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Admissão Pré-Internamento Cirúrgico: Mais humanização e menos infeções hospitalares

Uma inovação que otimiza recursos, aumentando a eficiência na ocupação de camas e, simultaneamente, melhorando, e muito, a humanização dos cuidados prestados.

Implementada há dois anos no Hospital Padre Américo, em Penafiel, a Clínica de Admissão Pré-Internamento Cirúrgico (APIC) rapidamente obteve resultados que convenceram os mais céticos. As melhorias são bem visíveis ao nível do funcionamento do Bloco Operatório e do Recobro, com tempos de espera "que são agora muito curtos, não atrasando as cirurgias".



Humanização de cuidados

Em entrevista à Just News, Joaquim Moreira, enfermeiro gestor da Direção do Departamento Cirúrgico do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) e o grande mentor do projeto, explica que tudo começou quando, em 2019, resolveu responder ao repto lançado pela instituição aos seus profissionais no sentido de "apresentarem ideias que favorecessem a humanização de cuidados".


Acreditando que a solução para tornar mais eficaz a admissão de doentes para cirurgia programada – de que aqueles seriam, note-se, os primeiros beneficiados – passava pela criação de uma estrutura centralizada própria, desenhou o projeto e apresentou-o superiormente. Os tempos de espera para o Bloco Operatório (e do Bloco para o Internamento) são agora muito curtos, não atrasando as cirurgias.


A solução por si imaginada para resolver uma situação que causava alguns constrangimentos a vários níveis foi bem recebida, mas havia um problema, "a evidente falta de espaço para instalar essa nova estrutura".

Até porque, no seu entender, havia uma condição inultrapassável: esse espaço não podia ser noutro local que não fosse o piso 4 do edifício, porque é ali que está instalado o Bloco Operatório.


Joaquim Moreira

Com efeito, “era preciso resolver um dos problemas que nós tínhamos, que era o estrangulamento causado pelo elevador, considerado o gargalo neste processo”. Não havia dúvidas: “Só ultrapassando esse obstáculo conseguiríamos alcançar ganhos efetivos com a implementação do projeto.”

Joaquim Moreira tinha a seu favor o facto de conhecer muito bem o Hospital Padre Américo porque esteve praticamente durante um ano a acompanhar a preparação da sua abertura, que viria a acontecer em setembro de 2001. No caso concreto do piso 4, analisou a situação e concluiu que, desviando-se um corredor, aproveitando-se uma zona de arquivo que deixara de ser utilizada, e pouco mais... havia uma solução à vista!

O eclodir da pandemia de covid-19, em março de 2020, não travou a concretização do projeto, que obrigaria à abertura de um concurso público para adjudicação da obra, que ficaria concluída entre o fim de julho e o início de agosto. “Ainda começámos a funcionar na última semana de agosto, mas foram dias de teste, principalmente para todos os profissionais envolvidos se articularem entre si”, refere o coordenador da Clínica APIC.


Uma área ampla, com espaço para 8 camas

A área da Clínica APIC é relativamente ampla, com espaço para acolher 8 camas – que vão circulando, elas próprias, numa lógica que mais adiante neste texto se verá em que consiste – e com capacidade para ali serem recebidos e preparados todos os doentes que vão ser submetidos a uma cirurgia convencional programada no Hospital Padre Américo.

Como os utentes vão entrando e seguindo para o Bloco, é possível receber ali, num só dia, até 20 a 25 utentes, que é o número de operados em ocasiões de excecional atividade cirúrgica.

Inicialmente, as cirurgias da área da Ginecologia não estavam contempladas no projeto, mas não demorou muito a perceber-se que havia capacidade de resposta para receber igualmente essas doentes. E assim também essa se veio juntar às restantes especialidades cirúrgicas do CHTS: Ortopedia, Cirurgia Geral, Cirurgia Vascular, Cirurgia Plástica, Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Urologia.

