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Esquizofrenia: «Sintomas negativos são facilmente confundidos com outras perturbações»

Os sintomas negativos da esquizofrenia, que se podem confundir com depressão, foi um dos temas do XII Colóquio Internacional da Esquizofrenia – Atualizações em Esquizofrenia, como refere António Palha, presidente da Comissão Organizadora. O XII Colóquio Internacional da Esquizofrenia decorreu esta sexta e sábado, na Fundação Dr. António Cupertino Miranda, tendo contado com o apoio da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Segundo o médico, “a esquizofrenia é a patologia mais complexa da área da Psiquiatria”. Dessa forma, os primeiros sinais "podem facilmente ser confundidos com outras perturbações do foro psíquico", e explica a ideia: "Quando estamos perante sintomas negativos – embotamento emocional, isolamento, incapacidade de comunicação, o diagnóstico tende a ser, na maioria das situações, depressão".

Torna-se assim essencial, na sua opinião, que os especialistas tenham noção da sintomatologia desta doença, que pode ser diferente consoante os casos. “Na conferência de abertura contámos com o contributo do Prof. Pio Abreu, que nos falou da nosografia moderna da esquizofrenia, além de também contarmos com uma intervenção do Dr. Pedro Levy sobre o que pode acontecer no primeiro surto, muitas vezes confundível com uma crise de transição da idade ou com uma crise neurótica.”


António Palha

Ainda relativamente aos sintomas negativos, enfatiza a esperança que os novos tratamentos podem trazer a estes pacientes: “Há novas moléculas que atuam também nesta sintomatologia negativa, o que é uma grande esperança para todos."

É possível obter "uma total recuperação"


António Palha faz questão de sublinhar que “existem muitas pessoas com esquizofrenia que, com tratamento adequado e com o devido acompanhamento, conseguem constituir família e ter um emprego e isto não pode ser esquecido”.

E acrescenta: “A esquizofrenia é uma doença na qual se consegue uma total recuperação, ou seja, não há uma cura mas a pessoa não tem sintomas e com tratamento faz uma vida normal”.

Para isso muito contribui, segundo o especialista, “o diagnóstico precoce e a reabilitação psicossocial, daí que o Colóquio se tivesse iniciado com um workshop sobre esta temática”.
No sábado, o enfoque foi sobretudo na dimensão neurofisiológica da doença, sendo abordados assuntos como ritmos circadianos, potenciais evocados ou a eletroconvulsoterapia.

Condições sócio clínicas dos doentes psicóticos

No último dia do Colóquio, João Marques Teixeira, presidente da SPPSM, falou na conferência de encerramento dos resultados do estudo “Condições sócio clínicas dos doentes psicóticos de evolução prolongada em Portugal”, do qual foi coordenador.

Como referiu, “o objetivo foi ter um conhecimento real e concreto do problema a nível nacional e contribuir assim para o desenvolvimento de políticas e programas que sejam baseados na evidência”.

De acordo com o estudo, 74,6% dos doentes com psicose são solteiros, um terço habita numa residência protegida ou está internado numa instituição de saúde mental e apenas 29,9% têm apoios sociais. Quanto às habilitações literárias, apenas 12,7% tem formação superior, sendo que 29,9% tem o ensino secundário e 4,5% não sabe ler e escrever.

No que diz respeito ao emprego, 21% estão desempregados e a grande maioria está reformada por invalidez. O perfil indica ainda que 80,6% participam em atividades ocupacionais.

Ainda segundo os resultados, cerca de 38% estiveram internados nos dois últimos anos, sendo que a 56,7% revelaram não ter tido recaídas no último ano. Relativamente à perceção do seu estado de saúde, 48,5% considera ser razoável, apesar de 26,1% dos cuidadores apontar como sendo fraco. O valor médio gasto na compra de medicamentos é variável e 28% não tem noção da mesma.

A investigação conclui ainda que a idade média de início dos sintomas da doença é de aproximadamente 22 anos, embora decorram, em regra, dois a três anos até ao acompanhamento em consulta da especialidade e um a três anos desde o início do acompanhamento à instituição de terapêutica farmacológica.

De salientar que, além desta patologia, 39% afirmou sofrer de depressão (10,4%) e de obesidade (9,7%).



João Marques Teixeira informou que se tratou de um estudo transversal do tipo inquérito, tendo sido realizado em colaboração direta com a FamiliarMente - Federação Portuguesa das Associações das Famílias de Pessoas Com Experiência de Doença Mental.

A população alvo do estudo foram os doentes psicóticos de evolução prolongada em Portugal, que se estima serem 60 mil casos, já diagnosticados. Nos casos em que os doentes não se encontravam aptos para responder ao inquérito, o preenchimento foi assegurado pelos respetivos cuidadores/ representantes legais. A recolha dos dados decorreu entre outubro de 2017 e março deste ano.


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