«A Obstetrícia sempre foi uma área muito exigente, para a qual nem todos estão vocacionados»
Para Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal (SPOMMF), não há qualquer dúvida: "A Obstetrícia não é particularmente sedutora para os jovens médicos".
Em declarações à Just News, o médico refere ter noção de que haverá, crescentemente, mais jovens especialistas a preferir enveredar pela Ginecologia, e adianta quais são as principais razões:
“O facto é que a Obstetrícia sempre foi uma área muito exigente, porque é preciso estar disponível para seguir uma gravidez, para realizar o parto, para responder a uma situação de emergência… e isso é algo para que nem todos estão vocacionados."
Por outro lado, "para além de também implicar um período de formação um pouco mais longo, nos dias de hoje, está sujeita a uma grande litigância.”
O presidente da SPOMMF lembra ainda "o grau de responsabilidade de quem pratica a Obstetrícia, a que não estará associada a remuneração adequada".
Nuno Clode
Uma Federação "cada vez mais importante"
As declarações à Just News de Nuno Clode surgem no seguimento do 23.º Congresso de Obstetrícia e Ginecologia. O evento, que decorreu até sábado, em Lisboa, foi organizado pela Federação das Sociedades Portuguesas de Obstetrícia e de Ginecologia (FSPOG), cujo papel tem sido "muito importante".
Além da SPOMMF, esta estrutura integra outras quatro entidades, sendo a mais recente a Associação Portuguesa de Diagnóstico Pré-Natal (APDPN), cuja inclusão "foi muito importante", sublinha o médico, e explica porquê:
“A maior parte dos obstetras não se dedica nem ao diagnóstico pré-natal, nem à avaliação fetal do ponto de vista da morfologia e da patologia. Por outro lado, os colegas mais focados no diagnóstico pré-natal estão menos próximos do puerpério e da medicina materna, pelo que, de alguma forma, a Federação acaba por promover a aproximação das duas áreas.”
E Nuno Clode faz também questão de destacar o "papel crucial" da FSPOG, considerando que a passagem dos anos não diminui em nada a relevância da Federação, antes pelo contrário.
Na sua opinião, “cada vez tem mais fundamento para existir, até porque o mundo em que vivemos está em constante mudança, nomeadamente quando pensamos em formação. O que se pede aos ginecologistas e obstetras hoje em dia não tem muito a ver com o que se passava há uns 20 ou 30 anos.”
E acrescenta: “Eu acho que a existência das sociedades científicas e, como é o caso, de uma entidade que as congregue e que fale por elas a uma única voz, não só a nível nacional como internacional, é cada vez mais importante. E, para além da Federação representar, em certa medida, uma plataforma, um espaço para as várias sociedades que a constituem se entenderem entre si e se organizarem, tenho a certeza de que alguns projetos não seriam concretizáveis de outra forma."