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«A Medicina Geral e Familiar não recebe o reconhecimento proporcional à sua importância»

Para Rui Costa, copresidente das VI Jornadas Multidisciplinares de Medicina Geral e Familiar - MGF, “a valorização profissional é determinante para atrair e manter médicos qualificados nesta especialidade”. Esta foi uma das mensagens proferidas ontem, pelo médico, durante a sessão de abertura do evento, que é "a grande referência formativa da área atualmente".

O marco formativo da Medicina Familiar contou, este ano, com uma participação recorde, contando com mais de 2400 inscritos, metade dos quais presenciais.



“A Ordem dos Médicos dá muito valor à MGF”

A sessão de abertura contou também com a participação de Carlos Cortes, bastonário da OM, Catarina Araújo, vereadora da CM do Porto, bem como Manuel Viana e Paulo Pessanha, os dois outros copresidentes.

Reagindo às palavras de Rui Costa sobre a falta de valorização da MGF, Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, frisou que “a OM dá muito valor à MGF” e disse inclusivamente considerá-la, a título pessoal, “a especialidade mais importante do SNS do Sistema de Saúde em Portugal, porque tem características únicas e diferenciadoras”.


Carlos Cortes

A primeira característica que apontou foi “a maneira como concebe a relação médico/doente”, adiantando tratar-se provavelmente da “única especialidade que tem esta proximidade com o doente, porque não se envolve só com ele, mas com todo o seu ambiente familiar e a comunidade, o que lhe confere uma capacidade única de privilegiar, valorizar, dignificar e dar uma plataforma humana à relação médico-doente”.

No discurso que proferiu, e que foi certamente subscrito por Manuel Viana e Paulo Pessanha, Rui Costa admitiu que “os médicos de MGF atuam como coordenadores da prestação de cuidados de saúde, integrando informações de diferentes especialidades e garantindo uma abordagem unificada e efetiva para o utente”.

Complementarmente, distinguiu que “o trabalho em equipa e a adequada articulação entre os diferentes níveis de prestação de cuidados de saúde, de forma a promover o custo-efetividade, a produtividade e a verdadeira integração dos cuidados de saúde, são desafios que o médico de MGF deve assumir e liderar”.

Quanto aos desafios que a MGF enfrenta, o médico referiu “a falta de recursos, tanto humanos quanto materiais e financeiros”, sugerindo que “investimento e remunerações adequados são necessários para garantir o crescimento, a eficiência e eficácia dos serviços de MGF e a satisfação de quem trabalha nesta área”.

O especialista de MGF lembrou ainda que “a constante evolução da medicina requer uma formação e atualização profissional contínua”. Nesse sentido, “garantir que os médicos estejam atualizados com as últimas práticas e avanços científicos é essencial para oferecer cuidados de saúde de elevada qualidade”.

Não excluindo o papel das novas tecnologias na medicina, defendeu que deviam ser “criadas e adotadas soluções de IA que tornem os CSP atrativos, melhorando a eficiência, tanto para os médicos, como para os doentes, e contribuir para os tão necessários e desejados cuidados de saúde de menor custo, mais eficientes e mais seguros.”


Rui Costa

“Vocês têm de saber continuar a defender a vossa especificidade”

Carlos Cortes, bastonário da OM, deixou vários elogios à especialidade de MGF. Reconhecendo o “desenvolvimento notável na área técnico-cienítifica nos últimos anos”, disse desconhecer a existência de “outra especialidade em que a formação médica esteja tão bem organizada e tão exigente do ponto de vista do seu internato médico como na MGF.”

Mas também partilhou alguma das suas preocupações, uma das quais relacionada com o futuro dos CSP no seio das ULS: “Acho que Portugal tem de desenvolver integração de cuidados de saúde, mas não defendo que tenha de ser uma fagocitose e que os CSP tenham de ser engolidos pelos hospitais”.

Nesse contexto, disse “temer muito pelo futuro da MGF e obviamente pelo acesso dos doentes, pela alta diferenciação que esta especialidade tem tido, pela sua especificidade, face ao que está a acontecer nas ULS”.

E acrescentou ainda: “Tenho as maiores reservas sobre a independência e autonomia dos CSP, absolutamente fundamental para o seu funcionamento. Receio verdadeiramente que venham a perder aquilo que conquistaram ao longo dos anos, com o desenvolvimento muito infuso e atabalhoado, sem nenhuma preparação, das ULS.”

Lembrando que “os CSP são, neste momento, o lugar de duas especialidades – MGF e Saúde Pública – em que uma não tem nada a ver com a outra”, o bastonário da OM afirmou não querer que haja “a tentação de os dirigentes políticos confundirem o médico de família, que é um médico altamente diferenciado e especializado na prestação de cuidados de saúde à comunidade”.

Para evitar essa situação, fez um pedido à audiência: “Vocês têm de saber continuar a defender a vossa especificidade.”

E alertou que essa proatividade tem de ser maior no contexto atual: “Vivemos um momento particularmente decisivo, de grande incerteza, onde teremos um novo Governo com alguma instabilidade. Saímos de uma maioria absoluta para uma maioria muito ténue e é relevante termos essa noção, porque vai colocar em cima dos médicos, da OM e das organizações que representam os médicos uma responsabilidade que não tiveram nos últimos anos. Passamos a ter um papel muito mais decisivo num momento da vida do país em que as nossas soluções, opiniões e posições vão importar mais do que alguma vez foram consideradas nestes últimos anos. Não queria que nós falhássemos e que os médicos de MGF falhassem esse desafio.”

No que respeita ao trabalho da Ordem dos Médicos, referiu estar a tentar organizar juntamente com o Colégio da Especialidade de MGF, a APMGF e a USF-AN “uma plataforma para defender as conquistas que a MGF tem conseguido alcançar nestes últimos anos e um caminho para o futuro que diferencie e valorize ainda mais a especialidade”. E convidou cada um dos participantes a abraçar a causa: “Não depende só da OM, mas de todos os MF. Cada um na sua posição e unidade tem um contributo a dar para este caminho. É este grande desafio que vos convido a abraçar.”



A necessidade de "um olhar cuidado e redobrado”

Catarina Araújo, vereadora da Câmara Municipal do Porto, também usou da palavra para salientar o papel dos CSP como “o primeiro contacto com o Sistema Nacional de Saúde, colocando os especialistas em MGF na linha da frente, em proximidade e em comunicação com a população.”

Tendo como um dos seus pelouros a Saúde e Qualidade de Vida, Juventude e Desporto, a vereadora não pôde deixar de transmitir uma mensagem de esperança: “No atual momento político em que foi já indigitado um primeiro-ministro, que a Saúde e em particular a MGF venham a ter um olhar cuidado e redobrado da atenção, do papel e do reconhecimento que lhe é merecido e devido.”

Catarina Araújo sublinhou que “o aumento da esperança média de vida, fruto dos avanços em Medicina, quer-se acompanhado de um aumento da esperança de vida com saúde, o que representa simultaneamente um ganho e um desafio, exigindo a adoção de medidas combinadas, que incluam o reconhecimento da importância do estilo de vida como uma forma de promoção da saúde e de prevenção da doença”.


Catarina Araújo

Quanto à construção e execução do Plano Municipal de Saúde, realizadas em conjunto com os CSP e as restantes entidades parceiras locais, disse estar a ser feito “um acompanhamento próximo do plano de ação, mobilizando recursos comunitários para ultrapassar constrangimentos, adequar decisões e orientar ações no sentido da melhoria constante.”

 

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