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Algoritmos clínicos: médicos criam ferramenta «de grande utilidade na prática clínica»

Lançada oficialmente no final do ano passado, a plataforma algoritMD está a suscitar um "feedback muito positivo" de médicos internos e especialistas. O projeto resulta de um esforço de meia dúzia de internos de Medicina Geral e Familiar (MGF), explica Filipe Cerca, editor principal do algoritMD.

"Tivemos a oportunidade de apresentar o projeto na sessão de encerramento do 25.º Encontro do Internato de MGF da Zona Norte, tendo estabelecido esta data como o arranque oficial da plataforma", afirma o médico interno na USF Valbom. Contudo, anteriormente, "tínhamos já apresentado a plataforma nas nossas USF e respetivos ACES."

Em declarações à Just News, Filipe Cerca indica que a ideia surgiu no início de janeiro 2018 "durante o período de estudo para o exame intercalar do Internato de MGF. O primeiro mês do projeto foi de aprendizagem, "dedicado a perceber a melhor forma de transpor algoritmos para uma plataforma online. A construção dos algoritmos iniciou-se em fevereiro de 2018".



Mas em que consiste o projeto? Raquel Lisboa, médica interna da USF Monte Crasto, afirma que se trata de "uma plataforma de algoritmos clínicos, que tem como objetivo complementar e auxiliar a tomada de decisão na prática clínica, através de um acesso rápido e prático a temáticas frequentemente presentes no dia a dia do médico de família". E faz a ressalva: "Não tem, no entanto, o objetivo de substituir o raciocínio clínico nem a necessidade de individualização de cuidados."

As principais motivações da equipa para lançar o AlgoritMD "foram a possibilidade de sistematizar/resumir informação baseada em orientações da DGS, de sociedades médicas reconhecidas e de literatura científica indexada". Na sua opinião, além de ser uma "excelente oportunidade" de estudo e revisão, pode funcionar ainda como "uma ferramenta prática de auxílio à orientação diagnóstica e terapêutica na consulta".


Os seis editores e fundadores do algoritMD: Filipe Cerca, Elvira Teles Sampaio, Joana Rita Mendes, Rita Aguiar, Raquel Lisboa e Manuela Araújo

"Rapidamente é possível esclarecer uma dúvida"

Também Rita Aguiar, médica interna da USF Bom Porto, partilha a ideia de que "esta é uma ferramenta que apresenta uma grande utilidade na prática clínica", destacando a sua funcionalidade. "O facto do acesso ser muito simples permite que possa facilmente ser utilizada durante a consulta, bastando aceder ao site ou à aplicação. Deste modo, rapidamente é possível esclarecer uma dúvida ou rever qual a abordagem de um determinado problema."

E dá um exemplo de como é prática a consulta: "Na abordagem da patologia nodular da tiróide é importante ter em consideração as caraterísticas do utente e do nódulo, já que algumas indicam a necessidade de prosseguir a investigação diagnóstica. Dado que essa informação se encontra organizada de forma muito clara e sistematizada no respetivo algoritmo, frequentemente recorro a esta ferramenta para rever qual é a melhor abordagem a seguir para a pessoa em particular que tenho comigo na consulta."

Refere-se ainda a outras situações, "como quando necessito medicar um utente com corticóide tópico". Nessas alturas "utilizo a tabela onde se encontra a listagem dos corticóides tópicos disponíveis no mercado (princípio ativo, nome comercial e respetivas formas galénicas), organizados por potências".


A informação no algoritMD está organizada em mais de duas dezenas de áreas

"Dar resposta às necessidades sentidas pelos colegas"

De acordo com outra das editoras do projeto, Elvira Teles Sampaio, "têm surgido recentemente, a nível nacional, algumas plataformas e aplicações que visam auxiliar a prática dos profissionais de saúde em diferentes vertentes".

Contudo, reconhece que, "em relação à sistematização de informação clínica sob a forma de algoritmos para rápida consulta online, não temos conhecimento de nenhuma ferramenta previamente existente". Foi, aliás, esse um dos motivos que levou a equipa a decidir trabalhar na sua criação, "de forma a auxiliar o estudo e o processo de tomada de decisão em contexto de consulta". 

Questionada sobre o feedback que têm recebido, é com satisfação que afirma: "Tem sido muito positivo.Temos recebido inúmeras mensagens a felicitar pela concretização deste projeto e a salientar a sua relevância". A médica interna da USF Serpa Pinto reconhece mesmo que "este retorno acaba por ser muito importante para nós, pois motiva-nos a continuar a desenvolver a plataforma". Um trabalho que, salienta, "tem sempre como objetivo procurar dar resposta às necessidades sentidas pelos colegas".

