«Cabe-nos a nós, internistas, revalorizar a Medicina Interna»

Susana Neves Marques, coordenadora do Núcleo de Estudos de Formação em Medicina Interna (NEForMI), defende a existência de um olhar integrado e colaborativo relativamente ao desinvestimento dos médicos e dos próprios internos de MI da formação nesta área. Procurando continuar a trazer à discussão temas recentes e inovadores, durante o 3.º Encontro Anual do NEForMI, realizado no final de novembro, em Fátima, os internistas debateram a temática do mundo digital.



“Hoje em dia, as tecnologias são cada vez mais inerentes à nossa atividade clínica e não clínica. Para conseguirmos acompanhar este movimento atual, é importante termos formação na área”, começa por evidenciar Susana Neves Marques, justificando assim o tema escolhido para esta reunião − A Medicina Interna no Mundo Digital.

Às Novas Tecnologias na Medicina a Comissão Organizadora aliou a Simulação em Medicina Interna, por se tratarem de “dois temas atuais e fundamentais para o desenvolvimento do trabalho do internista, atualmente”.

“A telemonitorização e a forma como a inteligência artificial, baseada em algoritmos de identificação de sintomas, pode responder e encaminhar o doente, de acordo com a melhor conduta, fornecendo a informação ao médico” foram alguns dos assuntos debatidos, assim como “a integração da IA na construção dos registos diários e no pedido dos exames complementares”. No fundo, “estas são ferramentas de auxílio à nossa atividade clínica”.

Como em todas as edições, o que se pretende é “trazer à discussão assuntos relativamente recentes e inovadores, que sejam relevantes para os internistas”.


Susana Neves Marques

"Temos de criar melhores condições para atrair os mais jovens”


É certo que a Medicina Interna continua a ser alvo de afastamento dos médicos que querem especializar-se, o que tem penalizado a especialidade.  Para Susana Neves Marques, tal cenário deve-se a vários fatores, entre os quais o facto de “esta geração ser diferente” e de “a Medicina Interna ser-lhes apresentada com uma especialidade muito sobrecarregada e pouco valorizada nos últimos tempos”.

Na realidade, “esta geração tem objetivos muito concretos, entre os quais ter qualidade de vida e conseguir distinguir bem o tempo pessoal do profissional, o que é válido. Ora, estando a Medicina Interna associada a uma grande permanência no Serviço de Urgência e à realização de muitas horas extra, em período noturno e de fim de semana, requerendo muito esforço e dedicação, todos estes fatores acabam por contribuir para a decisão de não escolherem a especialidade”.



Acontece ainda “alguns internistas serem atraídos pelas condições oferecidas por hospitais privados e até mesmo por instituições estrangeiras, pelo que existem aqui várias vertentes que exigem da Tutela uma reflexão sobre como poderemos reter os nossos médicos no SNS e em Portugal”.   

Na sua opinião, é preciso haver uma mudança e esse passo parte também dos próprios especialistas em Medicina Interna: “Cabe-nos a nós, internistas, tentar mudar este paradigma e revalorizar a Medicina Interna, através da criação de melhores condições nos serviços e nas ULS, por exemplo, a fim de atrair os mais jovens.”

Mas considera que esse trabalho não pode ser feito isoladamente, mas antes em conjunto, “envolvendo o NEForMI, o Núcleo de Internos de Medicina Interna (NIMI), a própria SPMI e o Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos na discussão deste tema”.



“Estamos a repensar e a reformular a EVERMI”

Susana Neves Marques acredita que o adiamento da 15.ª edição da Escola de Verão de Medicina Interna, prevista para 2024, para o próximo ano, “reflete, de alguma forma, um afastamento dos internos de Medicina Interna da especialidade”.

Nesse sentido, o NEForMI, enquanto núcleo responsável pela organização da EVERMI, tem procurado perceber junto do NIMI quais foram as justificações para a menor adesão que se verificou, acabando por inviabilizar a sua realização na data prevista.

O 3.º Encontro Anual do NEForMI antecedeu a Reunião dos Diretores e Oerientadores de Formação em Medicina Interna, reunião promovida pela SPMI, presidida por Luís Duarte Costa, em colaboração ccom o Colégio da Especialidade de Medicina Interna da Ordem dos Médicos, presidida por Faustino Ferreira.


Faustino Ferreira e Luís Duarte Costa 

Estando agora agendada para 11 a 14 de setembro de 2025, o NEForMI encontra-se a “repensar e reformular a EVERMI, e a preparar novas ações, de maneira a tornar o evento mais atrativo”.  De facto, sendo esta “uma geração que pode preferir os regimes e-learning ou b-learning, se calhar, temos de adaptar os conceitos ou, pelo menos, tornar o nosso conceito mais cativante. O espírito da EVERMI sempre foi o de fomentar o trabalho em equipa e elevar a Medicina Interna, e é preciso transmitir-lhes essa perspetiva”.

Esta edição contou com cerca de 40 participantes, maioritariamente especialistas em Medicina Interna, alguns dos quais orientadores de formação e diretores de serviço.


Elementos do Núcleo de Estudos de Formação com a coordenadora do Núcleo de Urgência e do Doente Agudo (NEUrgMI): Zélia Lopes, Ricardo Louro, Maria da Luz Brazão (NEUrgMI), Nuno Bernardino Vieira, António Martins Baptista, Susana Neves Marques, Narciso Oliveira e Raquel Cavaco


À frente do secretariado do NEForMI no biénio 2022-2024, este grupo de trabalho deverá recandidatar-se para o próximo mandato, cujas eleições decorrerão ainda neste mês de dezembro.

Sócia do NEForMI desde a sua fundação, em 2012, desde 2013 que é diretora do Internato Médico da atualmente designada ULS da Arrábida, vindo ao longo dos anos a ser orientadora de formação de muitos internos. Foi uma das fundadoras do Curso de Orientadores de Formação em Medicina Interna. Acumula ainda a coordenação da Unidade de Cuidados Intermédios da ULS da Arrábida, desde 2013, e integra também os atuais Órgãos Sociais da SPMI, enquanto presidente do Conselho Fiscal. 

 

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