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Opinião

«Patient reported outcomes, porque lhes damos todos tanta importância?»


Sofia Pinheiro

Assistente graduada Medicina Interna. Responsável pela Unidade de Doenças Autoimunes do CHULC. Coordenadora da Unidade de Medicina 2.3 do CHULC



O tema “Patient Related Outcomes” (PRO) não é de todo novo, reportando-se à criação das primeiras escalas deste tipo, sistematizadas tal como as concebemos na atualidade, há quase 100 anos e tendo sido proposta, em 1949, pela Associação Americana do Reumatismo, a aplicação de uma escala funcional, desenvolvida por Steinbrocker, aos doentes com artrite reumatoide como medida de avaliação da atividade da doença.

Esta, apesar de ser uma ferramenta do profissional, e não do doente, como deve ser um PRO, já permitia e, aliás, enfatizava a importância da perceção do doente quanto ao seu estado de saúde, pois, era o próprio doente que classificava a sua capacidade funcional em uma de 4 categorias: capacidade funcional completa, capacidade funcional adequada para o desempenho da atividade normal, capacidade funcional adequada apenas para escassas atividades e, finalmente, a ausência de capacidade funcional para o desempenho de tarefas de vida diária.

O que é “novo” e atual é o papel central que damos hoje ao DOENTE, aliás, que damos a cada um dos nossos doentes, como é evidente, se pensarmos no crescendo da Medicina personalizada e feita à medida em todas as suas vertentes.

Na minha opinião, caminhamos no sentido certo, já que não será possível fazer uma Medicina verdadeiramente Holística e eficaz se nos centrarmos naquilo que NÓS consideramos ideal para o indivíduo a quem estamos a prestar cuidados, MAS APENAS se considerarmos e, talvez mesmo, se privilegiarmos o que é ou são os desejos do doente para ele próprio.

É neste conceito que assentam, então, os PRO, como uma das ferramentas que contribui para a construção das escalas de medida do estado de saúde de quem tratamos. Escalas estas tão importantes, pois, são elas que nos permitem dar objetividade e reprodutibilidade às nossas avaliações clínicas.


Sofia Pinheiro

A história e evolução do contributo dos doentes para estas ferramentas não estagnou em meados do século XX. Antes cresceu e se desenvolveu, e em todas as áreas médicas.
Ainda assim, apesar de proposto em 1949, pela primeira vez, algo semelhante a um PRO na área da Reumatologia, apenas em 1980 foi publicada, pela primeira, a descrição de 2 ferramentas de medida: o Health assessement questionnaire – disability index (HAQ-DI) e o Arthritis Impact Measurement Scale (AIMS).

A partir dessa época, no entanto, o crescimento foi exponencial e em 2011 esta área contava com cerca de 250 ferramentas em 4 domínios, com contributos dos doentes.

Tal crescimento explica-se pela enorme importância destas formas de avaliação na patologia crónica, já que neste caso o impacto da doença no indivíduo faz-se sentir em múltiplos domínios e torna-se, assim, fundamental abordar sintomas físicos, mas também mentais, sociais e mesmo económicos tais como a capacidade funcional e de trabalho, a dor, a fadiga, o sono, a interação social e tantos mais.

E justifica-se, julgo eu, pois, ao pedirmos aos nossos doentes que nos digam como se sentem, como sentem a doença e como sentem o tratamento, estamos a permitir que nos mostrem o caminho que querem seguir, o qual nem sempre é aquele que considerámos para eles.


Bibliografia:
1. Steinbrocker O, Traeger CH, Batterman RC. Therapeutic criteria in rheumatoid arthritis. J Am Med Assoc 1949;140(8):659–62.
2. Liang MH, Jette AM. Measuring functional ability in chronic arthritis: a critical review. Arthritis Rheum 1981;24(1):80–6.
3. Ware JE Jr. Scales for measuring general health perceptions. Health Serv Res 1976;11(4):396–415.
4. American College of Rheumatology/European League Against Rheumatism Provisional Definition of Remission in Rheumatoid Arthritis for Clinical Trials. David T Felson. Ann Rheum Dis 2011;70:404–413. doi:10.1136/ard.2011.149765.

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