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«A Psiquiatria de Precisão é um objetivo importante»

Até sábado decorre, no Palácio de Congressos do Algarve, o XVII Congresso Nacional de Psiquiatria. Em entrevista à Just News, João Bessa, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental, esclarece o que levou a Comissão Organizadora do Congresso a construir o programa em redor do tema da Psiquiatria de Precisão.

Na sua opinião, "ao conhecermos de uma forma mais específica, em cada indivíduo, o modo como a doença se exprime e a maneira como podemos, a partir dessas medidas, individualizar o tratamento, seja a nível psicofarmacológico, psicoterapêutico ou psicossocial, caminharemos para intervenções mais humanizadas e mais próximas dos doentes".

Contudo, considera que, embora a Psiquiatria de Precisão seja "um objetivo muito importante para a comunidade clínica e científica, a verdade é que, em determinadas áreas, estamos ainda a alguma distância de conseguir fazer estas intervenções personalizadas".

E acrescenta: "Trata-se de um tema complexo e, muitas vezes, controverso, portanto, o nosso principal intuito foi trazer esta reflexão sobre aquilo que já sabemos e aquilo que vamos ter de compreender no futuro para alcançarmos esse objetivo."

João Bessa

Questionado sobre se na Psiquiatria essas intervenções personalizadas estão um pouco mais distantes do que noutras especialidades, o médico reconhece que, "na Psiquiatria, ainda temos um caminho a percorrer nesta área" e desenvolve a ideia:

"Quando queremos debater a Psiquiatria de Precisão, estamos necessariamente a olhar para o futuro, ou seja, para a aplicação na prática clínica de biomarcadores importantes no estabelecimento de um diagnóstico ou que possam ter utilidade preditiva da resposta ao tratamento. Essa aplicação não está ainda na nossa prática clínica corrente."

Contudo, faz questão de afirmar que o trabalho desenvolvido nas últimas décadas "é um esforço científico muito significativo para aproximar o conhecimento científico que é gerado, por exemplo, na área das Neurociências, recorrendo a estudos genéticos ou bioquímicos, daquilo que é a prática clínica atual".

Um congresso com novidades estruturais 


Relativamente ao programa do Congresso de Psiquiatria, João Bessa indica que, este ano, "a Comissão Organizadora entendeu que devia introduzir algumas novidades no próprio formato que permitissem uma experiência mais rica para todos os participantes, nomeadamente, promovendo a discussão e a reflexão de forma mais interativa e menos formal".

E que mudanças foram introduzidas? "Reduzimos ligeiramente o número de sessões que decorrem em simultâneo, para garantir que há uma participação mais ativa, sem perder a variedade científica em torno da temática da Psiquiatria de Precisão."

Além desse ajuste, o presidente da SPPSM salienta que "a grande novidade foi termos possibilitado não só aos sócios da SPPSM, mas a toda a comunidade clínica e científica nacional e internacional, a possibilidade de participar na escolha dos temas abordados. Nesse sentido, abrimos uma Call para simpósios, que teve um número de submissões muito interessante, excedendo até as nossas expectativas."



Quanto às temáticas propostas, foram "muito variadas e interessantes e trouxeram visões bastante diferentes e complementares sobre a temática da Psiquiatria de Precisão, desde os temas mais tradicionais, relacionados com a abordagem diagnóstica e terapêutica das patologias mais comuns, até temas éticos e deontológicos, passando por outros mais relacionados com a perspetiva da humanização de cuidados".

João Bessa destaca ainda a introdução de novos tipos de sessões, que acredita que vieram "enriquecer o Congresso". Nestes debates é "privilegiada a discussão de questões importantes da atualidade, como a iniciativa sobre substâncias psicadélicas, promovida pela SPPSM e pela Fundação Champalimaud, que contará com a participação direta de outras instituições relevantes".

Mas será também abordado o tema do "estigma e a comunidade LGBTQIA+, e no último dia abordaremos as novidades e as controvérsias relacionadas com a nova lei de Saúde Mental".

A aposta nas "próximas gerações da Psiquiatria"

Nesta edição, a SSPSM criou ainda um novo prémio que reforça a promoção da investigação, conforme explica o presidente do Congresso:

"Além de serem atribuídos prémios a comunicações livres e posters apresentados durante o Congresso, lançámos o Prémio Artigo Destaque 2022, em que pretendemos dar realce e reconhecimento à publicação de um artigo científico que se tenha destacado nesse ano."

Outra novidade prende-se com a "colaboração direta dos internos de Psiquiatria no programa". O propósito é muito claro: "Queremos que tenham uma voz ativa, nomeadamente nos momentos de interação. Acreditamos muito na riqueza do envolvimento dos colegas mais jovens em formação, apostando nas próximas gerações da Psiquiatria."
 


Foco em ter "uma voz ativa"  junto da comunidade e dos decisores 

De acordo com João Bessa, é objetivo desta Direção da SPPSM procurar ter "uma voz ativa nas questões relacionadas com Psiquiatria e Saúde Mental". A sua concretização passa não só pela intervenção em reuniões científicas, mas também pela "relação com outras instituições e a participação a nível mediático".

Assim, indica que a SPPSM começou já a desenvolver campanhas de sensibilização nas redes sociais, "que vão tocando algumas das temáticas que são relevantes, no sentido de promover a literacia em Saúde Mental e também a atualização de algumas temáticas junto dos sócios e da comunidade clínica e científica".

Por outro lado, o responsável menciona a presença que a SPPSM tem tido em outros meios e a sua importância no sentido de ter uma "voz ativa", destacando dois exemplos:

"As tomadas de posição relativamente à controvérsia dos psicadélicos, alertando para algumas das questões éticas e deontológicas num artigo de opinião para o Expresso, ou a chamada de atenção para algumas das principais dificuldades na Psiquiatria, como a escassez de recursos humanos e a falta de investimento público, em entrevista ao Hospital Público, são ações essenciais para podermos ser essa voz ativa e participar na tomada de decisão relativamente às políticas de Saúde Mental."



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