“Neste momento, todos os casos de cirurgia programada entram pela Clínica, exceto os que requerem oxigenoterapia contínua -- porque, por opção, nós não temos aqui disponíveis gases medicinais – e os doentes dependentes, que chegam de maca”, esclarece Joaquim Moreira.



A proximidade da Clínica ao Bloco Operatório é tão grande que a distância a percorrer não demora mais do que um minuto. A equipa também tratará depois de o levar desde o Recobro ao Internamento. Embora o constrangimento do elevador se mantenha, não será tão grave porque essa deslocação acontece numa altura do dia com menos movimento.


Joaquim Moreira lembra que o Hospital Padre Américo foi dimensionado para servir 300/350 mil habitantes e que hoje dá resposta a 500/525 mil. Por isso, “muitas vezes, quando o doente chegava para ser admitido no Internamento, não havia cama para atribuir, ou o colega que tinha de tratar do processo simplesmente estava ocupado a prestar cuidados a quem se encontrava internado”.


Para além disso, “criava-se frequentemente uma situação de stress, com o Bloco a pedir o doente, não estando este ainda preparado para seguir”.

Entreposto de camas faz subir o seu número de 8 para 14...


A Clínica APIC tem um horário de funcionamento que se estende das 7 às 19 horas, de segunda a quinta-feira. “Ora, isso dá-nos capacidade de resposta para receber os doentes, transportá-los ao Bloco, irmos buscá-los ao Recobro e, finalmente, levá-los ao Internamento”, afirma Joaquim Moreira.

O coordenador desta autêntica unidade de admissão e internamento pré-cirúrgico aponta como uma das suas grandes vantagens “o conseguirmos aumentar a eficiência na ocupação de camas, que é um recurso escasso na instituição”. E como é isso possível?

“O que sucede é que a cama atribuída a um doente que recebemos aqui na Clínica vai ser sempre a sua cama, depois do Bloco, quando está no Recobro e ao ficar internado. Entretanto, do Internamento iremos trazer outra cama vazia, que era ocupada por um doente que terá tido alta. Portanto, há sempre aqui uma circulação de camas.”


Mas um problema surgiu, embora para o qual se tenha encontrado de imediato uma solução. “É óbvio que nós, logo de manhã, até pelo facto de termos uma  taxa de ocupação muito alta no hospital,
ao levarmos um doente para o Bloco, não vamos ter, automaticamente, uma cama do Internamento disponível para colocar aqui na Clínica", explica Joaquim Moreira.

E como foi resolvida essa situação? "Criámos um entreposto de 6 camas, num espaço de um corredor interno suficientemente largo (no acesso à Urgência Pediátrica), que utilizamos quando não há camas livres no Internamento, o que acontece sobretudo ao início da manhã. Neste momento, temos aqui 3 ou 4 camas que vieram de lá."

Adormecer antes de um ato cirúrgico: "eu vejo isso acontecer aqui"

Com música relaxante, para além de wi-fi disponível, os utentes do CHTS que passam pelo espaço da Clínica APIC não só são logo atendidos como encontram um ambiente que lhes permite descontrair enquanto esperam pela cirurgia.

“Não é muito normal uma pessoa adormecer antes de um ato cirúrgico, porque não deixa de ser um momento de ansiedade, que cria muitos receios, mas eu vejo isso acontecer aqui”, assegura Joaquim Moreira.

O que também não falta na Clínica são cadeirões para os acompanhantes dos doentes. O coordenador explica: “A ideia é a pessoa que o doente identificar poder estar presente enquanto ele se encontra aqui, acompanhá-lo até à porta do Bloco Operatório, recebê-lo à saída do Recobro e seguir com ele até ao Internamento.”


Adicionalmente, o acompanhante que for identificado como tal vai sendo informado sobre o que se passa com o doente, nomeadamente, ao entrar no Bloco, quando a cirurgia acaba, tal como quando entra e sai do Recobro. “Trata-se de um sistema automático que envia as mensagens para o seu telemóvel no momento em que é feito o registo no nosso aplicativo informático”, esclarece Joaquim Moreira.



