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Consulta de Enfermagem de Estomaterapia dá apoio a 500 pessoas com ostomias

“A ostomia não deve ser encarada como uma doença, mas sim como uma segunda oportunidade”, afirma Manuela Honório, coordenadora da Consulta de Enfermagem de Estomaterapia do Hospital Fernando Fonseca (HFF), na Amadora.

A enfermeira acompanha estas pessoas e defende a sua causa, desmistificando esta temática, quer junto da comunidade em geral, com ações de sensibilização, quer dos profissionais de saúde, através de formação.

Osotomia: "Ninguém quer ouvir falar dela"

“É importante informar a população sobre este assunto. Todas as doenças são horríveis, mas algumas têm mais simpatia do público e são mais abordadas. No caso da ostomia, ninguém quer ouvir falar dela. É um tema tabu e as pessoas são rejeitadas”, alerta Manuela Honório, acrescentando que estes doentes “têm o direito a ser respeitados, integradas na sociedade e amados como quaisquer outros indivíduos”.

A causa major que leva à ostomia de eliminação, a mais frequente, é o cancro do intestino. No entanto, pode também ser consequência de tumores noutros órgãos (útero, próstata, bexiga) ou de doenças inflamatórias do intestino. Na sua origem podem estar, igualmente, tratamentos com radiação ou determinadas cirurgias, mas também acidentes de viação, por exemplo.

Anualmente, são registadas no HFF entre 100 a 120 novas ostomias intestinais, prevendo-se que este número venha a aumentar, uma vez que o Núcleo de Cirurgia Colorretal do Serviço de Cirurgia é centro de referência a nível nacional.

A Consulta de Enfermagem de Estomaterapia acompanha todas as ostomias em conjunto. Atualmente, estão ativos cerca de 500 utentes, tendo sido excluídos todos os que foram reconstruídos, faleceram ou não vão à Consulta há mais de um ano. No decorrer de 2016 foram realizadas mil consultas. Simpática, faladora, disponível e com um crachá que diz “Amo ser enfermeira” na lapela da bata, Manuela Honório fala da Consulta que criou há cinco anos e da qual tem “muito orgulho”.



Segundo recorda, antes da sua existência, grande parte das pessoas com ostomia eram reinternadas com complicações. Por outro lado, sentia-as “desesperadas” e, por isso, pensou que tinha de fazer algo. “Estavam sozinhas, isoladas, não tinham vida. Investiguei, inscrevi-me na Associação Portuguesa de Enfermeiros de Cuidados de Estomaterapia, fui a congressos, fiz formações. Abri a Consulta e criei uma equipa”, lembra.

Probabilidade de complicações "diminuiu muito"

Atualmente, são três as enfermeiras que realizam esta Consulta -- a própria Manuela Honório, Raquel Alves e Dulce Oliveira. Estas profissionais fazem “uma espécie de coaching” à pessoa com ostomia.

Outras duas enfermeiras foram transferidas de serviço, "mas tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da consulta. A Sandra Matos continua a dar um contributo precioso na pessoa com ostomia em cuidados intensivos cirúrgicos, e a Sabrina Tavares no encaminhamento para a comunidade, já que foi transferida para a equipe de gestão de altas (EGA)".

Fazendo questão de deixar claro que o apoio à pessoa com ostomia "não se reduz à consulta", Manuela Honório sublinha que "a probabilidade de os doentes virem a ter complicações no pós-operatório diminuiu muito. Por outro lado, a sua aceitação também é maior, porque falamos muito com eles sobre o assunto.”


Comemoração do 5.º aniversário da Consulta de Estomaterapia (2016): Dulce Oliveira, Raquel Alves, Manuela Honório, Sabrina Tavares e Sandra Matos  

Quando a intervenção está prevista, é feita uma consulta pré-operatória que consiste na preparação e na marcação do estoma – prevenindo assim algumas complicações –, sendo explicado o tipo de cirurgia que vai ser feita e tudo o que vai acontecer.

Depois da cirurgia, aquando da saída dos Cuidados Intermédios, inicia-se o ensino, que passa por mostrar quais os dispositivos existentes no mercado e, posteriormente, explicando como utilizar o material e ser independente. Caso o doente não tenha competências cognitivas e/ou motoras, as explicações são dadas a um familiar.

Segundo Manuela Honório, a enfermeira de Estomaterapia “não deve condicionar o doente na escolha do material”, mas sim dar-lhe a conhecer e a experimentar tudo o que há no mercado, para que possa escolher aquele com que se sente melhor.

"Sentem que têm alguém que os apoia"

O acompanhamento em Consulta de Enfermagem de Estomaterapia é realizado oito dias após a cirurgia, quinze dias depois da primeira consulta, três semanas após a primeira consulta, de mês a mês durante algum tempo e, posteriormente, passa a trimestral, no primeiro ano, e a semestral no segundo. Se o doente precisar de uma consulta antes da data marcada contacta as enfermeiras e é visto.



“Em suma, esta Consulta consiste no ensino, treino e despiste de complicações, por exemplo, prolapso, estenose e queimaduras da pele”, afirma Manuela Honório. E acrescenta: “Também estimulamos a pessoa a ter mais autoestima. Quando vemos os doentes no hospital cumprimentamo-los com um abraço, para que se sintam aceites.”

“A minha relação e a da minha equipa com estes doentes é ótima. Ele sentem que têm alguém que os apoia. É bom para todos. Para nós também, faz-nos sentir úteis”, observa.




A notícia completa pode ser lida na edição de janeiro do Hospital Público.

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