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«Há falta de humanização no contacto entre o médico de família e o médico hospitalar»

A poucos dias do Congresso Nacional de Medicina Interna, que este ano juntará, com certeza, bem para lá dos dois mil participantes no denominado Palácio de Congressos do Algarve, nos Salgados, o seu presidente diz que o tipo de relação existente entre o médico dos cuidados de saúde primários e o médico do hospital “tem que melhorar ainda mais”.

O problema começa logo no facto de a ligação entre a especialidade de Medicina Geral e Familiar e a medicina hospitalar ser “feita basicamente por encaminhamento para consulta”, o que, na sua opinião, “é limitativo”. Aliás, “se não houver uma integração de cuidados entre o hospital, sobretudo a MI, e o MF a situação não se vai modificar”, garante.

“Neste momento, ela é um bocadinho seca e por via eletrónica... Há falta de pessoalização, ou de humanização, de contacto pessoal entre o MF e o médico hospitalar”, diz Estevão de Pape. E mais: “A porta de entrada no hospital não pode ser só por via do pedido de consulta, ou da urgência...”



No seu entender, “o MF tem que ser o condutor da pessoa com doença e sem doença e precisa de manter um contacto próximo com a estrutura hospitalar”. Na verdade, “não há uma ligação proativa do MF e do médico hospitalar que seja eficaz” e isso compromete muito.

Estevão de Pape entrou para os quadros do Garcia de Orta “um ou dois meses” antes da sua inauguração oficial (já passaram mais de 25 anos!) e mostra evidente satisfação ao afirmar que ali se têm dado “grandes passos no sentido de se abrir uma porta de comunicação” com as unidades de CSP da zona de influência daquele hospital”.

Sublinha mesmo que, atualmente, “é uma porta muito aberta, muito ampla...” Refere-se particularmente ao que a Medicina Interna do HGO tem feito, até porque se trata da sua especialidade, mas a verdade é que a relação estreita com os ACES Almada-Seixal e Arrábida-Setúbal e as unidades que os integram “alastra” a outros serviços daquela instituição da margem sul do Tejo, com o incentivo do próprio Conselho de Administração.

E tal como os médicos hospitalares se deslocam às USF (no HGO há especialidades que o fazem, como a Medicina Interna, a Oftalmologia, a Cardiologia e a Endocrinologia, investindo numa medicina de proximidade), “também o inverso acontece”. 

“Verifico que noutros locais são dados passos que nós já demos há imenso tempo, há alguns anos...”, insiste.

Estevão de Pape refere ainda acreditar na importância do protocolo assinado, em abril, entre a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e a Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI). Tal aproximação “contribuirá em muito para a melhoria da integração de cuidados e do próprio SNS”.


“Medicina Interna 100 Margens”

Há algo que Estevão Pape vai repetindo ao longo da entrevista:“Temos que dar passos no relacionamento com os cuidados primários.” Não admira, pois, que tenha resolvido (ele e a  equipa que o acompanha na organização do Congresso) escolher para lema da reunião a expressão “Medicina Interna 100 Margens”.

“A MI sem margens tem que ver com a necessidade de darmos uma dinâmica nova aos médicos mais recentes, fazendo-lhes ver que o futuro está nas suas mãos e que não podem ter margens que os prendam entre as quatro paredes do hospital. A colaboração com o doente e com a sua família não pode ter margens que a limitem”, frisa.

Há matérias que vão ser abordadas e debatidas no Congresso que interessam particularmente à MGF: a questão das urgências, o tema da hospitalização domiciliária e outras alternativas ao internamento hospitalar, ou os cuidados paliativos. São apenas alguns exemplos.


Luís Campos, presidente da SPMI, e Estevão Pape

Sendo o presidente do 24.º CNMI alguém tão ligado à patologia da diabetes, não poderia deixar de a referir, até porque “os novos fármacos para a diabetes criam, seguramente, uma vacilação a quem não trata especificamente diabéticos”.

A esse propósito, interroga-se por que razão o MF não pode prescrever alguns fármacos, ou ter limitações nesse campo. “Não deve ser algo exclusivo do médico hospitalar, ou do
médico diferenciado em Diabetologia o poder receitar alguns tipos de insulina, por exemplo”, diz Estevão Pape, acrescentando que “o facto de o Programa Nacional da Diabetes envolver muito os CSP só mostra a importância do MF”.

Já sem contar com o do próprio presidente da SPMI, Luís Campos, que terminará precisamente o seu mandato de dois anos agora no 24.º CNMI, são umas duas dezenas os nomes que aparecem na “ficha técnica” do Congresso, todos do Hospital Garcia de Orta, basicamente todos internistas (há uma interna na lista!). A juventude da equipa é evidente, já que a maioria tem menos de 38 anos, informa Estevão de Pape.

O evento tem início dia 31 de maio, quinta-feira, e acaba no domingo a seguir.


A entrevista completa pode ser lida na última edição do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Primários.

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