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Escolas Médicas Portuguesas defendem «uso generalizado de máscaras»

O apelo do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas (CEMP) vai em sentido contrário ao defendido pela Direção-Geral da Saúde, que "não recomenda, até ao momento, o uso de máscara de proteção para pessoas que não apresentam sintomas".

De acordo com o CEMP, que reuniu esta quarta-feira, deve ser recomendado o uso generalizado de proteção individual para fazer face à "mais grave crise de Saúde Pública vivida em Portugal e no Mundo, em mais de 100 anos", destacando "o uso de máscaras pela comunidade, a fim de reduzir o risco de contaminação".

Para evidenciar a importância da medida, que segue "as recomendações de várias entidades internacionais", recorda-se o facto de que grande parte dos infetados por Covid-19 são assintomáticos e que não terão sequer conhecimento da sua situação, algo particularmente crítico quando Portugal acaba de entrar na denominada fase de mitigação:

"Está demonstrado que cada 4 em 5 dos indivíduos contaminadores desconheciam que estavam infetados no momento em que infetaram terceiros. A experiência de Países como China, Macau, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul, é muito consistente."

É também reconhecido que tal decisão "implica a existência duma reserva de máscaras para a população, o que se recomenda fortemente, bem como de uma atitude pedagógica de explicação do uso das mesmas, à semelhança do que foi feito noutros Países com grande sucesso".  


Fausto Pinto, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, é o atual presidente do CEMP e, à semelhança de outros diretores de escolas médicas portuguesas, tem também alertado publicamente para a urgência de serem adotadas certas medidas que considera críticas

Recomendações para "diminuir o impacto da pandemia em Portugal"

A utilização generalizada de máscaras é uma das recomendações propostas pelo CEMP, um órgão constituído por todos os diretores de Escolas Médicas Portuguesas e que assume a sua "independência total do poder político, tendo como único propósito o Bem Público".

Em comunicado, o CEMP faz questão de "manifestar o seu público apreço pelo conjunto de medidas que têm vindo a ser implementadas pelas autoridades nacionais, muito em linha com o que tem vindo a recomendar nas últimas semanas".

Contudo, acrescenta, "existem um conjunto importante de áreas em que ainda é possível fazer um reforço significativo dessas mesmas medidas, de forma a diminuir o impacto da pandemia a Covid-19 em Portugal".

"Quarentena obrigatória para os nossos emigrantes"

Outra das recomendações divulgadas hoje pelo CEMP prende-se com a necessidade de "encerramento de toda atividade não essencial, incluindo o encerramento de fábricas, atividade da construção civil e outras que ainda permanecem praticamente em atividade normal".

Merece especial atenção a vinda de portugueses nesta altura do ano, sendo necessário "tornar obrigatória a quarentena de 15 dias para todas as pessoas que entram no País, vindas de outros Países, nomeadamente, os nossos emigrantes que pretendem passar a Páscoa em Portugal, ou mesmo voltar".

É mesmo sublinhado que "esta medida é fundamental para garantir o esforço de contenção que se tem estado a fazer".

Valerá a pena recordar que o CEMP, bem como diretores das escolas médicas em nome individual, tem sido um defensor acérrimo da aplicação atempada de medidas de isolamento social, da necessidade da declaração do estado de emergência e da importância da quarentena, novamente sublinhada no comunicado de hoje:

"A quarentena obrigatória é o único instrumento que atualmente existe para fazer uma contenção da pandemia a covid-19, dada a inexistência duma terapêutica específica ou duma vacina."

E, por esse motivo, é deixado novo alerta: "É necessário tornar esta quarentena mais eficaz, pois ainda existe um número muito significativo de pessoas a circular, constituindo vetores da doença."


"Teremos de ser rápidos nas decisões a tomar"

A realização "maciça de testes, tal como recomendado pela OMS para detetar mais casos, identificando e isolando fontes de contágio" é outra das recomendações. Uma medida que foi, aliás, já anunciada pelas autoridades e que começa a ser implementada.

Além da importância da criação "duma base de dados de âmbito nacional, à qual cientistas possam ter acesso", o CEMP apela para o "reforço significativo do orçamento do Ministério da Saúde, a fim de proceder a um reequipamento adequado das estruturas de saúde".

E, associado a este maior investimento, merece "especial atenção a necessidade de haver material suficiente de proteção para os profissionais de saúde", já que é confirmado existirem "situações em que este equipamento não está disponível em quantidade adequada, o que tem contribuído para o número muito significativo de profissionais de saúde já infetados".

O documento elaborado pelos diretores das escolas médicas portuguesas termina com um derradeiro apelo: "Se queremos minorar o impacto deste terrível desafio no SNS e em todo o povo português, teremos de ser rápidos nas decisões a tomar, e eficazes na implementação das decisões já tomadas!"

Conselho de Escolas Médicas Portuguesas

Presidido por Fausto J. Pinto, o CEMP integra também Altamiro da Costa Pereira e Carlos Robalo Cordeiro, diretores da Faculdades de Medicina da Universidade do Porto e de Coimbra, Henrique Cyrne Carvalho, diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Isabel Palmeirim, presidente do Departamento de Ciências Biomédicas e Medicina da Universidade do Algarve, Jaime Branco, diretor da Nova Medical School | FCM da Universidade Nova de Lisboa, Miguel Castelo Branco, presidente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior, e Nuno Sousa, diretor da Escola de Medicina da Universidade do Minho.

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