Projeto premiado: "Ideia simples, resultados fantásticos"

Pelo seu caráter inovador, o projeto APIC foi precisamente o grande vencedor da edição do ano passado do Prémio Healthcare Excellence, atribuído pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares.


Em declarações à Just News, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Carlos Alberto recorda como as coisas se passavam antes da criação da Clínica APIC. 

“O que acontece é que nós tínhamos, como em geral todos os hospitais têm, um modelo de funcionamento em que uma boa parte dos casos de cirurgia programada eram internados na véspera. Com toda aquela movimentação do doente que era chamado ao Bloco, que tinha que esperar pelo elevador... com todo o desconforto para si e uma carga enorme de esforço para os profissionais. E para além do tempo perdido...”


Atribuição do prémio em 2021: Carlos Alberto (ao centro) com José Ribeiro, Joaquim Moreira e as enfermeiras Paula Neto e Teresa Meireles

Na sequência da sua implementação, salienta o responsável, “somos hoje o melhor hospital do país no que diz respeito ao tempo de internamento pré-cirúrgico”, fazendo questão de destacar a maior segurança para o doente, já que, ao "diminuir em pelo menos um dia o internamento por cada doente operado, conseguimos também reduzir significativamente a probabilidade de infeções hospitalares".  

Quanto à atribuição do prémio, considera que veio reconhecer as mais-valias de um projeto que se revelou "eficaz no processo de admissão e preparação dos doentes em causa", nomeadamente ao nível da humanização de cuidados. E acrescenta: "É um caso paradigmático de uma ideia simples que traz resultados fantásticos."

A Clínica APIC integra o Departamento Cirúrgico, dispondo de uma equipa própria, constituída por 1 enfermeiro coordenador, 3 enfermeiras, 4 assistentes operacionais e uma assistente técnica.

15 dias depois, "quem tinha dúvidas já deixara de as ter"


No projeto desenhado por Joaquim Moreira, praticamente tudo estava previsto. Por exemplo, na eventualidade de haver alguma cirurgia que acabe por não se realizar e fique adiada para o dia seguinte, “nós conduzimos esse doente ao Internamento e os colegas tratam de o levar depois ao Bloco”.


Esta situação é tão rara como a circunstância de haver uma alta do Recobro que só acontece depois das 19 horas: “Foi feita uma análise de custo-benefício e concluiu-se que seria mais eficaz ser o Internamento a ocupar-se dessas situações.”



Nos períodos de férias ou de ausência de alguns dos profissionais que fazem parte da equipa da Clínica, o coordenador socorre-se do apoio de um enfermeiro ou de um assistente operacional do Internamento de um dos vários serviços do Departamento Cirúrgico.

Com praticamente dois anos de funcionamento, a Clínica APIC já deu provas mais do que suficientes de que “valeu a pena”. Joaquim Moreira sublinha, aliás, que 15 dias depois do arranque do projeto “quem tinha dúvidas já deixara de as ter e todos concordavam com o circuito que se havia desenhado para o doente que se dirigia ao nosso hospital para ser submetido a uma cirurgia convencional programada”.

O coordenador da Clínica de Admissão Pré-Internamento Cirúrgico do CH do Tâmega e Sousa afirma desconhecer a existência de outro projeto com as mesmas características nos hospitais do SNS, com um espaço próprio e uma equipa exclusiva focada apenas nestes doentes. Mas logo garante ser “fácil de replicar, sendo adaptável às condições de cada instituição”.




A reportagem completa, que inclui entrevistas a vários outros profissionais da APIC, pode ser lida no Hospital Público de setembro/outubro.

Dirigida a profissionais de saúde e distribuída em serviços e departamentos de todos os hospitais do SNS, esta publicação da Just News tem como missão a partilha de boas práticas, de boas ideias e de projetos de excelência desenvolvidos no âmbito do SNS, facilitando a sua replicação.

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