«É importante haver sempre vagas anuais de acesso à Residência Farmacêutica»

Compreende-se o entusiasmo que ainda se observa no setor com o arranque, no início deste ano, do programa de formação batizado de Residência Farmacêutica, que permite a atribuição do título de especialista em três áreas de exercício profissional – Farmácia Hospitalar, Análises Clínicas e Genética Humana – e, consequentemente, o acesso à carreira farmacêutica no Serviço Nacional de Saúde.


Apesar de se mostrar otimista, João Ribeiro, presidente do Conselho do Colégio de Especialidade em Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos,  sublinha ser importante que não se venha “a deixar de abrir nem que seja uma única vaga anual ” no âmbito do programa de Residência Farmacêutica.

Se esse dia chegar, diz, “é porque o mercado estará abastecido de profissionais”. Em 2023, foram abertas 143 vagas, 92 das quais em Farmácia Hospitalar, mais 43 em Análises Clínicas e outras 8 em Genética Humana.

"Foi um processo muito desejado"

A expectativa de João Ribeiro, presidente do Conselho do Colégio de Especialidade em Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos, é que não volte a suceder o que já se verificou no passado , com o lançamento, há algumas décadas, do designado Internato Farmacêutico.

Depois do primeiro Internato Farmacêutico, criado por decreto-lei em fevereiro de 1962, depois dos farmacêuticos terem integrado a grande amálgama dos técnicos superiores de Saúde e três anos após a publicação em Diário da República da legislação que formalizou a existência da Residência Farmacêutica (fevereiro de 2020), os primeiros residentes começaram o seu estágio, que se prolonga por 4 anos. A gestão e a coordenação de todo o programa estão a cargo da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS).

E será que as farmácias hospitalares e os seus responsáveis estavam disponíveis para receber estes residentes? “Embora tivéssemos alguns receios, por estarmos numa fase de bastante desalento, foi um processo muito desejado, havendo que contar também com o empenho profissional de todos e a esperança de que as coisas poderão melhorar um pouco, embora com uma grande dose de esforço.”

Aliás, João Ribeiro faz questão de sublinhar que as poucas instituições que não foram contempladas com a atribuição de vagas para residentes farmacêuticos até tinham capacidade formativa, mas não lhes foi reconhecido terem a indispensável idoneidade para tal.

João Ribeiro: "Somos poucos e estamos muito sobrecarregados com processos logísticos"

O presidente do Conselho do Colégio de Especialidade em Farmácia Hospitalar da Ordem dos Farmacêuticos está confiante de que o número de vagas que serão abertas em 2024 para “alimentar” a especialidade que representa não venha a ser muito diferente do registado este ano.

“Não há problema algum se daqui a dez anos abrirem menos vagas para residentes farmacêuticos, pelo facto de não serem necessárias tantas, e não por imposição orçamental, digamos assim. Será sinal de que o mercado está abastecido de profissionais, embora haja que contar sempre com os que vão saindo, por aposentação ou algum motivo particular. Mas o importante é que a cadência anual se mantenha e que, no limite, não deixe de abrir nem que seja uma única vaga!”, considera João Ribeiro, acrescentando:

“Se o programa de Residência Farmacêutica correr bem, como nós esperamos, até acabará por deixar de ser necessário a Ordem continuar a disponibilizar o exame para obtenção do título de especialista em Farmácia Hospitalar, assumindo que os hospitais da rede privada também só contratarão especialistas.”

A questão que neste momento se coloca prende-se com o facto de o Ministério da Saúde ter deixado de reconhecer, com o arranque do programa de Residência Farmacêutica, o título atribuído pela Ordem dos Farmacêuticos, sendo uma certeza que os primeiros residentes só verão o seu processo de formação concluído no início de 2027.

“Estamos em negociações com a Tutela no sentido de resolver esta situação, que poderá passar pelo reconhecimento oficial do exame da OF por, no mínimo, mais 4 anos. Precisamos urgentemente de mais farmacêuticos hospitalares nas instituições do SNS e não é legítimo que se desvalorize a carreira farmacêutica contratando colegas nossos sem experiência como técnicos superiores de saúde”, reclama João Ribeiro.


“Um profissional transversal a todo o hospital”


“Eu penso que tem havido algum progresso nos últimos anos, mas o farmacêutico hospitalar, que é um profissional transversal a todo o hospital, continua a ver a sua atividade não sendo valorizada como devia ser", refere João Ribeiro.

E acrescenta: "Somos poucos e estamos muito sobrecarregados com processos logísticos, verdadeiramente presos às rotinas da Farmácia. Nós fazemos parte do SNS e vivemos os mesmos dramas dos outros profissionais, por vezes, até de uma forma mais gravosa."

“Não falando agora propriamente enquanto membro da OF, por não ser matéria da competência da Ordem, não posso deixar de lembrar que a tabela salarial dos farmacêuticos não é revista desde 1999, surgindo, portanto, de fora do SNS ofertas de emprego mais atraentes. O know-how de um farmacêutico hospitalar pode ser bastante importante para uma empresa da área dos ensaios clínicos, por exemplo”, afirma João Ribeiro.

E mais: “Eu espero que a Residência Farmacêutica venha inverter um pouco essa cadência de saídas para fora do SNS, não propriamente pela remuneração em si – nada atrativa! –, mas pelo percurso profissional, que fixa gente!”



A entrevista completa pode ser lida na última edição do Hospital Público.
Distribuída nos hospitais públicos e outras entidades de saúde, esta publicação da Just News tem como missão valorizar o SNS e dar a conhecer a profissionais de saúde e decisores da área um conjunto de boas práticas e de projetos de excelência que existem no país.

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