6 internos, 6 USF e 3 ACES: "aumentar a abrangência da plataforma"

Não será por acaso que os seis editores da plataforma são todos de diferentes unidades e de três Agrupamentos de Centros de Saúde (ACES). A formação da equipa "surgiu de forma sequencial", explica Filipe Cerca. O editor principal do algoritMD recorda o processo:

"Em maio de 2018 a Raquel iniciou a colaboração na plataforma permitindo estabelecer um processo de validação de algoritmos previamente à sua publicação. Constatamos com este processo uma melhoria substancial da qualidade dos algoritmos. Dado o grande volume de algoritmos que a plataforma impunha, decidimos avançar com mais quatro convites para compor uma equipa de editores."

De acordo com o médico interno, "a ideia foi aumentar o número de autores e elementos de validação que pudessem contribuir para o crescimento e qualidade da plataforma. Uma vez que eu e a Raquel somos internos do ACES de Gondomar, optamos por dirigir os convites a colegas de outros ACES, com o intuito de aumentar a abrangência da plataforma. Assim, em junho 2018 iniciaram a colaboração na plataforma a Rita, a Joana, a Elvira e a Manuela."


Filipe Cerca

Filipe Cerca recorda ainda que, "durante o período de pré-divulgação à comunidade médica (antes de dezembro 2018), este grupo de internos conseguiu publicar e validar 50 algoritmos e 11 tabelas", sendo que, atualmente, "além de mantermos este processo interno de criação e validação de algoritmos, começamos também a aceitar algoritmos e/ou tabelas por autores externos."

Mais ainda: "Alargamos também a plataforma a novos elementos que queiram colaborar de forma mais ativa na criação e/ou validação de algoritmos, como é exemplo a incorporação na equipa do Gustavo Santos desde janeiro 2019."

Projeto de "maior importância" para internos de MGF

"Quer como potenciais colaboradores, quer como utilizadores, acreditamos que este projeto pode revestir-se de maior importância para os médicos internos de MGF", afirma Elvira Teles Sampaio, médica interna da USF Serpa Pinto.

Na sua opinião, o facto de se encontrarem em formação "impulsiona a necessidade de uma mais constante procura de informação científica que seja simultaneamente credível, de fácil acesso e consulta rápida e intuitiva, características que procuramos que a plataforma algoritMD tivesse. O mesmo se aplica a médicos internos de outras áreas".

E acrescenta: "Também especialistas e enfermeiros podem encontrar nesta plataforma uma ferramenta útil para a sua prática clínica diária".

"Privilegiamos a importância do trabalho em equipa"

Manuela Araújo, da USF Pró-Saúde, reforça esta mesma ideia de inclusão do projeto. Apesar da plataforma (ainda) ser maioritariamente utilizada por médicos internos e especialistas, sublinha que está aberta também a enfermeiros e estudantes de Medicina, "uma vez que privilegiamos e reconhecemos a importância do trabalho em equipa entre profissionais de saúde, motivo pelo qual consideramos relevante a partilha de conteúdos com outros grupos profissionais".



Esclarece que toda a equipa de editores do algoritMD partilha da ideia de que "uma abordagem proveniente de uma equipa multidisciplinar é uma mais-valia na prática clínica diária". Desta forma, "é promovida a inclusão das equipas de enfermagem na linha de raciocínio das equipas médicas e, ao mesmo tempo, abrimos portas a novas propostas de medidas interventivas necessárias do ponto de vista de um outro grupo profissional". 

Quanto aos estudantes de Medicina, o objetivo é que a plataforma seja "uma ferramenta útil de apoio ao estudo, uma vez que apresenta informação resumida e de fácil leitura. Acreditamos também tratar-se de uma ferramenta que favorece o raciocínio clínico do estudante de Medicina", afirma a médica interna do ACES Cavado II - Gerês/Cabreira.

Mais de 700 utilizadores registados e mais de 4000 downloads


Relativamente à implantação do projeto, que conta com o apoio institucional da Coordenação do Internato Médico de MGF da Zona Norte, Joana Rita Mendes destaca o facto de, nos primeiros 2 meses pós-divulgação da plataforma, "termos já uma abrangência nacional que se reflete em mais de 700 utilizadores registados, distribuídos entre médicos internos (68%), médicos especialistas (28%), estudantes de medicina (3%) e enfermeiros (1%)".


Utilizadores registados: 732 (dados de 31 de janeiro 2019)

Um outro dado relevante é o número de downloads de algoritmos e tabelas, "contabilizando até ao momento mais de 4000 downloads". Dados que, naturalmente, deixam toda a equipa entusiasmada: "A estatística de utilização da plataforma permite-nos inferir uma boa aceitação desta ferramenta pela comunidade médica.

Questionada quanto ao potencial ainda por explorar da plataforma, a médica interna da USF Sete Caminhos não tem dúvidas de que, com a crescente divulgação da plataforma, "o número de utilizadores não só aumentará como iremos ter mais utilizadores com perfil de autores e/ou revisores que contribuirão para o crescimento sustentado deste projeto".

A plataforma pode ser consultada em algoritmd.pt/




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