho com alguns dos doentes são decisivos para querer continuar com o meu trabalho.”

A caminhada dos doentes é visível e as melhorias também. No entanto, os profissionais do programa consideram importante quantificar estes ganhos, tendo iniciado também uma atividade de monitorização. Desta forma, é possível efetivar o empowerment do doente, perceber melhor os resultados e se é possível avançar mais.

“Os resultados são muito bons”

Isabel Mimoso, coordenadora dos polos de Medicina Física e de Reabilitação dos hospitais de Santa Marta e dos Capuchos, considera que os resultados da reabilitação de doentes com patologias cardíacas são “muito bons”.

Contudo, diz serem necessários mais profissionais para fazer crescer este projeto. “O objetivo é alargar o programa, mas, para isso, precisamos de pelo menos mais um fisiatra e um fisioterapeuta e de outras condições físicas”, observa.


Isabel Mimoso

Segundo explica, de manhã, o programa conta com a fisiatra Custódia Filipe, pós-graduada em Reabilitação Cardíaca. À tarde, as instalações de MFR são ocupadas pelos profissionais da Cardiologia e por um fisioterapeuta.

“Os resultados são muito bons. Os doentes saem aptos para fazer uma vida normal, sem problema”, conclui. O Serviço de Medicina Física e de Reabilitação é dirigido por Pedro Soares Branco.



A reportagem pode ser lida no Hospital Público de maio/junho de 2019.
Distribuído em serviços e departamentos de todos os hospitais públicos, o jornal Hospital Público promove uma partilha transversal de boas práticas entre pares, contribuindo para valorizar o Serviço Nacional de Saúde e os seus profissionais.

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